segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

NATAL: UM COMPARTILHAR DE ALEGRIAS

A alegria compartilhada se multiplica. 

A tristeza se expande ao ser ocultada; 

a alegria, ao ser repartida”.[1]



Em um dos relatos que Lucas fez a respeito do nascimento de Jesus temos uma demonstração da verdade expressa acima (Lc 1.39-45). Esse texto narra a visita de Maria a Isabel, ocorrida após o anjo Gabriel anunciar que Maria seria a mãe de Jesus. 

Maria morava em Nazaré, uma pequena cidade não mencionada no Antigo Testamento, vista com certo desdém por alguns (Jo 1.46). Aquela cidade ficava na Galiléia, uma região habitada por gentios e, por isso, desprezada pelos judeus mais religiosos[2]. Maria era virgem. Isso foi destacado duas vezes no mesmo versículo e reafirmado pela própria Maria (Lc 1.27,34). Ela já estava desposada, isto é, já havia sido prometida solenemente em casamento na presença de testemunhas, embora a festa de núpcias ainda não tivesse sido celebrada e o ato conjugal ainda não consumado[3]. Seria algo semelhante ao nosso noivado, mas naquela cultura “O noivado era considerado um contrato bem mais obrigatório que o de hoje. Aliás, só podia ser desmanchado por um decreto legal semelhante ao divórcio.[4] José, seu noivo era da dinastia real, descendente de Davi, a quem foi prometido um herdeiro que reinaria para sempre no trono de Israel (1Sm 7.8-16). 

A mensagem que o anjo trouxe a Maria foi: Alegre-se agraciada, o Senhor está com você. A expressão original não é cheia de graça, mas que ela havia recebido muita graça. Por estar na voz passiva, mostra que ela recebeu favor. Com essa construção na voz passiva, o texto indica que ela não é a fonte da graça, mas o destino dela. Isto é, foi muito favorecida por Deus.  Este favorecimento manifestou-se através da presença de Deus em sua vida e deveria provocar alegria (Lc 1.28). 

            A moça ficou perturbada, um tanto confusa sobre o significado daquela mensagem. O anjo a acalmou e explicou a palavra da parte de Deus (Lc 1.29-33). As palavras: Você ficará grávida e dará à luz um filho, a quem chamará pelo nome de Jesus, nos fazem lembrar a profecia registrada em Isaías 7.14: vejam, a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel. Os nomes dados são diferentes, mas expressam a mesma verdade. Emanuel, significa “Deus conosco”, Jesus, “o SENHOR salva” (Mt 1.21).

             Esse filho anunciado seria grande, apesar do início humilde. Ele seria chamado de Filho do Altíssimo, herdaria o reinado que havia sido prometido à dinastia davídica e reinaria eternamente sobre o povo de Israel. 

            Como era virgem, Maria não entende como isso se daria. O anjo explica que o filho seria gerado pelo Espírito Santo, o qual a envolveria com o poder do Altíssimo, de modo que ele seria Filho de Deus. Para garantir aquela palavra, o anjo apresentou-lhe um sinal. Isabel, a parenta de Maria, estava grávida de seis meses, apesar de ser estéril e de idade avançada. Concluindo que para Deus nada é impossível (Lc 1.34-37). 

            A resposta de Maria manifesta uma sincera rendição à vontade de Deus, com fé e obediência corajosas (Lc 1.38).   "Se refletirmos por um instante, perceberemos que tornar-se a mãe do Senhor por esse método desconhecido e misterioso não era uma questão insignificante. Em longo prazo, traria consigo grande honra; todavia, na ocasião, representava um risco enorme para a reputação de Maria e uma grande prova para sua fé. Ela estava disposta a enfrentar todo esse risco e toda essa provação! Não fez nenhuma outra pergunta. Não levantou qualquer objeção. Aceitou a honra que lhe foi conferida, tanto quanto os perigos e as inconveniências que a acompanhavam. “Aqui está a serva do Senhor”, diz ela."[5]

            Então, rapidamente preparou-se para uma viagem de mais de cento e trinta quilômetros para visitar Isabel. Por que a visita? Creio que uma das respostas seria o anseio por comunhão, por compartilhar a suprema benção com outra pessoa que a compreendesse. Um desejo de expressar a alegria diante da palavra recebida. Onde morava, Maria provavelmente não poderia compartilhar aquela boa nova, pois talvez não fosse compreendida. Por isso buscou alguém que também havia sido sobrenaturalmente abençoada.

            A alegria se manifestou em plenitude do Espírito Santo, o qual encheu Isabel. Ela expressou sua alegria pela distinta visita recebida, declarando uma verdade enfatizada nas Escrituras: Deus visita Seu povo, o Maior vem ao encontro do menor.  Uma alegria que se estendeu até ao ventre de Isabel, cujo bebê estremeceu de alegria. Isabel alegrou-se também com a fé manifestada por Maria e com o cumprimento da promessa do Senhor.  

A alegria foi expressa em adoração, com cânticos. Deste encontro dois louvores são registrados. As palavras de Isabel (Lc 1.42) e as de Maria (Lc 1.46-55). Isabel declara que tanto Maria como seu Filho são “Bem-aventurados” ou “Benditos”. Termo que significa “feliz”, indicando que a felicidade é resultado da graça e favor divinos que repousam sobre a pessoa, alguém na qual Deus também se alegra. Maria escolhe adorar com palavras inspiradas pelo Espírito Santo, pois seu cântico tem palavras da canção outrora cantada por Ana e por outros salmistas (1Sm 2.1-10; Sl 111.9; 138.6). 

O nascimento de Jesus produziu uma grande alegria que foi compartilhada. Que nossas comemorações e celebrações pelo nascimento de Jesus também sejam marcadas por alegrias compartilhadas. 


[1] Ryle, J. C.  Meditações no Evangelho de Lucas, ed. Tiago J. Santos Filho, 2a Edição. (São José dos Campos, SP: Editora FIEL, 2018), 38.

[2] Rienecker, Fritz, Comentário Esperança, Evangelho de Lucas (Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2005), 26.

[3] Hendriksen, William, Lucas, trans. Valter Graciano Martins, 2a edição., vol. 1, Comentário do Novo Testamento (São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã, 2014), 109.

[4] William MacDonald, Comentário Bíblico Popular: Novo Testamento, 2a edição. (São Paulo: Mundo Cristão, 2011), 154.

[5] Ryle, (2018), 37. 

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