sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

RENOVANDO O ÂNIMO PARA ENFRENTAR MAIS UM ANO QUE SE INICIA – 2ª PARTE


 
Há pessoas que “desistem da vida muito antes que seu coração pare de bater — estão acabadas, esgotadas, despedaçadas, mas ainda assim acordam todas as manhãs e arrastam as pernas cansadas por mais um dia. Talvez esperem por uma mudança - ou mesmo um milagre -, mas os sonhos fugidios e os anos perdidos lhes pesam nas costas. É o único casaco que sabem usar. Acostumaram-se.”[1]


            Creio que a citação acima descreveria a vida de alguns dos exilados de Israel. Desprezados, oprimidos, pobres, necessitados, sedentos, roubados, saqueados, aprisionados, cegos e surdos para o que Deus dizia e fazia, sentindo-se esquecidos e abandonados por Deus (Is 40.27; 41.14,17; 42.18-20,22; 49.14). Em nossos dias também há pessoas assim. Pessoas que se sentem na margem de um rio, em que, de um lado há a necessidade, do outro, o medo; e além do seu alcance: a esperança.[2] 

Qual seria a ponte para aquelas pessoas alcançarem a esperança e terem suas forças renovadas? A resposta é o conhecimento de Deus, conforme revelado em Sua Palavra. Conhecer a Deus é o modo como deve o povo de Deus reagir quando se encontra numa situação difícil que não compreende.[3] 

Deus revelou-se aos exilados para lhes renovar o ânimo, através do profeta Isaías (Is 40.12-31). Após uma belíssima descrição de Deus, o profeta repete nos últimos quatro versos palavras que tratam do cansaço e da exaustão, e assim contrasta Deus com as forças do mundo. Deus não se cansa, nem fica exaurido. Ele fortalece os cansados e sem vigor. Os fortes deste mundo se cansam e ficam exauridos. Mas os que esperam no SENHOR não se cansam nem ficam exauridos. Deus é o incansável que revigora os cansados e desanimados. 

Este é o ponto alto da mensagem do profeta, o qual oferece uma palavra de conforto e encorajamento, sugerindo que é possível suportar as provações através da ajuda de Deus, a qual está disponível para os seus. Deus é "aquele que dá” força extra para que os cansados não se cansem ou enfraqueçam durante esse período de dificuldades. Deus não está ausente, indisponível ou indisposto a ajudar.[4] Ele cuida dos cansados e impotentes. Deus nunca tem falta de nada, mas sempre está pronto para ajudar aqueles que sofrem falta. Sua força é inesgotável e suficiente para socorrer os que dependem d’Ele. 

Todo poder humano é limitado.  Mesmo os humanos mais vigorosos são mortais e falíveis. Têm suas limitações físicas. Não precisamos temê-los, quando temos outra fonte para suprir nossas vidas. Mas, se não tivermos nenhuma relação com a fonte transcendente, então estas palavras trazem consigo o calafrio do túmulo. Esperar em Deus não é simplesmente deixar o tempo passar, mas viver com expectativa confiante.[5]       

Esperar em Deus implica a existência de um laço espiritual que permite que as pessoas admitam a sua própria impotência e entreguem o seu bem-estar completamente nas mãos do seu forte poder. Este ato de confiança permitirá a Deus substituir a fraqueza humana pelas poderosas asas metafóricas de uma águia. A confiança permite que as pessoas percorram o caminho que Deus escolheu para as suas vidas (quer seja agradável ou desagradável) sem se cansarem ou quererem desistir. [6] 

É uma dependência ativa que espera com perseverança concentrada, desistindo de seus próprios esforços, mas não de abandonar sua confiança em Deus. Essas pessoas devem viver pela fé, pois só assim podem permanecer de pé, conforme já havia sido dito em Is 7:9. Elas confiam nos meios, métodos e tempo do SENHOR e não ficarão desapontadas.[7] Por isso, antecipam os resultados positivos prometidos por Deus, continuando avançando, acima das circunstâncias. Tais pessoas trocam sua fraqueza pela força de Deus, seu cansaço pelo vigor de Deus, seu desânimo pelo ânimo em Deus, sua desesperança pela esperança em Deus 

São semelhantes às águias, capazes de voar alto, levando e cuidando de seus filhotes com segurança, protegidos diante do perigo (Ex 19.4; Dt 32.11; Jr 49.16; Ob 4). Que agem de modo impetuoso, rápido e forte (Dt 28.49; 2Sm 1.23; Jó 9.26; Jr 4.13; Hc 1.8). Sua força é renovada como a da juventude (Sl 103.5). Longe de serem esmagados na terra por sua própria impotência, os que dependem de Deus podem estender as asas sem qualquer esforço, como fazem as águias, e planar sobre o vento.[8] Como corredores de uma maratona, continuam na corrida mesmo cansados, pois sabem e esperam que Deus os fortaleça.   

O profeta mostra que Devido à sabedoria e ao poder soberano de Deus, o povo de Judá devia compreender que Ele conhecia os seus problemas, preocupava-se profundamente com eles e continuaria a apoiá-los. Aqueles que confiavam em sua própria força física falhariam, mas aqueles que confiavam em Deus teriam suas forças renovadas por Ele para que pudessem ‘voar com asas como águias’. [9]

O que espera em Deus sabe que reclamar dos problemas atuais não os fará desaparecer. A solução é reconhecer que tudo o que acontece faz parte do plano soberano de Deus e que Deus dá livre e abundantemente uma porção de sua força àqueles que precisam dela em tempos difíceis. É na fraqueza humana que se manifesta o seu poder e a sua glória.[10] Pois Deus é capaz de dissipar as nuvens da incerteza, fraqueza e desorientação do seu povo. Ele graciosamente faz disponível sua vitalidade ao combalido na terra.[11] 

Esperar em Deus implica conhecer Deus, conforme Ele se revelou em Sua Palavra. Reconhecer que Ele é o Deus sábio e criador todo-poderoso dos céus e da terra, que sua sabedoria e o seu controle soberano são ilimitados e ultrapassam em muito a compreensão do homem. Se Deus pode marcar as distâncias nos céus com as suas mãos, pode medir a água dos oceanos na palma da sua mão e pode chamar todas as estrelas pelo nome, Ele pode fazer qualquer coisa que decida realizar. O seu poder é insondável; a sua influência é ilimitada; a sua sabedoria não tem limites. Isto significa que cada pessoa pode saber com certeza que Deus é capaz de controlar todos os aspectos deste mundo. Ainda hoje, a esperança assenta-se numa base sólida do que Deus fez no passado; por isso, confiar em Deus para o futuro faz sentido. Quando surgem provações e dúvidas, o povo de Deus deve voltar ao fundamento da sua fé, o caráter de Deus que é revelado nas Escrituras. Ela retrata um grande Deus que é digno de confiança.[12]

Diante dos acontecimentos que escapam ao nosso controle e nos fazem cansar e cair, devemos lembrar de quem Deus é. Isto renova nossas forças e concede energia para continuar confiantes esperando em Deus.



[1] Hofman, Beth, Procure por mim, (Trad. Claudia Guimarães, Angela Pessoa); RJ; Rhada Brasil Edições e Serviços, 2021. Pg. 227.   

[2] Martin, Charles, O que não está escrito, (Trad.Carlos Alves); RJ; Reader's Digest, 2014, pg. 475

[3] Smith, Gary, Isaías 40-66, vol. 15B, The New American Commentary (Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers, 2009), 121.

[4] Smith, Gary, 2014, pg. 122

[5]  Oswalt, John, (2011), 104.

[6] Smith, Gary (2009), 122.

[7] Paul R. House, Isaiah: A Mentor Commentary, vol. 2, Mentor Commentary (Ross-shire, Grã-Bretanha: Mentor, 2018), 289.

[8] Oswalt, John (2011), 105.

[9] Charles Dyer et al., Nelson's Old Testament Survey: Discover the Background, Theology and Meaning of Every Book in the Old Testament (Nashville, TN: Word, 2001), 564.

[10] Smith, Gary (2009), 122.

[11] Oswalt, John (2011), 104.

[12] Smith, Gary (2009), 123.

terça-feira, 2 de janeiro de 2024

RENOVANDO O ÂNIMO PARA ENFRENTAR MAIS UM ANO QUE SE INICIA - 1ª Parte






Eles estavam desanimados, frustrados e sem esperança. Sentiam-se vulneráveis diante dos poderes que dominavam o mundo. Eram exilados cativos, vivendo sob o domínio do maior império de sua época, trabalhando nos extensos e numerosos canais dos rios da Babilônia. Diante disso, indagavam se Deus ainda se importava com eles. 
 

O domínio babilônico tinha causado um impacto devastador em suas vidas. A Babilônia já os havia dominado em duas campanhas. (2Rs 24.1-17). A terceira cercou a cidade por dois anos. Podemos imaginar o estado de medo e privação que seus habitantes enfrentaram. Quando a resistência acabou, os muros foram rompidos e a cidade invadida (2Rs 25.1-22).  Com a invasão, vieram os assassinatos, os estupros, a destruição das propriedades, a perda das instituições públicas que sustentavam a vida em comunidade, enfim, o caos. Criando uma situação de extrema privação, desorientação entorpecimento e anarquia. 

Calcula-se que mais da metade da população de Jerusalém foi levada cativa, morreu ou fugiu durante o cerco[1]. O país foi destruído, a capital arrasada e, aquilo que mais prezavam, o templo, que era o sinal da presença de Deus entre eles, foi demolido e queimado. O rei, que era o ungido do SENHOR, e os sacerdotes, que deveriam funcionar como os representantes de Deus no meio deles, foram aprisionados e tornados cativos também. Parecia o fim definitivo da dinastia davídica e a falha das promessas que Deus havia feito. Todas as suas esperanças foram transformadas em cinzas com tudo de valor que havia em sua amada cidade.

 Além disso, ficaram os terríveis efeitos psicológicos sobre os familiares sobreviventes: a perda de entes queridos, a violência que testemunharam e que se agarrava em suas memórias, as agonias da deportação e migração forçadas e a insegurança quanto ao futuro em uma terra estranha. Com tal peso sobre os ombros, andavam curvados sob o desânimo e a desesperança. Dominados pela apatia, se perguntavam se Deus os havia rejeitado para sempre. Outros sentiam-se tentados a apostatar, escolhendo adorar as divindades de seus poderosos oponentes. 

Onde encontrar ânimo para perseverar numa situação assim? Na Palavra de Deus. Antes que tudo isso ocorresse, o profeta Isaías havia anunciado o conforto de Deus e receitado o remédio para esta situação: relembrar quem Deus era. No conhecimento de Deus, encontrariam ânimo e teriam suas forças renovadas (Is 40.12-31). 

No belíssimo texto escrito em linguagem poética e cheio de perguntas retóricas que visavam persuadir e mudar o ânimo do povo, Isaías os lembra de que seu Deus era incomparável e imensamente grande, a ponto de conter na Sua mão toda a água do mundo, medir a extensão dos céus a palmos e pesar toda a terra em uma medida. Ele também era autossuficiente, nunca dependeu de nada nem de ninguém e soberano, pois os poderes deste mundo eram como pingos que caem de um balde puxado num poço, ou como a poeira que fica numa balança, depois de pesado o cereal. 

Diferente dos ídolos, que dependiam da iniciativa, da perícia e de entendimentos humanos para terem alguma estabilidade, Deus estava assentado no Seu trono, contemplando todos e não sendo ameaçado por ninguém. Diante d’Ele, os poderes desde mundo são como ervas do campo: nascem, crescem e desaparecem rapidamente. Ele, por ser grande em força e poder, é o Criador e Sustentador de tudo, sabe com exatidão o número e nome de cada estrela, cuida de todas elas a ponto de nenhuma delas faltar. 

Diante de um Deus assim, como pensar que Ele havia se esquecido ou abandonado o Seu povo? Que Ele não mais se importava? Que não estava interessado na sua vida? Se Ele era capaz de cuidar das estrelas e controlar os poderes do mundo, como não cuidaria e se importaria com Seu povo? Por que se deixar dominar pelo sentimento de abandono, solidão, desprezo e desesperança? 

Considerar-se abandonado e esquecido por Deus demonstrava não ter compreendido quem, de fato, é o Deus das Escrituras. Será que você não sabe? Ou não ouviu? Que o Deus Eterno, o SENHOR, Criador dos limites da terra não se cansa e nem se fatiga? Que seu entendimento não tem limite? (Is 40.29). 

Ele é o Eterno, sem princípio e sem fim, portanto nada no passado ou no futuro está fora de seu conhecimento. É o Criador de toda a terra, por conseguinte, não há nação ou grupo de pessoas fora de Seu conhecimento ou controle. O Seu poder para administrar os assuntos de milhares de estrelas nos céus e de milhões de pessoas na terra nunca o fatiga ou o enfraquece por exaustão. Sua sabedoria é ilimitada, por isso não há pontas soltas ou circunstâncias incontroladas do destino que ultrapassem Sua soberania.  Deus está envolvido com cada período de tempo, cada espaço do universo, cada pormenor da vida e sua total compreensão do que aconteceu, acontece ou acontecerá em todo o céu e terra.[2] 

O Criador dos limites é ilimitado. O Seu poder é inesgotável. O Seu conhecimento insondável. Ele pode fazer o que quiser e quando quiser. Sua demora não pode ser considerada como incapacidade, impotência ou ignorância. Nós não sabemos tudo d’Ele e de Seus planos, mas Ele conhece tudo sobre nós. 

Porque Ele é o 'Deus eterno', não há maneira de a Sua força ter diminuído. Ele 'não se cansa'. Nem perdeu a sabedoria necessária para lidar com as necessidades do Seu povo.[3]

O Deus que sustenta as estrelas também sustenta seu povo.[4]

Nada esteve ou estará escondido de Deus, nenhuma questão de justiça foi ou será negligenciada por Deus. As provações e tempos difíceis que o povo de Deus passa não são causadas por Sua falta de poder ou cuidado. Os tempos difíceis surgem porque as pessoas estão fracas ou cansadas, porque pecaram ou porque não compreendem alguma parte dos planos de Deus. Podemos ficar confusos porque o modo e o tempo de Deus não são os nossos, mas jamais devemos pensar que nossas dificuldades são por causa de Sua fraqueza, negligência, injustiça ou incompreensão.[5]  

Conhecer a Deus, relembrar Seu poder, Sua soberania, Sua sabedoria e Seu amor é o que precisamos para enfrentar mais um ano com ânimo renovado. 



[1] Kim , Hyun Chul Paul, Reading Isaiah: A Literary and Theological Commentary, Reading the Old Testament Series (Macon, GA: Smyth & Helwys Publishing, Incorporated, 2016), 8–9.

[2] Smith, Gary, Isaías 40-66, vol. 15B, The New American Commentary (Nashville, TN: Broadman & Holman Publishers, 2009), 121

[3] House, Paul R., Isaiah: A Mentor Commentary, vol. 2, Mentor Commentary (Ross-shire, Grã-Bretanha: Mentor, 2018), 287-288.

[4] Grogan, Geoffrey W., “Isaiah”, in The Expositor’s Bible Commentary: Isaiah, Jeremiah, Lamentations, Ezekiel, ed. Frank E. Gaebelein, vol. 6 (Grand Rapids, MI: Zondervan Publishing House, 1986), 246.

[5] Smith, Gary, (2009), 122.

RENOVANDO O ÂNIMO PARA ENFRENTAR MAIS UM ANO QUE SE INICIA – 2ª PARTE

  Há pessoas que “ desistem da vida muito antes que seu coração pare de bater — estão acabadas, esgotadas, despedaçadas, mas ainda assim aco...