sábado, 19 de outubro de 2019

E QUANDO A OBEDIÊNCIA A DEUS NOS COLOCA NO OLHO DO FURACÃO?

Já passava das três da manhã e eles estavam exaustos, molhados e com frio. Afinal, há mais de doze horas que remavam no meio daquela tempestade, com muito pouco progresso. Experimentavam sensações bem diferentes das da tarde do dia anterior, quando Jesus estava com eles e solucionou um enorme problema:  alimentar uma grande multidão com apenas cinco pãezinhos e dois peixes. 

Fora um momento empolgante. Eles serviram como garçons, organizando as pessoas em grupos de cem e cinquenta e depois distribuindo os pães e peixes multiplicados por Jesus! Só homens foram cerca de cinco mil! Se contassem as mulheres e as crianças passaria de quinze mil pessoas. Todos comeram, repetiram até se fartarem e ainda sobraram doze cestos cheios de pedaços!
Só que, depois disso, Jesus interrompeu toda a empolgação empurrando-os para entrarem em um dos barcos e atravessarem sozinhos de volta para Cafarnaum, enquanto o próprio Jesus permanecia despedindo a multidão. Eles tinham obedecido Jesus, e agora se encontravam no meio de uma tormenta!  
Se algum de nós estivesse observando os discípulos naquela situação, talvez se perguntasse: O que será que eles fizeram de errado? 
Quando os problemas afligem alguém de modo que a pessoa, apesar de todos os seus esforços, não consegue avançar, logo julgamos que ela tenha feito algo errado. Perguntamos:  Qual deve ter sido o seu pecado? Em que ela desobedeceu a Deus? Esquecemos de que, algumas vezes, a obediência a Deus pode colocar alguém em grandes dificuldades. Como foi o caso dos discípulos (Mateus 14.22-34; Marcos 6.45-52; João 6.15-21). 
            Após a multiplicação dos pães, Jesus compeliu seus discípulos para entrarem num barco e atravessarem o mar da Galiléia, enquanto Ele despedia a multidão. Depois subiu ao monte para orar. A chegada da noite encontrou os discípulos navegando no meio de um mar enfurecido tocado por fortes ventos e altas ondas.       
Os discípulos estavam no meio de uma tribulação exatamente porque haviam obedecido a Jesus. A ideia comunicada pelo verbo “compelir” é de obrigar mediante constrangimento ou uso de força. De alguma maneira Jesus havia ordenado que os discípulos tomassem o barco e fizessem aquela travessia. Ao fazer a vontade de Jesus eles foram colocados no olho da tempestade. Nem sempre os problemas enfrentados pelas pessoas são causados por desobediência. Algumas vezes a obediência a Deus nos coloca em situações extremamente complicadas.
            Por que Jesus agiu daquela maneira?
O contexto conta que ao presenciar o milagre da multiplicação e comer até ficar farta, a multidão entusiasmou-se, e creu que Jesus era o profeta que havia sido prometido por Deus em Deuteronômio 18.15,18. Afinal, profetas do passado, como Elias e Eliseu, também já haviam multiplicado alimentos e saciado pessoas! Além disso, alguém com aquele poder e capacidade para resolver problemas só poderia ser o Rei prometido, que libertaria o povo de Deus. E logo a multidão desejou tomar Jesus à força e coroá-lo rei. 
            Embora o conceito de que Jesus era o Profeta e Rei prometidos estivesse correto, a aplicação estava errada. Agiam por conta própria e não seguiam a direção de Deus. Não haviam compreendido que naquela primeira vinda, o Rei viera como servo, não para saciar a fome de pão material, mas a fome da justiça de Deus. Ainda não tomaria o trono, mas uma cruz. Sua coroa seria a de espinhos e não a de ouro, morreria pagando pelos pecados do povo e não receberia as honras de rei. 
            Se aquela pretensão do povo se concretizasse, uma revolução contra o Império Romano estaria começando e os resultados poderiam ser trágicos. O conceito que os discípulos tinham era semelhante ao da multidão. Havia o risco de também se empolgarem com a ideia e acompanhar aquele projeto, abandonando o plano de Deus. Os discípulos nem haviam percebido, mas Jesus os livrara de um grande perigo. Ao empurrá-los para o barco os impedira de sofrer um mal maior: o afastamento da vontade de Deus. 
Quando algo não dá certo, não sai de acordo com o que você planejou, não satisfaz suas expectativas, e essa situação não foi causada por erro seu, pois você fez o que devia, não se culpe, nem reclame de Deus. Ele continua cuidando de você e pode estar livrando você de algo pior.  Sossegue o coração, entre no barco e enfrente a tempestade sem jamais esquecer de que “até os ventos e o mar lhe obedecem”
Aprendamos com Jesus que, muitas vezes, depois de grandes momentos de alegria, o recolhimento talvez seja a melhor saída.  A glória do mundo pode nos seduzir, atrair, enfeitiçar e distrair-nos do propósito que Deus.   A multidão nos apoia para o seu próprio bem e não porque está querendo a vontade de Deus. Algumas vezes é necessário ficar sozinho com Deus.  
Pessoas que querem pressionar-nos a ir numa direção contrária à de Deus não nos entendem. Maiores pressões podem vir dos mais próximos de nós, nem sempre porque querem o nosso mal, ou porque nos odeiam, mas porque pensam erradamente quanto ao que é bom para nós.  Vamos deixá-los de lado com suas expectativas erradas por um momento, passemos um tempo a sós com o Pai para ouvir apenas a voz d’Ele e sentir Sua pressão. Isso conservará a paz no coração em meio às tormentas da vida!

sábado, 21 de setembro de 2019

GASTANDO-SE E DEIXANDO-SE GASTAR



            Se fosse outro, já teria desistido daquela gente! Já lhe tinham causado tantos problemas!
A igreja deles ficava numa cidade grande, capital da província da Acaia, com cerca de seiscentos e cinquenta mil habitantes. A cidade estava numa posição privilegiada, pois ligava por terra dois importantes portos, evitando uma perigosa viagem marítima de trezentos e vinte quilômetros. Tinha um comércio próspero e, nela, eram realizados os jogos Ístmicos de dois em dois anos, em honra ao deus Poseidon. 
Atraía gente de todos os lugares e, por isso, era um caldeirão multicultural, onde as pessoas olhavam mais para o moderno e pouco se arraigavam às tradições. A religiosidade era intensa. Havia, ali, 12 templos, entre eles o da deusa Afrodite, cujas mil sacerdotisas, no final de cada tarde, desciam do templo para a cidade para vender seus corpos, em forma de culto ao sexo. Além disso, a mobilidade da cidade incrementava a imoralidade. Hoje, temos o verbo europeizar que significa adotar costumes e usos próprios da Europa. Naquela época, era usado o verbo corintianizar, formado com o nome da cidade. Esse verbo tornou-se sinônimo de fornicação. Estamos falando da cidade de Corinto.
Mas onde abundou o pecado, superabundou a graça. Em sua segunda viagem missionária, depois de ser escorraçado sucessivamente de três cidades na Macedônia, Paulo passou um tempo solitário em Atenas e seguiu para Corinto, em fraqueza, receoso e trêmulo (1 Co 2.3). Ali, encontrou Áquila e Priscila, um casal de crentes que, como Paulo, eram fabricantes de tendas.  Por isso ficou morando e trabalhando com eles. Depois da chegada de Silas e Timóteo, seus companheiros, Paulo dedicou-se, exclusivamente, à pregação da Palavra (At 18.1-5). Apesar da forte oposição, Deus o animou dizendo-lhe que tinha muito povo naquela cidade.  Como o número de salvos aumentava, Paulo fixou a reunião dos convertidos numa casa e permaneceu um ano e meio na cidade.
            Mesmo depois de partir, a ligação de Paulo com a igreja de Corinto continuou. Enquanto se ocupava na evangelização de Éfeso e arredores, Paulo teve que lidar com vários problemas surgidos na igreja de Corinto, praticamente pastoreando a igreja de longe, fazendo uma visita e escrevendo pelo menos quatro cartas. Os problemas daquela igreja eram muitos. Mau testemunho de alguns que se diziam crentes, mas praticavam a imoralidade, criação de facções internas, imaturidade, insatisfação com a liderança de Paulo, litígio entre os irmãos, abusos durante a celebração da ceia, conceitos errados quanto aos dons espirituais e heresias quanto à doutrina da ressurreição. Paulo escreveu respondendo uma carta da igreja que pedia esclarecimentos sobre casamento, carne sacrificada aos ídolos e uso do véu. Resolver problemas nos desgasta e esgota. Mas, Paulo não desistiu deles! O futuro da Igreja de Cristo estava em jogo.  
            Enviou-lhes Timóteo, mas este detectara uma forte oposição na igreja. Isso provocou uma visita imediata de Paulo, que lhe causou muita tristeza (2Co 2.1). A igreja se omitia diante dos acusadores. Ele parte carregado de aflição e é acusado de instável.
 Tito é enviado com uma carta escrita no meio de muita aflição. Enquanto aguardava a chegada de Tito com notícias, Paulo enfrenta forte tribulação em Éfeso, chegando a desesperar da própria vida (2Co 1.8). Chegando em Troâde e não encontrando Tito, não conseguiu tranquilidade suficiente para aproveitar a oportunidade que surgira ali. Seguiu para Macedônia, Tito chegou e as notícias foram boas. Com isso, a tristeza de Paulo transformou-se em euforia (2Co 7,6). Mas, logo depois novos informes noticiaram que outros falsos apóstolos chegaram a Corinto com novas acusações contra ele. 
Mas, apesar de todos estes problemas, ele não iria desistir daquela gente. Eu porém, de boa vontade me gastarei e serei gasto em prol da alma de vocês. Eu amo intensamente vocês. (2Co 12.15).
Ele iria gastar sua vida, tal como outros gastavam dinheiro (Mc 5,16; Lc 15.14). Não apenas gastaria, mas se deixaria gastar. Um gasto de sua própria vida em prol das almas daqueles irmãos que lhe causavam problemas e aflições. Este gasto seria de boa vontade, isto é, alegremente, cheio de disposição, sem colocar nenhum impedimento ou hesitação em gastar. E faria isso porque seu amor por eles era intenso.
Estamos dispostos a gastar nossas vidas e permitir que nos gastem em prol da salvação de almas?  Iremos nos gastar para resolver problemas que não foram causados por nós mas que podem causar prejuízo para a Igreja de Cristo? Estamos dispostos a sermos desgastados por pessoas que muitas vezes não valorizam nosso gasto?  Gastaremos nossa vida e nos deixaremos gastar por pessoas que não estão dispostas a nos recompensarem?  Faremos isso com disposição alegre, por sabermos que disso resultará frutos eternos? 
Isso depende do quanto amamos, pois quem ama intensamente, gasta-se e permite-se gastar por aquilo ou aqueles a quem ama. Mães gastam-se e deixam-se gastar pelos filhos a quem amam! Pessoas se gastam e se desgastam por uma causa pela qual se sentem apaixonadas!    
 Quer queiramos ou não, estamos gastando nossa vida e nossa vida está sendo gasta. Isto é inevitável. A questão é: Com que vamos gastá-la? Com efemeridades, que também se gastarão queimadas na fogueira do tempo? Ou com valores que resistirão e permanecerão por toda eternidade? Gastaremos nossa vida pelas almas, pela Igreja de Cristo, pelo povo de Deus, que permanecerão para sempre? 

domingo, 18 de agosto de 2019

A PERGUNTA NECESSÁRIA




dúvida,boy,doubt,vector Por que isso aconteceu comigo?
Esta é a pergunta mais comum, quando somos atingidos pelas tragédias da vida. Em geral, não queremos apenas entender a razão do ocorrido. Ansiamos por saber por que foi exatamente conosco e não com outros.          
O problema é que raras vezes temos uma explicação satisfatória para as tragédias e sofrimentos de nossa vida. E quando encontramos alguma explicação, ela não tem o poder de consertar o estrago causado e, portanto, dificilmente ajuda-nos a conviver pacificamente com o resultado da tragédia. Além disso, a pergunta esconde a crença de que, sabendo as causas, poderei evitar novas tragédias. Isso revela o desejo de controlar nossas vidas. 
            Por isso, penso que a pergunta adequada seria: Como reagir diante da tragédia? Como devemos nos comportar? Como deve ser nossa vida depois dela?
           Na busca de resposta a essas perguntas, convém analisarmos o comportamento de um homem que enfrentou uma enxurrada de tragédias: Jó. 
            Vivendo uma vida justa, agradável e cheia de prosperidade, de uma hora para a outra, Jó se viu vazio de tudo. Todos os bens levados por bandos inimigos, ou consumidos por uma tempestade de fogo, e todos os filhos mortos por um forte vento que derrubou a casa onde estavam. Estas trágicas notícias chegaram-lhe uma atrás da outra, sem lhe dar um mínimo de tempo para se recuperar (Jó 1.13-19).  
            Como Jó reagiu? Com sua tristeza adorou a Deus (Jó 1.20-22). 
            Tornou-se comum em nossa cultura, não suportar a tristeza. Queremos a alegria e até pagamos por ela.  Essa perspectiva contaminou nosso modo de adorar a Deus. Pensamos que só podemos adorar verdadeiramente na euforia dos momentos alegres. Mas Jó e vários salmistas depois dele nos mostram que devemos adorar não só na tristeza, como também COM nossa tristeza (Sl 42,43).
            Jó manifestou sua tristeza de acordo com a cultura de sua época: rasgou seu manto, rapou o cabelo e prostrou o rosto em terra. Mas nesta tristeza e com sua tristeza, ele adorou. 
            E como foi sua adoração? Ele se curvou diante de Deus, reconhecendo Sua soberania e declarou que tudo na vida era um dom. Seus bens e filhos não lhe eram direitos agora negados, mas doações imerecidas, que graciosamente lhe foram concedidos por Deus para serem desfrutados por um tempo. Eram presentes temporários, não eternos.  
Tragédias são choques de realidade que nos ajudam a perceber que não teremos para sempre nem os bens materiais e nem as pessoas que amamos. Mais cedo ou mais tarde elas nos deixarão, ou nós as deixaremos. 
            Em sua adoração, Jó confessou que o doador fora Deus e que, de modo soberano, Ele tinha o direito de tomar.  Este reconhecimento é adoração que pode coexistir com a tristeza e sua manifestação. Não é pecado chorar, lamentar nem manifestar tristeza, desde que reconheçamos que nosso Deus é o Soberano doador de todos os bens que possuímos. 
            Após essas tragédias, Jó perdeu a saúde e o apoio da esposa, mas não perdeu seu caráter. A aflição não modificou sua convicção. A esposa reconheceu que ele ainda se agarrava a sua integridade. Ela propôs que ele amaldiçoasse a Deus e se entregasse à morte. Enxergo nesta proposta a intensa aflição daquela mulher! Ela se aflige pela perda dos filhos e bens e com o sofrimento de seu marido. Diante disso, anseia que ele fique aliviado daquela angústia.  Antes de julgá-la, convém sermos compreensivos. Somos muito mais parecidos com ela do que com Jó. Queremos ver-nos livres do nosso sofrimento do modo mais rápido, ainda que isso contrarie nossas convicções e macule nosso caráter. Achamos que o alívio, mesmo que custe nossa fé, vale a pena. 
O conselho dela não é sábio e Jó claramente afirma isso. Ele também queria libertar-se de seus sofrimentos, mas sem perder sua fé em Deus. Para ele não valia a pena não sofrer se isso incluísse a perda da fé. A fé em Deus era, para ele, um bem mais valioso que uma vida confortável e sem sofrimento. Sua resposta para a esposa é uma declaração de fé das mais sublimes: 
            Deus nos deu o bem, e nós recebemos.
            Deus tem nos dado o mal, e devemos também receber. 
            Só a fé em Deus faz isso.
Jó perdeu também os amigos. Em um primeiro momento eles estavam tão aturdidos com o sofrimento, que ficaram sem palavras! Depois falaram o que não deviam, culpando Jó por aquele sofrimento. Além do fardo da tristeza, os amigos de Jó queriam que ele carregasse o da culpa. Afirmaram que se ele confessasse seus pecados, tudo voltaria ao que era antes. Mas Jó sabia que isso era mentira. Era mais uma saída fácil e errada que contrariava sua fé. 
Ele atravessou solitário todo o seu sofrimento, armado apenas com sua fé em Deus. E essa companhia foi o suficiente.  Para Jó, sua fé era mais valiosa que seus filhos, esposa e amigos. Era seu maior bem. Foi intensamente sofrido perder os filhos, não ter o apoio da esposa, ser acusado pelos amigos. Mas, seria eterna e irremediavelmente doloroso perder a fé. Se você perdeu tudo nesse mundo, menos a fé em Deus, você não perdeu nada.
Como se continua a viver depois de uma tragédia? Como levantar a cada dia e, acompanhado de intensa dor, enfrentar a vida? Mantendo a fé em Deus. Dando um passo de cada vez, e confiando naquele que tudo sabe, tudo pode e tem todo amor para nos confortar. 

sexta-feira, 9 de agosto de 2019

A FALTA DE EXPLICAÇÃO É PARTE DA EXPLICAÇÃO


            Esse mês de julho demorou a passar! Talvez você pergunte: como assim? Ele não teve o mesmo tanto de dias que outros meses? Sim, mas não medimos o tempo apenas de modo cronológico pelo tanto de dias e horas que passam. Medimos também subjetivamente, pelos acontecimentos vividos ou presenciados nos intervalos temporais. É a percepção emocional do tempo. Acontecimentos alegres dão a impressão de passarem rápido demais. São visitantes que partem cedo, deixando saudades. Gostaríamos que se demorassem mais um pouco. Por outro lado, acontecimentos tristes, parecem demorar uma eternidade para passar. São visitas enfadonhas e maçantes, que gostaríamos que fossem embora logo. Ficamos com a sensação de que o sofrimento nunca vai acabar. Nesse sentido, esse julho foi comprido! Tivemos várias perdas, algumas trágicas!
Quando nos deparamos com uma tragédia, ficamos confusos, perplexos, sem entender. Buscamos uma explicação, algo que possa ser razoável o suficiente para aliviar, nem que seja por um pouco a nossa intensa angústia. Qual seria a explicação?
            Como explicar que jovens inteligentes, talentosos sejam colhidos como flores viçosas antes de se transformarem em frutos? Como explicar que pessoas dedicadas a Deus, ansiosas por continuar servindo e testemunhando, partem desta vida? 
            A explicação está além de nosso alcance. Qualquer elucidação de nossa parte será mera conjectura. Parafraseando o famoso escritor: há mais coisa entre o céu e a terra do que imagina as nossas explicações. Mas, na ausência da explicação, já temos uma explicação.
            Essa é uma das lições que o relato de Jó nos ensina. Creio que sua história é bem conhecida. Um homem com uma família exemplar, próspero, justo, íntegro, fiel a Deus em todas as áreas da vida, elogiado pelo próprio Deus, enfrentou terríveis e simultâneas tragédias. A perda de tudo de modo repentino, culminando com a morte dos dez filhos soterrados sob a casa em que estavam para um encontro fraterno e festivo. Algum tempo depois, perdeu também a saúde, a compreensão da esposa e a simpatia dos amigos. Ficou sozinho em seu sofrimento! 
            Solidão que foi aguçada pela sensação da ausência de Deus! Esse foi seu maior sofrimento: o silêncio de Deus. A saudade que sentia de Deus lhe consumia (Jó 19.27). Deus não lhe respondia as orações, não lhe dava explicações. Ele clamava, mas parecia que Deus nem se importava. Ele, que havia desfrutado de alegre comunhão, como servo fiel que era, sentia-se abandonado por Aquele que poderia, não só lhe explicar tudo que estava acontecendo, como lhe trazer esperança e consolo!
            Esta é a grande reclamação de Jó no decorrer do livro!
            Mas, Deus estava presente, e bem presente, embora Jó não percebesse. Ele ouviu e avaliava tudo que Jó e os amigos de Jó falaram (Jó 38.1,2; 42.7). Mas por que Deus não respondia e explicava? Será que Ele não amava Jó o suficiente para aliviar o sofrimento dando algumas explicações? Ou será que Deus não tinha explicações para dar? Ou se tinha, não tinha poder para acessar Jó? 
            Deus tinha todas as explicações. Ele poderia na hora em que quisesse interromper o sofrimento de Jó e explicar tudo. O próprio Jó reconheceu que Ele tudo pode(Jó 42.2). Deus amava seu servo Jó intensamente. E porque o amava, não explicava. 
            Deus estava vindicando Seu caráter e o de Jó. Queria deixar claro que Ele conhece bem os seus, e que Jó o servia com sinceridade. Para isso era necessário deixar Jó sofrer sem que soubesse a razão. 
            A falta de explicação fazia parte da explicação! Se a razão ficasse clara, a fé não seria tão testada!  Era necessário que Jó suportasse seu sofrimento sem conhecer os motivos, e demonstrasse que, com ou sem explicações, ele continuaria crendo e servindo ao seu Deus.           
           E foi isso que ele fez. Declarou de modo inconteste que não importaria o que Deus fizesse com ele, ele ainda esperaria em Deus.  
           Mesmo quando falou, Deus não explicou a razão das tragédias na vida de Jó. Apenas argumentou que Jó não sabia de tudo, mas Ele sabia e governava todas as coisas com sabedoria (Jó 38-41). Nós, leitores do livro, sabemos a razão do sofrimento de Jó, mas o próprio Jó não soube, mas creu!
         Jó foi aprovado em um teste em que não precisava de explicações sobre os motivos, mas apenas confiar em Deus. 
Não saber não foi empecilho para crer.  A falta de explicações para as tristezas e perdas da vida testa nossa fé e nos dá a oportunidade de exercitar nossa confiança em Deus. Vamos continuar confiando mesmo sem entender? 
            Jó passou no teste, e nós?

sexta-feira, 2 de agosto de 2019

NADA É GRANDE DEMAIS PARA DEUS E NINGUÉM É PEQUENO DEMAIS PARA ELE

Aprender os pronomes de tratamento, normalmente ajuda-nos ao nos dirigir às pessoas. Mas há situações nas quais não sabemos se o tratamento deve ser formal ou não. Por exemplo: ficamos constrangidos de chamar uma mulher de “senhora” e ela reclamar que a estamos tratando como uma idosa. Por outro lado, não nos sentimos à vontade para chamá-la de “você”, pois ela poderia interpretar que estivéssemos tomando uma liberdade indevida. 
Podemos enfrentar uma situação semelhante no tratamento com Deus. Por considerá-lo um Ser inigualável, supremo e grandioso, nós O tratamos de um modo respeitoso, mas com medo de nos aproximar com intimidade. Ou podemos achá-lo tão amável e próximo a nós, que nos dirigimos a Ele como se fosse nosso “pareceiro”, sem nenhum respeito, eliminado a distinção que existe entre Ele e nós. 
  Na teologia há dois termos que tentam manter em equilíbrio a distância e proximidade de Deus, a intimidade e o temor devido a Ele. São eles: transcendência e imanência. Tais termos descrevem a ação de Deus em relação à Sua criação.    O primeiro expressa a ideia de que Deus é infinitamente superior a nós, soberano e exaltado, e o segundo que Ele está próximo de todos nós. Ele tanto é o Deus de longe, como o Deus de perto (Jr 23.23). O salmo 113 expressa estas duas verdades.
O salmo é emoldurado pela palavra “Aleluia”, que aparece no início e no fim e significa “Louvai ao SENHOR”, pois na língua na qual o salmo foi originalmente escrito ela é formada pelo verbo “louvar” e uma contração do nome pessoal de Deus (“Jeová” ou Javé”, que nas nossas versões da Bíblia normalmente é grafado com SENHOR, com todas as letras maiúsculas).
O salmista faz um convite ao louvor. Louvar é manifestar apreço, admiração diante das virtudes ou ações de alguém. É elogiar. No caso de Deus é reconhecer Seu Supremo valor e honra. Expressar sua importância contando quem Ele é e o que Ele tem feito. Isso acontece quando mencionamos Suas virtudes e feitos (Sl 78.4). 
O louvor ocorre nas nossas orações, no que testemunhamos aos outros, nos cânticos, nas ações de graças e na música que tocamos e cantamos. Para ser um louvor tem que ser com alegria e de modo público. Pois admiração não expressada não se torna elogio. 
A razão dada pelo salmista para o louvor é que Deus é Transcendente e Imanente.   Deus é excelso, acima de toda criação, soberano sobre tudo, está situado no lugar mais alto, acima dos céus, inigualável. Isso enfatiza Sua santidade, isto é, que Ele está separado de tudo o mais, não precisando de nada nem de ninguém. Que Ele basta a Si mesmo. Está tão acima de tudo que precisa se abaixar para ver o que está no céu!
Mas esse mesmo Deus se interessa e se relaciona com Sua criação. Ele se abaixa até o pó para levantar o desvalido, aquele que é considerado sem valor, rejeitado e sem socorro de ninguém. Ele vai até o monturo, o lixão da vida, para buscar o necessitado. Ele é o Grande Deus, mas também é o Deus que se importa e acode o necessitado. É o Deus que por ser grande pode mudar as situações, trazendo honra aos desonrados e alegria aos tristes.  Mesmo sendo um governador que poderia ser intocável, Ele bondosamente se inclina, verifica e age, invertendo situações e abençoando a terra. 
A transcendência e a imanência, junto com o poder e a graça de Deus são os pilares da oração. Apenas um Deus transcendente e poderoso merece a nossa oração, sabe o que fazer com nossas petições e pode receber nossa gratidão e nosso louvor. Somente um Deus imanente e gracioso vai se interessar por nossos problemas. Como um pai, que se inclina para ouvir os problemas que angustiam seu pequenino filho, mesmo que, para esse pai, aqueles problemas sejam bobagens fáceis de serem resolvidas. Mas ele sabe demonstrar interesse real e amoroso. 
O Salmo nos demonstra que a teologia pode ajudar na oração e fortalecer nossa confiança em Deus. Quanto mais conhecermos nosso Deus, mais iremos confiar Nele. Nada é tão grande como nosso Deus, e ninguém é pequeno demais para Ele não se importar. Ele não precisa de nós, mas nem por isso é indiferente a nós. 

Podemos clamar a Ele com confiança. 

quinta-feira, 13 de junho de 2019

LECTIO DIVINA


Lectio Divina é uma expressão em latim que pronuncia-se "lekssio divina" e significa "leitura divina". 
Trata-se de um método milenar de ler, meditar e orar as Escrituras. Em outras palavras, é um método antigo de fazer o devocional particular e diário.  Devemos lembrar que um método deve servir como apoio na busca de um objetivo. Se tal objetivo pode ser alcançado de outro modo, o método torna-se desnecessário (José Moreno, em Lectio Divina, pg. 14)
O alvo deste método é desenvolver em nós uma mentalidade bíblica, um modo de pensar que se assemelhe ao de Deus, transformando-nos pela renovação da nossa mente, para assim vivenciarmos a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm 12.2). 
O pressuposto do método é que a Bíblia é a Palavra de Deus, que Ele nos fala hoje através delaConforme lemos:  Tudo que outrora foi escrito para nosso ensino foi escrito, a fim de que pela perseverança e consolação das Escrituras, tenhamos esperança (Rm 15.4)Estas coisas lhe sobrevieram como exemplos e foram escritas para advertência nossa... (1Co 10.11). Lemos a Bíblia para ouvir Deus falando conosco através dela, e para que, assim nossa vida possa ser direcionada por Ele. 
Quero apresentar alguns passos deste método.
            1º PREPARAÇÃO.  Reflexão exige um local e atitude apropriados.  Escolha um local e horários quietos e calmos, onde possa manter a concentração.  A repetição de local e horários ajuda a desenvolver uma associação mental que leva a uma mentalidade propícia para a meditação.  Assente-se quietamente, numa posição de relaxamento, mas também de alerta. Acalme seus pensamentos, deixando toda preocupação, perturbação e distrações de lado, como se estivesse em outro local. 
Se encontrar dificuldade nisso, controle sua respiração. Com os olhos fechados inspire e expire lentamente. Repita esse exercício até que sua respiração se acalme e as batidas do seu coração se normalizem. 
Ore pedindo que Deus guie seu tempo de leitura e reflexão das Escrituras, mostrando-lhe a verdade da Sua Palavra. Se tiver dificuldade nisso, repita conscientemente uma oração conhecida, como Pai nosso, ou uma frase de clamor como "Deus, tem misericórdia de mim" ou ainda, "Senhor me ajude a me acalmar", ou mesmo entoe um cântico que você aprecia.  Esteja alerta para ouvir Deus falando na leitura da Palavra. 
            2º LEITURALeia a passagem concentradamente, repetidamente. Ao menos uma vez leia em voz alta. Impeça sua mente de vaguear e voar para longe do texto.  Se puder, tenha outras versões por perto e leia a passagem nelas.  Se alguma palavra, frase ou pensamento do texto lhe chamaram a atenção, anote. Pergunte ao texto: o que você está querendo ensinar?
            3º MEDITAÇÃO. Medite. Reflita na passagem. Especialmente nos aspectos que mais lhe tocaram. Permita que, além dos pensamentos as afeições, emoções, vontade e até a imaginação permeie seu entendimento da passagem. Imagine e crie imagens mentais dos eventos narrados na passagem. Meditar é ruminar, repensar o que foi lido. Isso não pode ser feito de forma apressada. Entre na passagem, perguntando o que ela diz a você. Se for uma narrativa procure saber com quais personagens você se identifica.
            4º ORAÇÃO.  Ore falando com Deus sobre a passagem lida. Conte para Deus o que chamou sua atenção na passagem. O que lhe tocou. E peça para Ele mudar sua vida de acordo com aquela passagem. Pode colocar a passagem na primeira pessoa e em forma de oração. Por exemplo: se você ler Mt 4.4 onde Jesus diz que nem só de pão vive o homem, você poderá orar assim: Senhor, está escrito que não é o pão que me dá vida, mas a Tua Palavra. Ajude-me a me alimentar e depender desta Palavra. 
            5º CONTEMPLAÇÃO. Contemple a presença de Deus. Desfrute da presença de Deus, como alguém que está em contato com uma Pessoa muito preciosa. Em silêncio e quietude alegre-se com Deus através de sua palavra. Louve e agradeça por este tempo. Se lembrar de algum cântico, entoe-o. 
            6º AÇÃO. Depois de dar os passos acima, anote algumas coisas que você precisa fazer à luz da passagem lida. Então, calmamente, saia do lugar, alegrando-se com o fato de que a presença de Deus continuará com você.    
Um lembrete: se durante o processo, os ruídos internos aparecerem (preocupações, problemas para resolver), pare e conte o problema para Deus. Não resista a este barulho, mas ouça-o e conte-o a Deus, e depois continue no processo.  Algumas vezes as vozes internas aproveitam estes silêncios para gritarem conosco. Deus pode usar isso para mostrar direções e correções de que nossas vidas precisem. 
No princípio, pode ser difícil aplicar este método mas, com a prática, você vai se acostumando com ele. Meu desejo é que seu amor por Deus e Sua Palavra, e seu aproveitamento da mesma aumentem, e que você se junte aos muitos cristãos que no decorrer da história se deleitaram com Deus, através deste método.  
    


sábado, 20 de abril de 2019

A CRUZ MATOU O MEDO DESTES HOMENS E OS TIROU DAS TREVAS PARA LUZ

            O nome do primeiro era José. O mesmo nome do patriarca que salvou os seus antepassados da fome, cerca de mil e oitocentos anos antes, quando seu povo foi para o Egito. Por haver outros “Josés” e porque ele era da cidade de Arimatéia, que distava uns 32km de Jerusalém, tornou-se conhecido como José de Arimatéia. Sua participação na vida de Jesus é contada nos quatro evangelhos (Mt 25.57-60; Mc 15.43-46; Lc 23.50-53; Jo 19.38-42)
            José era um homem rico que, além de posses, também tinha muito respeito e prestígio, sendo, por isso, muito estimado e honrado pelo seu povo. Pertencia ao Sinédrio, um conselho formado pelos líderes judeus com autoridade para administrar os assuntos civis e religiosos na Palestina. Este conselho estava subordinado apenas ao procurador romano. Mas, diferente de muitos outros membros do Sinédrio, José era um homem bom e justo. Alguém que prezava pelos valores de Deus e se esmerava em seguir a verdade, a bondade e a justiça. 
            Sua vida era dirigida por uma esperança: a vinda do Reino de Deus. Ele aguardava ansiosamente a chegada do Messias libertador, o descendente de Davi que assumiria o trono em Jerusalém, salvando o povo de Israel do domínio estrangeiro. Seria a chegada do Dia do Senhor, trazendo juízo sobre os opressores do povo e salvação para os fiéis. A morada santa de Deus, o templo do Senhor, seria purificado das profanações e corrupções, e o povo de Deus poderia adorá-lo em santidade e justiça para todo o sempre. A consolação de Israel, a redenção de Jerusalém era seu sonho e mais forte desejo. Esta esperança era compartilhada com obsessão po muitos judeus(Lc 1.68-75; 2.25,38). 
Além disso, José de Arimatéia era discípulo de Jesus, um seguidor, um aprendiz. Por isso não concordou com a decisão tomada pelo Conselho dos judeus. Provavelmente não estava presente, quando Jesus foi julgado pelo Sinédrio, pois Marcos nos diz que todos os presentes julgaram Jesus digno de morte. Soube depois, já que o julgamento foi realizado bem cedo naquele dia (Mc 14.64; Lc 22.66). 
Até então, José seguia Jesus ocultamente, não de forma declarada. Tal como outros, que depois de presenciar os milagres e ensinos de Jesus acreditaram nele, mas amavam mais a glória e respeito dos homens e não manifestavam sua fé publicamente (Jo 12.42,43). Talvez, José amasse mais seu lugar no Sinédrio e sabia que se proclamasse que Jesus era o Messias há tanto esperado, seria expulso, perderia sua posição de respeito e honra. Ele se contentava em seguir, mas não manifestava isso publicamente. Considerava que guardando em segredo sua fé em Jesus, manteria também sua posição de prestígio diante da sociedade!
Mas, a cruz o tirou do anonimato. O que aconteceu com Jesus constrangeu seu coração. Seu discipulado não mais seria um segredo. Tinha que manifestar de que lado estava, e não era do lado da liderança judaica. Não lhe importava mais perder sua posição e o prestígio. Honrar Jesus era uma valor maior agora, mesmo que já fosse um tanto tarde para isso.
 Sabia que, sendo membro do Sinédrio, poderia fazer um pedido oficial ao governador Pilatos para ter o corpo de Jesus e dar-lhe um sepultamento adequado, algo que que os parentes de Jesus não conseguiriam fazer. Precisava agir rápido, pois o sábado se aproximava, e nele não poderia fazer qualquer obra. Se o corpo não fosse sepultado logo, ficaria ao relento, iria se decompor mais rápido, e poderia até ter partes devoradas pelos abutres e feras.
José agiu com coragem, desafiando os perigos e oposição. Foi ousado. A ação que os seus pares tomaram contra Jesus não o intimidou. Algo precisava ser feito para impedir que o corpo de Jesus não recebesse um digno sepultamento digno e fosse lançado na vala comum. Teria também que arriscar um encontro com Pilatos, um governador que era conhecido como alguém inflexível e implacavelmente severo, e que já se encontrava indisposto para com a liderança judaica (Lc 13.1; Jo 19.19-22). 
A ação dele é mais admirável porque não esperava nenhum benefício, pois Jesus estava morto. Foi um ato de misericórdia, desprovido de qualquer interesse de receber retribuição. Era um risco desnecessário para ele, e que não lhe traria nenhuma recompensa. 
Não poderia fazer tudo sozinho. Providencialmente surgiu  Nicodemos, outro que seguia Jesus nas sombras da noite, e que já havia feito uma defesa de Jesus diante do Sinédrio (3.1-3; 7.50-52). Este cuidou da compra de cerca de 34 quilos de especiarias, uma mistura composta de mirra, uma resina aromática trazida do Egito, que era transformada em pó; alóes, que era um pó feito da madeira do sândalo aromático. Não se destinava a embalsamar o corpo. Tinha a função de suprimir o odor da putrefação. Este composto formava um perfume que geralmente era usado em ocasiões mais alegres (Sl 45.8; Ct 4.14).
Com a permissão de Pilatos, eles foram até o local, levando seus empregados. Era necessário tirar os cravos que pregavam os pés de Jesus no madeiro, depois baixar a parte horizontal da cruz, soltando as cordas que o amarravam. Então, depois do corpo depositado no chão, retirar os pregos dos pulsos, lavar o corpo para remover o sangue que o cobria, carregá-lo e colocar num local onde pudesse ser envolvido com os panos de linho que compraram. A quantidade e a qualidade do material usado demonstrava que eles queriam dar a Jesus um sepultamento digno de um rei. 
Estes panos já estavam cobertos pelas especiarias. Nas proximidades, havia um túmulo novo, ainda não usado, que tempo antes, José de Arimatéia havia mandado abrir numa rocha. No túmulo havia uma pedra, em forma de leito. Ali seriam colocada uma camada de especiarias, depois o corpo de Jesus já enfaixado, e o restante das especiarias acomodados em volta de Jesus. Uma pedra foi rolada para fechar a entrada. Proteção e cuidado necessários para proteger o corpo de Jesus. 
O sepultamento em grutas era para os ricos, que poderiam se dar ao luxo de comprar um terreno para isso, e ali mandar escavar na rocha uma espécie de quarto com nichos, onde os corpos seriam colocados. Os pobres eram sepultados em covas abertas no chão. Após um ano do corpo na gruta, os parentes poderiam entrar, pegar os ossos do cadáver e colocar numa caixa com o nome da pessoa, que era o ossuário, onde o morto aguardaria a ressurreição. Mal sabiam eles, que isso não ocorreria com o corpo de Jesus! Surpresa e alegria maior teriam ao ver Jesus ressuscitado! Esta seria sua recompensa inesperada e impagável! 
A cruz encheu estes homens de coragem, matou o medo que até então os dominava, libertou-os das amarras das glórias mundanas, e permitiu que manifestassem sua fé. Séculos depois Isaac Watts (1674-1748) expressaria esse sentimento assim:
Olhando o lenho crucial, em que morreu da glória o Rei
Às honras, vida mundanal, desprezo eterno votarei. 
Eles ainda não compreendiam tudo, mas a cruz lhes fez compreender que era necessário tornar pública sua fé em Jesus. A cruz os libertou do medo e os trouxe das trevas para a luz!

RENOVANDO O ÂNIMO PARA ENFRENTAR MAIS UM ANO QUE SE INICIA – 2ª PARTE

  Há pessoas que “ desistem da vida muito antes que seu coração pare de bater — estão acabadas, esgotadas, despedaçadas, mas ainda assim aco...