“Não se cansem de fazer o bem”. Esta exortação aparece duas vezes no Novo Testamento. "Portanto, não nos cansemos de fazer o bem, pois a seu tempo ceifaremos, se não tivermos desfalecidos." (Gálatas 6.9) “E vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem.” (2Tessalonicenses 3.13).
O verbo traduzido como “cansar” significa falhar em manter a resistência. Isto é, desistir, desanimar, perder o ânimo e a coragem para prosseguir com uma tarefa ou alvo. Não é apenas se omitir diante de uma tarefa, mas relaxar os esforços, perder a coragem no meio das dificuldades, interromper a perseverança e persistência, antes de alcançar o objetivo, considerando que não vale a pena sucumbir à exaustão. A exortação é para superar a letargia, a preguiça, o tédio e a desesperança. O chamado é para não desanimar diante da fadiga.
Lucas usou a palavra desanimar quando explicou a razão de Jesus contar a parábola do juiz iníquo e da viúva. A lição é que, por mais desesperadoras que sejam as circunstâncias, os cristãos devem permanecer orando obstinada e intensamente, sem nunca desistir (Lucas 18.1). Orar é empreender uma guerra, é lutar contra as forças espirituais do mal. Tais forças são formadas por: nossa própria natureza pecaminosa, que não gosta de orar; pelo mundo que nos rodeia, o qual nos induz a desconfiar da realidade invisível e a depender apenas do que nós podemos ver e tocar; e por Satanás, que tenta nos fazer descrer na eficácia da oração e a confiar apenas em nossos próprios recursos. Para perseverar na oração é preciso que a resistência nunca amoleça e a coragem nunca afrouxe. Nenhum obstáculo serve como desculpa para relaxar os esforços na oração.
Na carta aos Gálatas, Paulo desafia seus leitores a fazer o bem às pessoas, ajudar aqueles que precisam. Ajudar pessoas pode ser desanimador. Nem sempre elas agradecem, como esperamos, nem reconhecem o nosso esforço ou aproveitam a ajuda dada para crescerem e não dependerem mais de nós. Algumas vezes, até ficam viciadas em ser ajudadas. Além disso, ajudar a outros toma nosso tempo, recursos e energias. Isso pode deixar-nos cansados e desanimados. A razão para a exortação de Paulo é que, no tempo certo, a recompensa virá. O lavrador que colhe os frutos é o que persiste na semeadura e no cuidar da roça até o tempo adequado. De igual modo, os que colhem o bem são os que persistem em fazer o bem. Não os que desanimam e desistem. As palavras são claras: colheremos, se não desfalecermos.
Outra área da vida na qual podemos desanimar é no serviço prestado a Deus: na evangelização, no ensino, na proclamação da Palavra, no culto e no cuidado com a Igreja. Em 2 Coríntios 4.1,16, Paulo nos adverte contra o cansaço que nos leva ao desânimo no serviço cristão. As bases para a perseverança são o conhecimento de que a oportunidade e privilégio para realizar estes serviços nos foram garantidos pela misericórdia de Deus e a certeza de que as canseiras que este ministério acarreta são leves e momentâneas, quando comparadas com a glória que nos espera. O modo de perseverar inclui rejeitar tudo que é vergonhoso e fixar os olhos no invisível e eterno, e não no que é visível e temporário.
As tribulações que atravessamos, ou mesmo as que presenciamos em outros, também podem nos levar à desistência. Mas em Efésios 3.13, novamente Paulo adverte para que isso não ocorra, pois as tribulações devem ser motivo de glória e não de vergonha e desânimo. Sofrer por Cristo é uma graça e uma glória.
Por último, cuidemos para não desanimar na obediência aos mandamentos de Deus, como o povo de Deus na época do profeta Malaquias, que se cansou de obedecer a Deus, por calcular que não valia a pena, que não traria nenhuma vantagem e não lhes daria nenhum lucro (Malaquias 3.13-18).
Eles chegaram a pensar que havia mais vantagem em agir com soberba, isto é, fazer da própria vida o que bem entendessem, sem se preocuparem com as ordens de Deus. “Os que agem assim é que se dão bem na vida", diziam eles. Estavam olhando apenas para as aparências, eram guiados por seus olhos, pelo visível. Semelhantes a Ló, quando escolheu as proximidades de Sodoma e Gomorra. Apenas as campinas férteis deste mundo lhe atraíam o coração (Gênesis 13.10,11).
O texto de Malaquias, porém, deixa claro que havia outro grupo, os que temiam a Deus, cujas pessoas se incentivavam mutuamente a continuar servindo ao Senhor com fidelidade. Apesar das aparências, Deus sabia de tudo e contava tudo. Ele registrava em Seu livro, como um diário de memórias, os que O honravam e que levavam em conta a Sua Pessoa.
Esta é a realidade: Deus considera os que O consideram. Ele não esquece. Um dia vai recompensá-los. Um dia Ele vai deixar bem claro e patente a diferença entre o justo e o maldoso, entre servir a Deus e não servir. "Então vereis outra vez a diferença entre o justo e o maldoso, entre os que servem a Deus e os que não servem" (Ml 3.18).
Não se canse de obedecer a Deus, pois isso tem um valor eterno.
E porque é assim, não nos cansemos de fazer o bem durante todo o novo ano que se inicia.