sábado, 11 de abril de 2020

POR TER EXPIADO, ELE NÃO MAIS ESPIA


Uma letra trocada pode causar uma grande confusão! Podemos ilustrar com os verbos espiar e expiar, dos quais derivam respectivamente espionagem e expiação. Espiar significa olhar, verificar, espionar, na maioria das vezes com o propósito de prejudicar ou acusar. Jó se queixou de Deus e se referiu a Ele como o Espreitador dos homens, pois ficava espiando os seus pecados, e não lhe deixava em paz (Jó 7.20).   Já expiar...
No Antigo Testamento o verbo expiar era correlato de extinguir ou apagar. Em Isaías 28.18 Deus disse para a liderança do povo de Israel, que alegava ter feito uma aliança com a morte e um pacto com o além para não ser destruída, que a aliança com a morte seria anulada (literalmente “expiada”) e o acordo com o além não subsistiria (isto é, não permaneceria). Jeremias orou pedindo para Deus não expiar nem apagar o pecado dos inimigos que lhe tramavam a morte (Jr 18.23). Algo que era expiado tinha sido eliminado ou apagado. A palavra foi usada também com o sentido de aplacar ou apaziguar a ira de alguém, pois uma ira expiada tinha sido apagada ou extinta (Gn 32.30; Pv 16.14).
A maioria dos usos do verbo expiar e do substantivo expiação, no Antigo Testamento, está no contexto religioso, referindo-se ao relacionamento com Deus. Especialmente tratando da questão do pecado.  Expiar refere-se ao processo pelo qual o problema dos nossos pecados é resolvido diante de Deus. Expiação é o meio pelo qual nossos pecados são perdoados. 
O pecado é uma desobediência à lei de Deus. Como a lei é de Deus, o pecado é também uma ofensa contra Ele. Isso provoca a Sua ira e traz juízo sobre o pecador. Para que esse juízo não se inicie, ou se já começado, cesse, a expiação se faz necessária. 
Deus, como parte ofendida, é quem determina o modo que a expiação deve ser feita. Os ofensores devem submeter-se ao modo estabelecido por Deus. Quando a expiação é realizada, eles são perdoados e purificados e a razão da ira de Deus já não existe mais.
A expiação apagava o pecado. Por isso, a pessoa era perdoada e purificada, sendo aceita por Deus e ficava pronta para servi-Lo (Levítico 4.20,26,31,35; 16.30). Foi dito para Isaías que a tua iniquidade foi tirada (afastada, retirada) e perdoado (literalmente “expiado”) o teu pecado (Is 6.7). Em Daniel 9.24, em um paralelismo triplo, notamos que a ideia de extinguir e apagar os pecados, aparece ao lado de expiar (fazer cessar, dar fim, expiar). Esta é a razão pela qual, algumas vezes, o verbo foi traduzido como “perdoar” em nossas versões, usando a metonímia, figura de linguagem que, neste caso, emprega o efeito no lugar da causa (2Cr 30.18; Sl 65.3). 
A expiação incluía a reparação ou satisfação para com a parte ofendida, por isso carregava também a ideia de resgate, isto é, uma restituição pelo prejuízo causado. Era a expiação que tornava possível o resgate (Jó 33.24). Quando Deus castigou Israel por causa dos pecados de Saul contra os gibeonitas, Davi foi até eles e perguntou: de que modo expiarei, normalmente traduzido em nossas versões como que resgate vos darei. E só depois da expiação feita, foi que Deus se tornou favorável com a terra (2Sm 21.1-14).    
Deus estabeleceu que a vida fosse dada em sacrifício, demonstrando isso através do sangue derramado (Lev 17.11). O animal morto em sacrifício era a expiação, o resgate dado no lugar do pecador. Por isso, havia a cerimônia de imposição das mãos sobre o animal e a súplica que confessava o pecado (Lev 4.15,20; Dt 21.8).
A expiação apaziguava a ira divina, desviando-a (Nm 16.46,47; 25.11-13). No Salmo 78.38 a palavra expia foi traduzida como perdoa. Como o pecado havia sido apagado, a ira também era apagada, deixava de existir. 
Todo o ritual sacrificial do Antigo Testamento era uma figura que apontava e prometia a realidade que ainda viria e se completaria com um sacrifício superior, o sacrifício do Senhor Jesus Cristo. Isso foi proposto pelo próprio Deus (Rm 3.21-25).
Nossos pecados foram um ultraje contra a honra infinita devida a Deus (Sl 90.11). Ninguém dentre a humanidade é capaz de pagar o preço devido. Por isso, o próprio Deus infinito, na pessoa de Seu Filho Jesus, fez-se humano, pois era necessário que Ele se tornasse semelhante àqueles que iria salvar e, assim, fizesse expiação pelos pecados deles (Hb 2.17).
Encarnado, ele cumpriu perfeitamente as exigências da Lei de Deus (1Pd 2.22) e, mesmo assim entregou-se como uma oferta pelo pecado (Rm 8.3), fazendo um sacrifício perfeito, que satisfez plenamente a honra ultrajada de Deus, trouxe o perdão e a purificação para todos os que se submetem a este modo estabelecido por Deus (Hb 9.11-14).
A motivação de Deus foi o amor. Nisto consiste o amor... enviou o Seu Filho como expiação pelos nossos pecados (1Jo 4.10).              Jesus Cristo tornou-se a expiação pelos nossos pecados (1Jo 2.2) 
Para receber este perdão é necessário reconhecer que não há em nós nenhuma possibilidade de resolver nosso próprio pecado e seus resultados condenatórios. Ao reconhecer isso, fazer como o publicano, que clama: Ó Deus, faz uma expiação por mim, pecador! (Lc 18.13). Isso faz com que o pecado seja apagado, a ira desviada e o pecador justificado (Lc 18.14). 
Quando isso é feito Deus não mais espia os nossos pecados, pois eles foram expiados. Portanto: aqueles que foram expiados não são mais espiados!

sábado, 4 de abril de 2020

POR QUE PESTES E PRAGAS? BUSCANDO UMA RESPOSTA NA BÍBLIA – PARTE 1


A Bíblia nos apresenta Deus como Aquele que tem o domínio de todos os seres, situações e circunstâncias. Nada, absolutamente nada, acontece sem Sua soberana permissão. Conforme é dito pelo Senhor Jesus Cristo, nem a morte de um pássaro pequeno e barato, isto é, quase sem valor diante dos homens, escapa do Seu controle. E quanto a nós, até todos os cabelos de nossas cabeças Ele os tem contado!  (Mt 10.29,30).  Nós podemos até negligenciar o nosso alimento, como os discípulos que esqueceram de levar pão para uma viagem, mas Deus não negligencia nenhum destes pequenos pássaros (Mc 8.14; Lc 12.6,7).

            Crendo nisso, temos que admitir que esta pandemia ocorre por Sua permissão soberana. Isso pode nos levar a perguntar: por que Deus permite isso?
            Não me sinto seguro para dar respostas quanto aos propósitos específicos de Deus em relação ao mal que o mundo enfrenta neste momento. Todavia, gostaria de examinar alguns textos bíblicos que apresentam situações semelhantes, verificando quais eram os propósitos de Deus para aquelas situações, e assim incentivar-nos à reflexão e ao discernimento. 
            A primeira vez que a palavra “praga” ocorre nas Escrituras é em Gênesis 12.17. Isso ocorreu quando Deus infligiu severas doenças ao Faraó e sua família porque ele havia tomado Sara, mulher de Abraão, para seu harém. O propósito de Deus nesse evento não é explícito, que até nos choca, porque o Faraó havia feito isso sem saber que Sara era esposa de Abraão. Mas, através de um evento semelhante em Gênesis 20.1-7 e do que é dito no Salmo 105, versículos 12-15, deduzimos que Deus fez isso para impedir a consumação do pecado e garantir que Seu plano de trazer um descendente através de Abraão e Sara fosse cumprido. A conclusão aqui é que Deus usa doenças para impedir pecados e garantir o cumprimento de Seu plano.
            O próximo evento que examinaremos é o que trata das pragas no Egito (Êxodo capítulos 5 a 14). O povo de Deus estava sob opressão. Moisés foi enviado para liderar a saída deles do Egito e comunicar ao Faraó que o SENHOR quer que o Seu povo deixe aquela terra para servi-Lo. Caso o Faraó se negasse a permitir a saída do povo de Deus, haveria pestes e violências. Mas o Faraó recusou-se a liberar o povo. Ele disse que não conhecia o SENHOR, não devia obediência a Ele, por isso não deixaria o povo ir (Ex 5.1-3). 
            Diante da pergunta do Faraó: Quem é o SENHOR? Deus decidiu apresentar Seu cartão de visitas e mostrar quem Ele é, tanto para o Faraó e os egípcios, como para o povo de Israel. Uma batalha para evidenciar quem estava no comando da terra foi travada. 
Deus agiu através das pragas para manifestar que ninguém há na terra semelhante a Ele. Os egípcios, apesar de servirem a vários deuses, não foram socorridos por nenhum deles. Deus mostrou que era superior aos deuses do Egito (Êxodo 9.13-16; 12.12). Deus mostrou aos incrédulos que Ele é o SENHOR (Ex 14.18).
Era crença no antigo Egito que o Faraó era deus, e que por causa dele a terra tinha ordem e não confusão. Portanto, quando Moisés chegou falando de outro Senhor, o Faraó não aceitou. Ele considerava aquela terra como sua. Era seu território. Ali mandava ele e nenhum Deus poderia lhe impor Sua vontade. Era necessária uma ação de proporção tal que evidenciasse para o Faraó e para seu povo que o Dono da terra era Deus. Através dos castigos infligidos aos oponentes, Deus mostrou que age nas forças da natureza para cumprir Seus propósitos. Ele manda sobre tudo, até sobre o coração do Faraó e a disposição dos egípcios (Ex 8.19; 11.10; 12.36).
O Faraó e alguns de seus oficiais manifestaram indiferença. Não quiseram levar a sério a Palavra de Deus, não se preocuparam em colocá-la no coração (Ex 7.23; 9.21). Na verdade, o Faraó até tentou negociar com Deus e permitir a saída do povo, mas queria que isso fosse feito de acordo com as suas condições, como se Deus fosse seu igual (Ex 8.25; 10.11,24). Mesmo vendo a ruína de todo o Egito, teimava em não ceder (Ex 10.7). Através das pragas Deus mostrou que Ele é o SENHOR sobre toda a terra, incluindo a terra do Egito (Ex 8.22; 14.17,18). 
Mas Deus queria também ensinar o Seu povo que a salvação é realizada por Ele, por Sua força e Seu poder (Ex 6.6,7; 10.2). Não poderia ficar nenhuma dúvida no coração dos israelitas de que sua vida, sua libertação e sua vitória dependeriam exclusivamente de Deus. Que se dependesse deles, todos teriam morrido escravos no Egito. 
Deus permite situações devastadoras para que os falsos deuses sejam desmascarados. Alguns de nós têm uma confiança quase idólatra na ciência e na tecnologia. Acreditamos que elas podem resolver todos os nossos problemas. Manifestamos uma convicção muito forte no progresso da humanidade. Há momentos em que até esquecemos que Deus existe ou que Ele seja necessário. 
Confiávamos que problemas medievais, como pestes, não mais se alastrariam em nosso meio. Afinal, conseguimos dominar a ciência. Cremos que somos capazes de desvendar a genética de todos os agentes eventualmente nocivos e nos defender deles. Mas, eis que, surge um vírus que nos humilha. Que nos faz ver que ainda precisamos voltar aos princípios rudimentares de uma vida saudável: lavar as mãos com água e sabão. 
Não dominamos a criação. Nossos deuses, aqueles nos quais confiamos para nos socorrer em situações como essas – ciência, medicina, governos, recursos financeiros, etc. – têm sua utilidade, mas são ineficazes para garantir aquilo que é mais básico na vida: segurança e saúde. 
Precisamos aprender que nossa vida está nas mãos de Deus. Que Ele é a nossa salvação, o nosso socorro. Precisamos nos humilhar diante d’Ele, saber que Ele é o Dono da terra e de nossas vidas.  Que Ele existe e está atuante.

RENOVANDO O ÂNIMO PARA ENFRENTAR MAIS UM ANO QUE SE INICIA – 2ª PARTE

  Há pessoas que “ desistem da vida muito antes que seu coração pare de bater — estão acabadas, esgotadas, despedaçadas, mas ainda assim aco...