sábado, 20 de abril de 2019

A CRUZ MATOU O MEDO DESTES HOMENS E OS TIROU DAS TREVAS PARA LUZ

            O nome do primeiro era José. O mesmo nome do patriarca que salvou os seus antepassados da fome, cerca de mil e oitocentos anos antes, quando seu povo foi para o Egito. Por haver outros “Josés” e porque ele era da cidade de Arimatéia, que distava uns 32km de Jerusalém, tornou-se conhecido como José de Arimatéia. Sua participação na vida de Jesus é contada nos quatro evangelhos (Mt 25.57-60; Mc 15.43-46; Lc 23.50-53; Jo 19.38-42)
            José era um homem rico que, além de posses, também tinha muito respeito e prestígio, sendo, por isso, muito estimado e honrado pelo seu povo. Pertencia ao Sinédrio, um conselho formado pelos líderes judeus com autoridade para administrar os assuntos civis e religiosos na Palestina. Este conselho estava subordinado apenas ao procurador romano. Mas, diferente de muitos outros membros do Sinédrio, José era um homem bom e justo. Alguém que prezava pelos valores de Deus e se esmerava em seguir a verdade, a bondade e a justiça. 
            Sua vida era dirigida por uma esperança: a vinda do Reino de Deus. Ele aguardava ansiosamente a chegada do Messias libertador, o descendente de Davi que assumiria o trono em Jerusalém, salvando o povo de Israel do domínio estrangeiro. Seria a chegada do Dia do Senhor, trazendo juízo sobre os opressores do povo e salvação para os fiéis. A morada santa de Deus, o templo do Senhor, seria purificado das profanações e corrupções, e o povo de Deus poderia adorá-lo em santidade e justiça para todo o sempre. A consolação de Israel, a redenção de Jerusalém era seu sonho e mais forte desejo. Esta esperança era compartilhada com obsessão po muitos judeus(Lc 1.68-75; 2.25,38). 
Além disso, José de Arimatéia era discípulo de Jesus, um seguidor, um aprendiz. Por isso não concordou com a decisão tomada pelo Conselho dos judeus. Provavelmente não estava presente, quando Jesus foi julgado pelo Sinédrio, pois Marcos nos diz que todos os presentes julgaram Jesus digno de morte. Soube depois, já que o julgamento foi realizado bem cedo naquele dia (Mc 14.64; Lc 22.66). 
Até então, José seguia Jesus ocultamente, não de forma declarada. Tal como outros, que depois de presenciar os milagres e ensinos de Jesus acreditaram nele, mas amavam mais a glória e respeito dos homens e não manifestavam sua fé publicamente (Jo 12.42,43). Talvez, José amasse mais seu lugar no Sinédrio e sabia que se proclamasse que Jesus era o Messias há tanto esperado, seria expulso, perderia sua posição de respeito e honra. Ele se contentava em seguir, mas não manifestava isso publicamente. Considerava que guardando em segredo sua fé em Jesus, manteria também sua posição de prestígio diante da sociedade!
Mas, a cruz o tirou do anonimato. O que aconteceu com Jesus constrangeu seu coração. Seu discipulado não mais seria um segredo. Tinha que manifestar de que lado estava, e não era do lado da liderança judaica. Não lhe importava mais perder sua posição e o prestígio. Honrar Jesus era uma valor maior agora, mesmo que já fosse um tanto tarde para isso.
 Sabia que, sendo membro do Sinédrio, poderia fazer um pedido oficial ao governador Pilatos para ter o corpo de Jesus e dar-lhe um sepultamento adequado, algo que que os parentes de Jesus não conseguiriam fazer. Precisava agir rápido, pois o sábado se aproximava, e nele não poderia fazer qualquer obra. Se o corpo não fosse sepultado logo, ficaria ao relento, iria se decompor mais rápido, e poderia até ter partes devoradas pelos abutres e feras.
José agiu com coragem, desafiando os perigos e oposição. Foi ousado. A ação que os seus pares tomaram contra Jesus não o intimidou. Algo precisava ser feito para impedir que o corpo de Jesus não recebesse um digno sepultamento digno e fosse lançado na vala comum. Teria também que arriscar um encontro com Pilatos, um governador que era conhecido como alguém inflexível e implacavelmente severo, e que já se encontrava indisposto para com a liderança judaica (Lc 13.1; Jo 19.19-22). 
A ação dele é mais admirável porque não esperava nenhum benefício, pois Jesus estava morto. Foi um ato de misericórdia, desprovido de qualquer interesse de receber retribuição. Era um risco desnecessário para ele, e que não lhe traria nenhuma recompensa. 
Não poderia fazer tudo sozinho. Providencialmente surgiu  Nicodemos, outro que seguia Jesus nas sombras da noite, e que já havia feito uma defesa de Jesus diante do Sinédrio (3.1-3; 7.50-52). Este cuidou da compra de cerca de 34 quilos de especiarias, uma mistura composta de mirra, uma resina aromática trazida do Egito, que era transformada em pó; alóes, que era um pó feito da madeira do sândalo aromático. Não se destinava a embalsamar o corpo. Tinha a função de suprimir o odor da putrefação. Este composto formava um perfume que geralmente era usado em ocasiões mais alegres (Sl 45.8; Ct 4.14).
Com a permissão de Pilatos, eles foram até o local, levando seus empregados. Era necessário tirar os cravos que pregavam os pés de Jesus no madeiro, depois baixar a parte horizontal da cruz, soltando as cordas que o amarravam. Então, depois do corpo depositado no chão, retirar os pregos dos pulsos, lavar o corpo para remover o sangue que o cobria, carregá-lo e colocar num local onde pudesse ser envolvido com os panos de linho que compraram. A quantidade e a qualidade do material usado demonstrava que eles queriam dar a Jesus um sepultamento digno de um rei. 
Estes panos já estavam cobertos pelas especiarias. Nas proximidades, havia um túmulo novo, ainda não usado, que tempo antes, José de Arimatéia havia mandado abrir numa rocha. No túmulo havia uma pedra, em forma de leito. Ali seriam colocada uma camada de especiarias, depois o corpo de Jesus já enfaixado, e o restante das especiarias acomodados em volta de Jesus. Uma pedra foi rolada para fechar a entrada. Proteção e cuidado necessários para proteger o corpo de Jesus. 
O sepultamento em grutas era para os ricos, que poderiam se dar ao luxo de comprar um terreno para isso, e ali mandar escavar na rocha uma espécie de quarto com nichos, onde os corpos seriam colocados. Os pobres eram sepultados em covas abertas no chão. Após um ano do corpo na gruta, os parentes poderiam entrar, pegar os ossos do cadáver e colocar numa caixa com o nome da pessoa, que era o ossuário, onde o morto aguardaria a ressurreição. Mal sabiam eles, que isso não ocorreria com o corpo de Jesus! Surpresa e alegria maior teriam ao ver Jesus ressuscitado! Esta seria sua recompensa inesperada e impagável! 
A cruz encheu estes homens de coragem, matou o medo que até então os dominava, libertou-os das amarras das glórias mundanas, e permitiu que manifestassem sua fé. Séculos depois Isaac Watts (1674-1748) expressaria esse sentimento assim:
Olhando o lenho crucial, em que morreu da glória o Rei
Às honras, vida mundanal, desprezo eterno votarei. 
Eles ainda não compreendiam tudo, mas a cruz lhes fez compreender que era necessário tornar pública sua fé em Jesus. A cruz os libertou do medo e os trouxe das trevas para a luz!

RENOVANDO O ÂNIMO PARA ENFRENTAR MAIS UM ANO QUE SE INICIA – 2ª PARTE

  Há pessoas que “ desistem da vida muito antes que seu coração pare de bater — estão acabadas, esgotadas, despedaçadas, mas ainda assim aco...