domingo, 23 de junho de 2024

REPASSANDO O ENSINO PARA A PRÓXIMA GERAÇÃO




A árvore, quando já velha, resiste fortemente ao vento, precisamente por ter sido bem enraizada quando era jovem
.[1]

Para nossos filhos resistirem aos ventos fortes que buscam desestabilizá-los, eles devem criar raízes fortes no ensino cristão. É necessário ensinar as gerações mais novas.  O profeta e cantor Asafe escreveu sobre isso na estrofe introdutória do salmo 78 (Sl 78.1-8).

A geração mais velha, especialmente os pais, tinha a responsabilidade de repassar o ensino para os filhos e para as gerações mais novas (Sl 78.5).  Deus já havia ordenado que deveria ser assim (Dt 6.4-9; 11.18-21; 29.29). Estas mesmas ordens são repetidas para os pais cristãos (Ef 6.4; Tt 2.1-15). Quando os de mais experiência abdicam do seu dever de passar os ensinos para os mais novos, o bastão da fé cai por terra, uma geração que não conhece o SENHOR se levanta e abandona os mandamentos de Deus, e o resultado é catastrófico para o povo de Deus, como ocorreu na época dos juízes (Jz 2.10,11).

O conteúdo deste ensino deve ser o relato do que Deus tem feito, os mandamentos que Ele estabeleceu e deixou registrado para Seu povo (Sl 78.4,5). Os feitos de Deus devem ser repassados aos nossos filhos. No caso do povo de Israel, esses feitos incluíam a redenção realizada, resgatando o povo do Egito e a doação da lei. No nosso caso, é a redenção realizada pelo Senhor Jesus Cristo, o evangelho de Deus que anuncia a solução para o pecado humano e a salvação conquistada na cruz. 

Para ensinar é preciso saber. Por isso o salmista convoca sua geração para ouvir o que ele vai ensinar. Relembra que Deus estabeleceu ensinos para o seu povo com ordens que estes ensinos fossem repassados (Sl 78.1,3). Alguns pais falham em repassar os ensinos, simplesmente porque não se preocupam em aprender. Estão ocupados demais com outros afazeres e não investiram tempo em cultivar um aprendizado das Escrituras. Portanto, não têm o que ensinar.

Este ensino deve ser feito de modo atraente, criativo e inteligente (Sl 78.2). O salmista fala que falará por parábolas e enigmas, que eram o uso de linguagem figurada, que fazia comparações para ensinar o desconhecido a partir daquilo que já era conhecido, e que estimulava o raciocínio, levando o aluno a pensar para poder aprender.

O propósito do ensino era prático. Era para ser experimentado na vida (Sl 78.7,8). Visava a cultivar uma vida de confiança em Deus, reconhecendo que a esperança desta vida deve ser depositada em Deus, que não há nada mais em que possamos esperar ou confiar. Visava, ainda a que obedecessem aos mandamentos de Deus, ficando livres da teimosia e rebeldia de um coração instável, inseguro e infiel.  E que eles também soubessem da responsabilidade de continuar repassando estes ensinos para as novas gerações (Sl 78.6).

Nosso desejo é que nossos filhos resistam aos ventos que tentam desestabilizá-los da fé. Para isso, eles devem criar raízes fortes enquanto estão crescendo. Então vamos aprender o que Deus deixou registrado na Sua palavra, para que sejamos capazes de repassar a eles, de forma atraente, criativa e inteligente e, assim, eles possam desenvolver uma fé e uma obediência enraizadas na Palavra de Deus. 

[1] Charles H. Spurgeon, O Tesouro de Davi, trans. Elisa Tisserant de Castro, 1.a edição. (Curitiba, PR: Publicações Pão Diário, 2018), 329.

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

RENOVANDO O ÂNIMO PARA ENFRENTAR MAIS UM ANO QUE SE INICIA – 2ª PARTE


 
Há pessoas que “desistem da vida muito antes que seu coração pare de bater — estão acabadas, esgotadas, despedaçadas, mas ainda assim acordam todas as manhãs e arrastam as pernas cansadas por mais um dia. Talvez esperem por uma mudança - ou mesmo um milagre -, mas os sonhos fugidios e os anos perdidos lhes pesam nas costas. É o único casaco que sabem usar. Acostumaram-se.”[1]


            Creio que a citação acima descreveria a vida de alguns dos exilados de Israel. Desprezados, oprimidos, pobres, necessitados, sedentos, roubados, saqueados, aprisionados, cegos e surdos para o que Deus dizia e fazia, sentindo-se esquecidos e abandonados por Deus (Is 40.27; 41.14,17; 42.18-20,22; 49.14). Em nossos dias também há pessoas assim. Pessoas que se sentem na margem de um rio, em que, de um lado há a necessidade, do outro, o medo; e além do seu alcance: a esperança.[2] 

Qual seria a ponte para aquelas pessoas alcançarem a esperança e terem suas forças renovadas? A resposta é o conhecimento de Deus, conforme revelado em Sua Palavra. Conhecer a Deus é o modo como deve o povo de Deus reagir quando se encontra numa situação difícil que não compreende.[3] 

Deus revelou-se aos exilados para lhes renovar o ânimo, através do profeta Isaías (Is 40.12-31). Após uma belíssima descrição de Deus, o profeta repete nos últimos quatro versos palavras que tratam do cansaço e da exaustão, e assim contrasta Deus com as forças do mundo. Deus não se cansa, nem fica exaurido. Ele fortalece os cansados e sem vigor. Os fortes deste mundo se cansam e ficam exauridos. Mas os que esperam no SENHOR não se cansam nem ficam exauridos. Deus é o incansável que revigora os cansados e desanimados. 

Este é o ponto alto da mensagem do profeta, o qual oferece uma palavra de conforto e encorajamento, sugerindo que é possível suportar as provações através da ajuda de Deus, a qual está disponível para os seus. Deus é "aquele que dá” força extra para que os cansados não se cansem ou enfraqueçam durante esse período de dificuldades. Deus não está ausente, indisponível ou indisposto a ajudar.[4] Ele cuida dos cansados e impotentes. Deus nunca tem falta de nada, mas sempre está pronto para ajudar aqueles que sofrem falta. Sua força é inesgotável e suficiente para socorrer os que dependem d’Ele. 

Todo poder humano é limitado.  Mesmo os humanos mais vigorosos são mortais e falíveis. Têm suas limitações físicas. Não precisamos temê-los, quando temos outra fonte para suprir nossas vidas. Mas, se não tivermos nenhuma relação com a fonte transcendente, então estas palavras trazem consigo o calafrio do túmulo. Esperar em Deus não é simplesmente deixar o tempo passar, mas viver com expectativa confiante.[5]       

Esperar em Deus implica a existência de um laço espiritual que permite que as pessoas admitam a sua própria impotência e entreguem o seu bem-estar completamente nas mãos do seu forte poder. Este ato de confiança permitirá a Deus substituir a fraqueza humana pelas poderosas asas metafóricas de uma águia. A confiança permite que as pessoas percorram o caminho que Deus escolheu para as suas vidas (quer seja agradável ou desagradável) sem se cansarem ou quererem desistir. [6] 

É uma dependência ativa que espera com perseverança concentrada, desistindo de seus próprios esforços, mas não de abandonar sua confiança em Deus. Essas pessoas devem viver pela fé, pois só assim podem permanecer de pé, conforme já havia sido dito em Is 7:9. Elas confiam nos meios, métodos e tempo do SENHOR e não ficarão desapontadas.[7] Por isso, antecipam os resultados positivos prometidos por Deus, continuando avançando, acima das circunstâncias. Tais pessoas trocam sua fraqueza pela força de Deus, seu cansaço pelo vigor de Deus, seu desânimo pelo ânimo em Deus, sua desesperança pela esperança em Deus 

São semelhantes às águias, capazes de voar alto, levando e cuidando de seus filhotes com segurança, protegidos diante do perigo (Ex 19.4; Dt 32.11; Jr 49.16; Ob 4). Que agem de modo impetuoso, rápido e forte (Dt 28.49; 2Sm 1.23; Jó 9.26; Jr 4.13; Hc 1.8). Sua força é renovada como a da juventude (Sl 103.5). Longe de serem esmagados na terra por sua própria impotência, os que dependem de Deus podem estender as asas sem qualquer esforço, como fazem as águias, e planar sobre o vento.[8] Como corredores de uma maratona, continuam na corrida mesmo cansados, pois sabem e esperam que Deus os fortaleça.   

O profeta mostra que Devido à sabedoria e ao poder soberano de Deus, o povo de Judá devia compreender que Ele conhecia os seus problemas, preocupava-se profundamente com eles e continuaria a apoiá-los. Aqueles que confiavam em sua própria força física falhariam, mas aqueles que confiavam em Deus teriam suas forças renovadas por Ele para que pudessem ‘voar com asas como águias’. [9]

O que espera em Deus sabe que reclamar dos problemas atuais não os fará desaparecer. A solução é reconhecer que tudo o que acontece faz parte do plano soberano de Deus e que Deus dá livre e abundantemente uma porção de sua força àqueles que precisam dela em tempos difíceis. É na fraqueza humana que se manifesta o seu poder e a sua glória.[10] Pois Deus é capaz de dissipar as nuvens da incerteza, fraqueza e desorientação do seu povo. Ele graciosamente faz disponível sua vitalidade ao combalido na terra.[11] 

Esperar em Deus implica conhecer Deus, conforme Ele se revelou em Sua Palavra. Reconhecer que Ele é o Deus sábio e criador todo-poderoso dos céus e da terra, que sua sabedoria e o seu controle soberano são ilimitados e ultrapassam em muito a compreensão do homem. Se Deus pode marcar as distâncias nos céus com as suas mãos, pode medir a água dos oceanos na palma da sua mão e pode chamar todas as estrelas pelo nome, Ele pode fazer qualquer coisa que decida realizar. O seu poder é insondável; a sua influência é ilimitada; a sua sabedoria não tem limites. Isto significa que cada pessoa pode saber com certeza que Deus é capaz de controlar todos os aspectos deste mundo. Ainda hoje, a esperança assenta-se numa base sólida do que Deus fez no passado; por isso, confiar em Deus para o futuro faz sentido. Quando surgem provações e dúvidas, o povo de Deus deve voltar ao fundamento da sua fé, o caráter de Deus que é revelado nas Escrituras. Ela retrata um grande Deus que é digno de confiança.[12]

Diante dos acontecimentos que escapam ao nosso controle e nos fazem cansar e cair, devemos lembrar de quem Deus é. Isto renova nossas forças e concede energia para continuar confiantes esperando em Deus.



[1] Hofman, Beth, Procure por mim, (Trad. Claudia Guimarães, Angela Pessoa); RJ; Rhada Brasil Edições e Serviços, 2021. Pg. 227.   

[2] Martin, Charles, O que não está escrito, (Trad.Carlos Alves); RJ; Reader's Digest, 2014, pg. 475

[3] Smith, Gary, Isaías 40-66, vol. 15B, The New American Commentary (Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers, 2009), 121.

[4] Smith, Gary, 2014, pg. 122

[5]  Oswalt, John, (2011), 104.

[6] Smith, Gary (2009), 122.

[7] Paul R. House, Isaiah: A Mentor Commentary, vol. 2, Mentor Commentary (Ross-shire, Grã-Bretanha: Mentor, 2018), 289.

[8] Oswalt, John (2011), 105.

[9] Charles Dyer et al., Nelson's Old Testament Survey: Discover the Background, Theology and Meaning of Every Book in the Old Testament (Nashville, TN: Word, 2001), 564.

[10] Smith, Gary (2009), 122.

[11] Oswalt, John (2011), 104.

[12] Smith, Gary (2009), 123.

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

RENOVANDO O ÂNIMO PARA ENFRENTAR MAIS UM ANO QUE SE INICIA - 1ª Parte






Eles estavam desanimados, frustrados e sem esperança. Sentiam-se vulneráveis diante dos poderes que dominavam o mundo. Eram exilados cativos, vivendo sob o domínio do maior império de sua época, trabalhando nos extensos e numerosos canais dos rios da Babilônia. Diante disso, indagavam se Deus ainda se importava com eles. 
 

O domínio babilônico tinha causado um impacto devastador em suas vidas. A Babilônia já os havia dominado em duas campanhas. (2Rs 24.1-17). A terceira cercou a cidade por dois anos. Podemos imaginar o estado de medo e privação que seus habitantes enfrentaram. Quando a resistência acabou, os muros foram rompidos e a cidade invadida (2Rs 25.1-22).  Com a invasão, vieram os assassinatos, os estupros, a destruição das propriedades, a perda das instituições públicas que sustentavam a vida em comunidade, enfim, o caos. Criando uma situação de extrema privação, desorientação entorpecimento e anarquia. 

Calcula-se que mais da metade da população de Jerusalém foi levada cativa, morreu ou fugiu durante o cerco[1]. O país foi destruído, a capital arrasada e, aquilo que mais prezavam, o templo, que era o sinal da presença de Deus entre eles, foi demolido e queimado. O rei, que era o ungido do SENHOR, e os sacerdotes, que deveriam funcionar como os representantes de Deus no meio deles, foram aprisionados e tornados cativos também. Parecia o fim definitivo da dinastia davídica e a falha das promessas que Deus havia feito. Todas as suas esperanças foram transformadas em cinzas com tudo de valor que havia em sua amada cidade.

 Além disso, ficaram os terríveis efeitos psicológicos sobre os familiares sobreviventes: a perda de entes queridos, a violência que testemunharam e que se agarrava em suas memórias, as agonias da deportação e migração forçadas e a insegurança quanto ao futuro em uma terra estranha. Com tal peso sobre os ombros, andavam curvados sob o desânimo e a desesperança. Dominados pela apatia, se perguntavam se Deus os havia rejeitado para sempre. Outros sentiam-se tentados a apostatar, escolhendo adorar as divindades de seus poderosos oponentes. 

Onde encontrar ânimo para perseverar numa situação assim? Na Palavra de Deus. Antes que tudo isso ocorresse, o profeta Isaías havia anunciado o conforto de Deus e receitado o remédio para esta situação: relembrar quem Deus era. No conhecimento de Deus, encontrariam ânimo e teriam suas forças renovadas (Is 40.12-31). 

No belíssimo texto escrito em linguagem poética e cheio de perguntas retóricas que visavam persuadir e mudar o ânimo do povo, Isaías os lembra de que seu Deus era incomparável e imensamente grande, a ponto de conter na Sua mão toda a água do mundo, medir a extensão dos céus a palmos e pesar toda a terra em uma medida. Ele também era autossuficiente, nunca dependeu de nada nem de ninguém e soberano, pois os poderes deste mundo eram como pingos que caem de um balde puxado num poço, ou como a poeira que fica numa balança, depois de pesado o cereal. 

Diferente dos ídolos, que dependiam da iniciativa, da perícia e de entendimentos humanos para terem alguma estabilidade, Deus estava assentado no Seu trono, contemplando todos e não sendo ameaçado por ninguém. Diante d’Ele, os poderes desde mundo são como ervas do campo: nascem, crescem e desaparecem rapidamente. Ele, por ser grande em força e poder, é o Criador e Sustentador de tudo, sabe com exatidão o número e nome de cada estrela, cuida de todas elas a ponto de nenhuma delas faltar. 

Diante de um Deus assim, como pensar que Ele havia se esquecido ou abandonado o Seu povo? Que Ele não mais se importava? Que não estava interessado na sua vida? Se Ele era capaz de cuidar das estrelas e controlar os poderes do mundo, como não cuidaria e se importaria com Seu povo? Por que se deixar dominar pelo sentimento de abandono, solidão, desprezo e desesperança? 

Considerar-se abandonado e esquecido por Deus demonstrava não ter compreendido quem, de fato, é o Deus das Escrituras. Será que você não sabe? Ou não ouviu? Que o Deus Eterno, o SENHOR, Criador dos limites da terra não se cansa e nem se fatiga? Que seu entendimento não tem limite? (Is 40.29). 

Ele é o Eterno, sem princípio e sem fim, portanto nada no passado ou no futuro está fora de seu conhecimento. É o Criador de toda a terra, por conseguinte, não há nação ou grupo de pessoas fora de Seu conhecimento ou controle. O Seu poder para administrar os assuntos de milhares de estrelas nos céus e de milhões de pessoas na terra nunca o fatiga ou o enfraquece por exaustão. Sua sabedoria é ilimitada, por isso não há pontas soltas ou circunstâncias incontroladas do destino que ultrapassem Sua soberania.  Deus está envolvido com cada período de tempo, cada espaço do universo, cada pormenor da vida e sua total compreensão do que aconteceu, acontece ou acontecerá em todo o céu e terra.[2] 

O Criador dos limites é ilimitado. O Seu poder é inesgotável. O Seu conhecimento insondável. Ele pode fazer o que quiser e quando quiser. Sua demora não pode ser considerada como incapacidade, impotência ou ignorância. Nós não sabemos tudo d’Ele e de Seus planos, mas Ele conhece tudo sobre nós. 

Porque Ele é o 'Deus eterno', não há maneira de a Sua força ter diminuído. Ele 'não se cansa'. Nem perdeu a sabedoria necessária para lidar com as necessidades do Seu povo.[3]

O Deus que sustenta as estrelas também sustenta seu povo.[4]

Nada esteve ou estará escondido de Deus, nenhuma questão de justiça foi ou será negligenciada por Deus. As provações e tempos difíceis que o povo de Deus passa não são causadas por Sua falta de poder ou cuidado. Os tempos difíceis surgem porque as pessoas estão fracas ou cansadas, porque pecaram ou porque não compreendem alguma parte dos planos de Deus. Podemos ficar confusos porque o modo e o tempo de Deus não são os nossos, mas jamais devemos pensar que nossas dificuldades são por causa de Sua fraqueza, negligência, injustiça ou incompreensão.[5]  

Conhecer a Deus, relembrar Seu poder, Sua soberania, Sua sabedoria e Seu amor é o que precisamos para enfrentar mais um ano com ânimo renovado. 



[1] Kim , Hyun Chul Paul, Reading Isaiah: A Literary and Theological Commentary, Reading the Old Testament Series (Macon, GA: Smyth & Helwys Publishing, Incorporated, 2016), 8–9.

[2] Smith, Gary, Isaías 40-66, vol. 15B, The New American Commentary (Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers, 2009), 121

[3] House, Paul R., Isaiah: A Mentor Commentary, vol. 2, Mentor Commentary (Ross-shire, Grã-Bretanha: Mentor, 2018), 287-288.

[4] Grogan, Geoffrey W., “Isaiah”, in The Expositor’s Bible Commentary: Isaiah, Jeremiah, Lamentations, Ezekiel, ed. Frank E. Gaebelein, vol. 6 (Grand Rapids, MI: Zondervan Publishing House, 1986), 246.

[5] Smith, Gary, (2009), 122.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

NATAL: UM COMPARTILHAR DE ALEGRIAS

A alegria compartilhada se multiplica. 

A tristeza se expande ao ser ocultada; 

a alegria, ao ser repartida”.[1]



Em um dos relatos que Lucas fez a respeito do nascimento de Jesus temos uma demonstração da verdade expressa acima (Lc 1.39-45). Esse texto narra a visita de Maria a Isabel, ocorrida após o anjo Gabriel anunciar que Maria seria a mãe de Jesus. 

Maria morava em Nazaré, uma pequena cidade não mencionada no Antigo Testamento, vista com certo desdém por alguns (Jo 1.46). Aquela cidade ficava na Galiléia, uma região habitada por gentios e, por isso, desprezada pelos judeus mais religiosos[2]. Maria era virgem. Isso foi destacado duas vezes no mesmo versículo e reafirmado pela própria Maria (Lc 1.27,34). Ela já estava desposada, isto é, já havia sido prometida solenemente em casamento na presença de testemunhas, embora a festa de núpcias ainda não tivesse sido celebrada e o ato conjugal ainda não consumado[3]. Seria algo semelhante ao nosso noivado, mas naquela cultura “O noivado era considerado um contrato bem mais obrigatório que o de hoje. Aliás, só podia ser desmanchado por um decreto legal semelhante ao divórcio.[4] José, seu noivo era da dinastia real, descendente de Davi, a quem foi prometido um herdeiro que reinaria para sempre no trono de Israel (1Sm 7.8-16). 

A mensagem que o anjo trouxe a Maria foi: Alegre-se agraciada, o Senhor está com você. A expressão original não é cheia de graça, mas que ela havia recebido muita graça. Por estar na voz passiva, mostra que ela recebeu favor. Com essa construção na voz passiva, o texto indica que ela não é a fonte da graça, mas o destino dela. Isto é, foi muito favorecida por Deus.  Este favorecimento manifestou-se através da presença de Deus em sua vida e deveria provocar alegria (Lc 1.28). 

            A moça ficou perturbada, um tanto confusa sobre o significado daquela mensagem. O anjo a acalmou e explicou a palavra da parte de Deus (Lc 1.29-33). As palavras: Você ficará grávida e dará à luz um filho, a quem chamará pelo nome de Jesus, nos fazem lembrar a profecia registrada em Isaías 7.14: vejam, a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel. Os nomes dados são diferentes, mas expressam a mesma verdade. Emanuel, significa “Deus conosco”, Jesus, “o SENHOR salva” (Mt 1.21).

             Esse filho anunciado seria grande, apesar do início humilde. Ele seria chamado de Filho do Altíssimo, herdaria o reinado que havia sido prometido à dinastia davídica e reinaria eternamente sobre o povo de Israel. 

            Como era virgem, Maria não entende como isso se daria. O anjo explica que o filho seria gerado pelo Espírito Santo, o qual a envolveria com o poder do Altíssimo, de modo que ele seria Filho de Deus. Para garantir aquela palavra, o anjo apresentou-lhe um sinal. Isabel, a parenta de Maria, estava grávida de seis meses, apesar de ser estéril e de idade avançada. Concluindo que para Deus nada é impossível (Lc 1.34-37). 

            A resposta de Maria manifesta uma sincera rendição à vontade de Deus, com fé e obediência corajosas (Lc 1.38).   "Se refletirmos por um instante, perceberemos que tornar-se a mãe do Senhor por esse método desconhecido e misterioso não era uma questão insignificante. Em longo prazo, traria consigo grande honra; todavia, na ocasião, representava um risco enorme para a reputação de Maria e uma grande prova para sua fé. Ela estava disposta a enfrentar todo esse risco e toda essa provação! Não fez nenhuma outra pergunta. Não levantou qualquer objeção. Aceitou a honra que lhe foi conferida, tanto quanto os perigos e as inconveniências que a acompanhavam. “Aqui está a serva do Senhor”, diz ela."[5]

            Então, rapidamente preparou-se para uma viagem de mais de cento e trinta quilômetros para visitar Isabel. Por que a visita? Creio que uma das respostas seria o anseio por comunhão, por compartilhar a suprema benção com outra pessoa que a compreendesse. Um desejo de expressar a alegria diante da palavra recebida. Onde morava, Maria provavelmente não poderia compartilhar aquela boa nova, pois talvez não fosse compreendida. Por isso buscou alguém que também havia sido sobrenaturalmente abençoada.

            A alegria se manifestou em plenitude do Espírito Santo, o qual encheu Isabel. Ela expressou sua alegria pela distinta visita recebida, declarando uma verdade enfatizada nas Escrituras: Deus visita Seu povo, o Maior vem ao encontro do menor.  Uma alegria que se estendeu até ao ventre de Isabel, cujo bebê estremeceu de alegria. Isabel alegrou-se também com a fé manifestada por Maria e com o cumprimento da promessa do Senhor.  

A alegria foi expressa em adoração, com cânticos. Deste encontro dois louvores são registrados. As palavras de Isabel (Lc 1.42) e as de Maria (Lc 1.46-55). Isabel declara que tanto Maria como seu Filho são “Bem-aventurados” ou “Benditos”. Termo que significa “feliz”, indicando que a felicidade é resultado da graça e favor divinos que repousam sobre a pessoa, alguém na qual Deus também se alegra. Maria escolhe adorar com palavras inspiradas pelo Espírito Santo, pois seu cântico tem palavras da canção outrora cantada por Ana e por outros salmistas (1Sm 2.1-10; Sl 111.9; 138.6). 

O nascimento de Jesus produziu uma grande alegria que foi compartilhada. Que nossas comemorações e celebrações pelo nascimento de Jesus também sejam marcadas por alegrias compartilhadas. 


[1] Ryle, J. C.  Meditações no Evangelho de Lucas, ed. Tiago J. Santos Filho, 2a Edição. (São José dos Campos, SP: Editora FIEL, 2018), 38.

[2] Rienecker, Fritz, Comentário Esperança, Evangelho de Lucas (Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2005), 26.

[3] Hendriksen, William, Lucas, trans. Valter Graciano Martins, 2a edição., vol. 1, Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2014), 109.

[4] William MacDonald, Comentário Bíblico Popular: Novo Testamento, 2a edição. (São Paulo: Mundo Cristão, 2011), 154.

[5] Ryle, (2018), 37. 

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

QUAL O FUTURO DA IGREJA?

   
  Observando a situação do mundo, alguém pode achar que o futuro da Igreja de Cristo é sombrio, um futuro sem perspectivas. Mas não é isso que a Bíblia ensina. 
    O Senhor Jesus prometeu que Sua Igreja seria vitoriosa. Em Mateus 16.18, Ele afirmou que as portas do inferno não prevaleceriam contra a Igreja. A figura usada aqui é a de um exército que vai avançando e se depara com uma cidade murada. Naquela época, quando uma cidade era atacada por um exército inimigo fechava suas portas. Os invasores sitiavam a cidade e buscavam meios de contornar aqueles portões. Esforçavam-se escalando os muros com escadas, arremetendo com troncos de árvores contra os portões. Além disso, impediam a entrada de alimentos, ou qualquer tipo de socorro na cidade, de modo que as pessoas da cidade fossem forçadas a se entregar. Em todos os casos, o objetivo era conquistar a cidade. 
     A Igreja conquistará. Ela não será parada nem vencida pela morte. Ela avança contra o inferno, sabendo que o inferno não tem portas que consigam prevalecer contra ela. Sempre haverá barreiras entre a Igreja e seus propósitos, mas essas barreiras jamais serão intransponíveis. Nada irá barrar o avanço da Igreja do Senhor Jesus Cristo, pois Ele prometeu uma Igreja invencível. A história tem demonstrado isso nesses cerca de 2 mil anos de história da Igreja. Nesse período, grandes impérios se levantaram e caíram. Grandes empresas surgiram e faliram. Empreendimentos vitoriosos foram realizados, mas tiveram seu fim. Todavia, a Igreja permanece, apesar de todas as forças que lhe são contrárias. 
    A missão da Igreja é levar a mensagem do Evangelho até os confins da terra (At 1.8). O livro de Atos nos mostra que, nessa tarefa, ela tem enfrentado muitos obstáculos mas, contra todos, tem sido vencedora. Em Atos 12.1-24, temos um exemplo. O rei Herodes, usando seu poder político, econômico e militar, assolou a Igreja. Matou um de seus líderes, mandou prender outro. Mas a igreja prevaleceu, continuou crescendo e se multiplicando (vs 24). Em Atos 7 lemos sobre uma forte perseguição contra a Igreja. Nela Estevão foi executado. Depois, muitos cristãos se espalharam pelo Império Romano (At 8.1). Talvez alguém indagasse: E agora, o que será da Igreja? Embora a perseguição tivesse como alvo fragilizar a Igreja, o oposto aconteceu: a Igreja cresceu, cumprindo sua missão (8.4; 11.19). 
     Participar da igreja é participar de um empreendimento com a certeza da vitória. O próprio Senhor Jesus prometeu isso. As dificuldades, ao invés de atrapalharem, promovem o crescimento da igreja. Nada vai impedir a vitória da Igreja do Senhor Jesus Cristo. Ela será vitoriosa! Diante do que ocorre no mundo, ficamos assustados, amedrontados, não temos a garantia de que não iremos sofrer aflições, que, aliás, foram previstas por Jesus. Mas não podemos temer o fracasso. Certamente venceremos. As portas do inferno não vencerão a igreja. 
    Também foi prometido que a Igreja será perfeita. No momento, quando olhamos para as igrejas, notamos muitos defeitos, alguns até graves. Mas Deus prometeu que, um dia, sua Igreja será perfeita. Ela não terá um defeito, sequer (Ef 5.25-27). 
     Essa perfeição está descrita em Efésios 4.9-15. Deus está trabalhando, levantando pessoas para trabalharem com a Igreja até que todos cheguemos à medida da estatura da plenitude de Cristo. Essa deve ser a nossa maior expectativa, sob a qual todas as outras são desenvolvidas. O alvo de Deus para todos nós é fazer-nos semelhantes à Cristo, mesmo que para isso sofrimentos sejam necessários (Rm 8.28,29). 
     É preciso ficar vigilante contra a falsa expectativa de uma igreja perfeita aqui na terra. Nosso serviço é parte do processo, mas o alvo só será alcançado no final. É necessário cuidado com aqueles momentos em que parece que nada está acontecendo, que os resultados não são aparentes. Deus está agindo e nem sempre os resultados são visíveis ou palpáveis no momento. O alvo do serviço da Igreja é apresentar todas as pessoas perfeitas em Cristo (Cl 1.28-29). Este não é um alvo muito mensurável, mas ele será alcançado. 
     Atualmente a Igreja é um edifício ainda em construção. Ainda não está completo, mas um dia estará concluído e apresentará sua gloriosa perfeição. Deus usa todos nós, com nossas imperfeições, mas não devemos ficar frustrados ao não vermos a igreja perfeita. Não a veremos perfeita aqui, mas certamente a veremos na ressurreição (2Co 11.2). 
    Também foi prometido que a Igreja será recompensada. Isso é evidenciado nas cartas que Jesus enviou às sete igrejas da Ásia. Apesar de inicialmente destinadas àquelas igrejas locais, elas são para todas as igrejas de todos os tempos, conforme notamos nas palavras de advertência no final de cada carta, quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas. Em cada uma dessas cartas há uma promessa à Igreja, que será vencedora. Vencer, naquele contexto significa resistir, perseverar na fé, não abandonar o caminho de seguir a Cristo. 
   Foi prometido que os vencedores desfrutariam da árvore da vida (não mais morreriam); não sofreriam o dano da segunda morte (a condenação eterna); ganhariam uma nova vida e uma nova natureza; receberiam autoridade e a estrela da manhã; teriam seus nomes gravados no livro da vida e o nome de Deus gravado neles, indicando que pertencem a Deus; seriam feitos colunas no santuário de Deus e reinariam com Cristo (Ap 2.7,11,17,26; 3.5,12,21). 
    Haveria alguma coisa nesse mundo, por mais atraente que seja, que valha a pena trocar por tudo isso? Existe algum sofrimento, por pior que seja, que se deva evitar, e assim perder esse galardão? 
    Trabalhemos em prol da Igreja de Cristo, sabendo que isso não será em vão (1Co 15.58).

sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

NÃO TENHA MEDO: DEUS É NOSSO RESGATADOR

        Já se sentiu desprestigiado, desvalorizado, depreciado? Você mesmo já se considerou alguém sem valor, um derrotado, sentindo-se um verme, um zé ninguém? Já percebeu a tendência do mundo de considerar o povo de Deus como um zé-povinho, sem muito valor, sem muito a contribuir? 

      Situações e circunstâncias da vida podem nos causar tais sensações. A própria falta de consideração de pessoas a quem estimamos e por quem temos admiração, pode fazer com que nos sintamos um lixo. O povo de Judá, durante o exílio, sentiu-se assim. Estavam dominados pelo poderoso Império Babilônico, desterrados, seu templo destruído e seu rei aprisionado, embora soubessem que essa situação era resultado do seu próprio pecado. Porém Deus dirigiu-lhes uma palavra de conforto, dizendo: não temas, não tenha medo, Eu estou com vocês (Isaías 41.14-16). 

        No verso 14 o povo é chamado de “vermezinho” e “povinho”. O termo verme aplicava-se a uma larva que devorava matéria em decomposição. Alojava-se em plantas, frutos e alimentos, fazendo-os apodrecer, destruindo-os (Ex 16.20; Dt 28.39; Jn 4.7). Era também usado para referir o estado de morte do ser humano (Is 14.11; 66.24), ou, como metáfora, para indicar insignificância, fragilidade, humilhação e desamparo (Sl 22.6,7; Jó 25.6). É neste sentido que é usado em Isaías 41.14. Um povo considerado pequeno, frágil e sem significância. 

        Quando confrontado com os grandes impérios da época, como a Babilônia, com sua extensão territorial, seu poderio militar, suas majestosas construções, suas conquistas, o povo de Judá poderia se achar bem pequeno e insignificante. Sem condições de mudar o curso de sua deprimente história, naquele momento. Quando olhamos para nós mesmos com honestidade, e depois para a realidade que nos cerca, a conclusão a que chegamos é que somos apenas um peão no jogo das forças políticas, econômicas, militares, naturais... 

        Há momentos em que, independente da nossa vontade, a vida dá uma guinada e nos leva para situações que jamais imaginamos. Tal qual uma pessoa que, caminhando na calçada, é, repentinamente, arrastada por uma carreta, sem poder para livrar-se ou se defender. Ou como um pequeno barco que, surpreendido por uma grande tempestade, é levado para longe do destino a que pretendia chegar. Como reagir frente a desastres naturais, ou a escolhas de outros que afetam profundamente nossas vidas, se nos reconhecemos impotentes para modificar o curso dos acontecimentos adversos? 

    É isso que experimentamos nesse tempo de pandemia. Praticamente da noite para o dia, nossas vidas mudaram. Muitos tiveram que fechar seus negócios, perderam seus empregos, ficaram sem seus entes queridos. Estudos foram interrompidos e ou atrasados, projetos foram abandonados ou adiados. São fatos que nos fizeram perceber que não temos controle nenhum sobre nosso próprio destino. Nesse mesmo período um jovem casal, com apenas um mês de casados, cheios de sonhos, voltando para casa numa noite de sábado, teve sua moto atropelada por um motorista que avançou a preferencial e os deixou gravemente feridos. Em questão de segundos, a vida deles mudou drasticamente. 

        Fatos assim devem convencer-nos de que somos pequenos demais diante de tudo isso. Não há como prever nem como controlar nossos destinos. Essa realidade pode provocar o medo em nossos corações. Mas o povo de Deus não precisa ter medo em momentos assim. Deus avisa que é o seu resgatador. O termo resgatador designava o parente que tinha a obrigação de libertar alguém da família da escravidão, resgatar a terra perdida, socorrer o parente na pobreza, suscitar descendência ao parente para livrar a família do esquecimento ou mesmo o dever de ser o vingador do sangue do parente assassinado. Em resumo, seu dever era defender o oprimido e atacar o opressor (Lv 25.25; Nm 35.21-27; Dt 19.6; Js 20.5; Rt 4.1-8). 

        Porém, nem sempre o redentor podia ou queria exercer essa responsabilidade (Rt 4.6). No livro de Isaías, o título vai aparecer várias vezes associado a outras expressões que destacam a grandeza e poder de Deus, tais como: Santo de Israel, Poderoso de Jacó, SENHOR dos Exércitos, Rei de Israel, Primeiro e o último, Deus de toda a terra, nosso Pai. Essas expressões enfatizam a certeza de que Deus tem todas as condições de cumprir a missão de redentor, resgatador, e que Ele tem todo desejo de realizar isso. Ele não apenas é poderoso, mas também compassivo para cumprir a função. O povo de Deus tem um Resgatador Poderoso e cheio de boa vontade. 

    Por isso não há razão para temer. Quando sentir-se depreciado, desvalorizado, um "zé-quase-nada", achando-se frágil e pequeno demais para suportar e enfrentar os reveses da vida. Lembre-se de Deus, que declara com autoridade: Não tenha medo, Eu te ajudo. Eu vou livrar você, vou socorrer você, não tenha medo.

REPASSANDO O ENSINO PARA A PRÓXIMA GERAÇÃO

A árvore, quando já velha, resiste fortemente ao vento, precisamente por ter sido bem enraizada quando era jovem . [1] Para nossos filhos re...