sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

NÃO TENHA MEDO: DEUS É NOSSO RESGATADOR

        Já se sentiu desprestigiado, desvalorizado, depreciado? Você mesmo já se considerou alguém sem valor, um derrotado, sentindo-se um verme, um zé ninguém? Já percebeu a tendência do mundo de considerar o povo de Deus como um zé-povinho, sem muito valor, sem muito a contribuir? 

      Situações e circunstâncias da vida podem nos causar tais sensações. A própria falta de consideração de pessoas a quem estimamos e por quem temos admiração, pode fazer com que nos sintamos um lixo. O povo de Judá, durante o exílio, sentiu-se assim. Estavam dominados pelo poderoso Império Babilônico, desterrados, seu templo destruído e seu rei aprisionado, embora soubessem que essa situação era resultado do seu próprio pecado. Porém Deus dirigiu-lhes uma palavra de conforto, dizendo: não temas, não tenha medo, Eu estou com vocês (Isaías 41.14-16). 

        No verso 14 o povo é chamado de “vermezinho” e “povinho”. O termo verme aplicava-se a uma larva que devorava matéria em decomposição. Alojava-se em plantas, frutos e alimentos, fazendo-os apodrecer, destruindo-os (Ex 16.20; Dt 28.39; Jn 4.7). Era também usado para referir o estado de morte do ser humano (Is 14.11; 66.24), ou, como metáfora, para indicar insignificância, fragilidade, humilhação e desamparo (Sl 22.6,7; Jó 25.6). É neste sentido que é usado em Isaías 41.14. Um povo considerado pequeno, frágil e sem significância. 

        Quando confrontado com os grandes impérios da época, como a Babilônia, com sua extensão territorial, seu poderio militar, suas majestosas construções, suas conquistas, o povo de Judá poderia se achar bem pequeno e insignificante. Sem condições de mudar o curso de sua deprimente história, naquele momento. Quando olhamos para nós mesmos com honestidade, e depois para a realidade que nos cerca, a conclusão a que chegamos é que somos apenas um peão no jogo das forças políticas, econômicas, militares, naturais... 

        Há momentos em que, independente da nossa vontade, a vida dá uma guinada e nos leva para situações que jamais imaginamos. Tal qual uma pessoa que, caminhando na calçada, é, repentinamente, arrastada por uma carreta, sem poder para livrar-se ou se defender. Ou como um pequeno barco que, surpreendido por uma grande tempestade, é levado para longe do destino a que pretendia chegar. Como reagir frente a desastres naturais, ou a escolhas de outros que afetam profundamente nossas vidas, se nos reconhecemos impotentes para modificar o curso dos acontecimentos adversos? 

    É isso que experimentamos nesse tempo de pandemia. Praticamente da noite para o dia, nossas vidas mudaram. Muitos tiveram que fechar seus negócios, perderam seus empregos, ficaram sem seus entes queridos. Estudos foram interrompidos e ou atrasados, projetos foram abandonados ou adiados. São fatos que nos fizeram perceber que não temos controle nenhum sobre nosso próprio destino. Nesse mesmo período um jovem casal, com apenas um mês de casados, cheios de sonhos, voltando para casa numa noite de sábado, teve sua moto atropelada por um motorista que avançou a preferencial e os deixou gravemente feridos. Em questão de segundos, a vida deles mudou drasticamente. 

        Fatos assim devem convencer-nos de que somos pequenos demais diante de tudo isso. Não há como prever nem como controlar nossos destinos. Essa realidade pode provocar o medo em nossos corações. Mas o povo de Deus não precisa ter medo em momentos assim. Deus avisa que é o seu resgatador. O termo resgatador designava o parente que tinha a obrigação de libertar alguém da família da escravidão, resgatar a terra perdida, socorrer o parente na pobreza, suscitar descendência ao parente para livrar a família do esquecimento ou mesmo o dever de ser o vingador do sangue do parente assassinado. Em resumo, seu dever era defender o oprimido e atacar o opressor (Lv 25.25; Nm 35.21-27; Dt 19.6; Js 20.5; Rt 4.1-8). 

        Porém, nem sempre o redentor podia ou queria exercer essa responsabilidade (Rt 4.6). No livro de Isaías, o título vai aparecer várias vezes associado a outras expressões que destacam a grandeza e poder de Deus, tais como: Santo de Israel, Poderoso de Jacó, SENHOR dos Exércitos, Rei de Israel, Primeiro e o último, Deus de toda a terra, nosso Pai. Essas expressões enfatizam a certeza de que Deus tem todas as condições de cumprir a missão de redentor, resgatador, e que Ele tem todo desejo de realizar isso. Ele não apenas é poderoso, mas também compassivo para cumprir a função. O povo de Deus tem um Resgatador Poderoso e cheio de boa vontade. 

    Por isso não há razão para temer. Quando sentir-se depreciado, desvalorizado, um "zé-quase-nada", achando-se frágil e pequeno demais para suportar e enfrentar os reveses da vida. Lembre-se de Deus, que declara com autoridade: Não tenha medo, Eu te ajudo. Eu vou livrar você, vou socorrer você, não tenha medo.

domingo, 28 de fevereiro de 2021

O AMOR EM BUSCA DA PERFEIÇÃO

 

 

 

O desejo de transformar o ente amado para que ele se enquadre em nossa vontade e expectativas, e satisfaça nossos anseios, parece comum nos vários relacionamentos. Esse exercício demanda grande esforço e provoca elevados níveis de estresse e frustração. Por que agir assim? Por que não se contentar com o que a pessoa amada pode oferecer?

 

  

Penso que essas palavras de George MacDonald podem explicar esse desejo: 

O amor sempre tem em vista a beleza daquilo que contempla. Onde a beleza é incompleta e o amor não pode amar sua plenitude de amor, ele se gasta mais para torná-la mais amável, para que possa amá-la mais. O amor busca a perfeição, ainda que ele mesmo possa ser aperfeiçoado — não em si, mas em seu objeto […] Portanto, tudo que não é belo no amado, tudo que está entre o amor e o que é amado e que não é da natureza do amor, deve ser destruído. E o nosso Deus é um fogo consumidor.[1]  

O contexto deixa claro que MacDonald está referindo-se ao amor de Deus. Essa verdade tem sua origem nas Escrituras. Paulo, em Romanos 8.28 e 29, afirma que Deus faz com que tudo trabalhe conjuntamente para o bem daqueles que Ele chamou conforme o propósito que ELE tem para eles de serem semelhantes ao Seu Filho Jesus Cristo.  Este argumento do livro é concluindo com uma frase afirmando que nada poderá nos separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm 8.39).   Novamente Paulo, em Efésios 4.11-16, diz que este é o alvo de Deus para o Seu povo. Isto é, que todos sejam aperfeiçoados ao ponto de se tornarem pessoas maduras, tendo como padrão a pessoa do Senhor Jesus Cristo. 

Nesse processo, Deus vai consumir, isto é, vai destruir, tudo que não esteja conforme esse amor. Esta foi a oração expressa pelo salmista no Salmo 139.23,24.

Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração;

 prova-me e conhece os meus pensamentos; 

vê se há em mim algum caminho mau, 

e guia-me pelo caminho eterno.

 Deus está no direito de agir assim porque Ele é o Absolutamente Perfeito e conhece com toda exatidão o que é a perfeição. Sendo, Ele mesmo, o padrão de perfeição e onisciente, isto é, conhecedor de absolutamente tudo, Ele não comete erros e não têm conceitos errados. Ele mesmo não está sujeito ao processo de aperfeiçoamento.   Também, por ser Onipotente, Ele tem a capacidade de agir e controlar todas as situações para produzir o que Ele almeja na vida de seus amados. 

Além disso, Ele tem a autoridade de transformar as pessoas. Essa autoridade lhe é assegurada por ser Ele o Criador de tudo (Ap 4.11) e também por ser o Resgatador de Seu povo, por Ele comprado por altíssimo preço (1Pd 1.18-20). 

O elemento complicador, no caso do amor entre os seres humanos, é que, por sermos pecadores, nossa visão de aperfeiçoamento é egoisticamente autocentrada. Temos a tendência de considerar como perfeito e bom apenas aquilo que nos agrada e de que julgamos precisar. Mas, nossa finitude e pecaminosidade, com frequência, nos levam a nos agradarmos daquilo que nem é bom nem perfeito embora, com nossas mentes turvadas pelo egoísmo, tenhamos sérios problemas em admitir isso.

O desejo de mudar as pessoas que amamos, quase sempre, é fruto da nossa arrogância, que se julga capaz de saber o que é melhor para essas pessoas, de acordo com nossa visão de perfeição.

Este anseio pode levar a uma frustração e insatisfação, porque passamos a exigir plena satisfação no relacionamento. Lembro do trecho de um romance que expressava isso: 

"- O tempo que passávamos juntos era de alguma forma...completo. O problema era que isso não era o suficiente. Eu não estava plenamente satisfeita. 

           - Talvez não seja possível ficar plenamente satisfeita."  

(Alan Titchmarsh, "O amor e o Dr Devon", edição da Seleções do Reader's Digest, pg. 248)

        Exigir plena satisfação nos relacionamentos neste mundo é esticar a corda além do limite que ela pode aguentar. Muitos relacionamentos acabam porque alguém exigiu perfeição do outro. Neste mundo manchado pelo pecado, os bons relacionamentos carregarão muita satisfação e alguma insatisfação. Para quem quer tudo, pode sobrar o nada. Para os que não suportam alguém imperfeito, sobra o ninguém perfeito. Cada um deve verificar o que considera essencial e o limite suportável e depois relevar o que passar disso.

 Por isso, nosso amor precisa ser aperfeiçoado no amor de Deus. Primeiro, buscando enxergar o que é perfeição de acordo com o padrão de Deus. Nosso alvo deve ser que as pessoas amadas por nós se tornem semelhantes a Jesus. Não que elas vivam para satisfazer nossos anseios e desejos. 

Depois,  necessitamos colocar nas mãos d'Ele aquilo que consideramos defeituoso nas pessoas que amamos e não temos o poder de mudar. Sabendo que o mesmo Deus que nos aperfeiçoa também está trabalhando no aperfeiçoamento delas. Assim, o amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera e tudo suporta (1Co 13.7). 



[1] Lewis, C.S , George MacDonald: uma antologia, (Trad. Carlos Caldas) RJ: Thomas Nelson do Brasil. Pg. 34 

 

domingo, 17 de janeiro de 2021

CERTEZAS EM MEIO AS INCERTEZAS

       
 Planejamos e contamos como se tudo na vida dependesse de nós. Mas, neste ano que findou, as incertezas saíram dos cantos escondidos da vida e se apresentaram sem máscaras. Neste momento, no texto de cada vida, as interrogações estão em destaque. Quando a pandemia vai terminar? Quando a vida vai voltar ao normal? A vacina vai funcionar? Quando ela vai chegar? E assim por diante.  
            Mas, para quem segue a Cristo, há grandes certezas no meio destas incertezas. Partindo do exemplo do apóstolo Paulo, conforme descrito em Filipenses 1.19-26, notamos algumas certezas. 

        Paulo estava em prisão domiciliar na cidade de Roma, aguardando o julgamento do imperador. Lá, ele recebeu a visita de Epafrodito, irmão amado e obreiro atuante na igreja que estava na cidade de Filipos. Além de notícias, Epafrodito trazia uma oferta daquela igreja para Paulo, o que mostrava o interesse e amor daqueles irmãos para com o missionário fundador de sua igreja.

             Em resposta, Paulo escreve esta carta, agradecendo a oferta, alertando os irmãos quanto à firmeza e unidade cristã e advertindo com respeito ao falso ensino da justificação por obras. Além disso, apresenta sua perspectiva dos acontecimentos, procurando aliviar a preocupação daqueles irmãos. Primeiro falou do passado (1.12), depois do presente (1.13-18) e então fala do futuro.

            Concluindo a parte que tratou do presente, ele afirmou que se alegrava diante de todas as tribulações pelas quais passava, e acrescentou: “sim, sempre me regozijarei”. Para ele, a alegria era uma escolha, não uma consequência que se colhia aleatoriamente no meio dos incidentes da vida. Essa é uma afirmação extremamente ousada. Como alguém pode declarar que sempre vai se alegrar? Quais certezas ele tinha para afirmar isso?

Paulo estava enfrentando uma série de aborrecimentos e perplexidades: preso por causa do evangelho, inveja e hostilidade de outros cristãos que pregavam o evangelho intentando aumentar sofrimento de Paulo, preocupações com os problemas das igrejas e a incerteza quanto ao seu futuro. Mas, em meio a tudo isso, ele tinha uma certeza, afirmada no verso 19: Sei porque que isso me resultará para salvação. Através da vossa súplica e suprimento do Espírito de Cristo Jesus. Ele estava certo que Deus faria todas as circunstâncias resultarem em sua salvação. Deus iria completar a salvação iniciada (1.6). 

O verbo traduzido como “resultar” também era usado para indicar o final de uma viagem, podendo ser traduzido como “desembarcar”. Ilustrando: o porto final da viagem da vida de Paulo era a salvação. Ele tinha certeza de que Deus estava agindo para que todas as ocorrências de sua vida desembarcassem neste destino final.

Além disso, Paulo não estava sozinho nesta viagem tempestuosa. No plano de Deus estavam incluídas as orações dos irmãos e o suporte dado pela assistência do Espírito Santo. Deus agindo em resposta às orações com a ação do Espírito Santo era o que garantia que a viagem chegaria a um final feliz. 

A vida tem sua medida diária de pressões, a maioria inesperadas. Boa parte delas causada pela maldade das pessoas. Mas, os que seguem a Cristo não são como uma cortiça boiando sobre as águas, levada ao sabor das circunstâncias. Eles contam com o auxílio do Senhor Jesus Cristo, através do Seu Espírito. 

Quando a escuridão chegar, as situações se tornarem sombrias, o desânimo e o desespero baterem à porta, aquele que segue a Cristo deve lembrar do destino final. A viagem ainda não terminou, mas o final já foi garantido; a salvação os aguarda. Deus planejou todos os acontecimentos da vida de Seus filhos para que resultem úteis aqui e desembarquem na felicidade eterna. 

Aquele que segue a Cristo deve ainda lembrar-se de que não está sozinho no meio da tempestade. Há pessoas orando por ele. Isso nos ensina a importância de pertencermos a uma comunidade local de discípulos de Jesus, a igreja local. Assim teremos pessoas orando por nós. 

 Além disso, o mesmo Deus que está no trono, controlando todas as circunstâncias, também está conosco e em nós, na pessoa do Espírito Santo, suprindo, fortalecendo e apoiando-nos em todas as situações. 

Se você segue a Cristo, na hora da incerteza, lembre do destino que lhe espera, conte com as orações dos irmão, apegue-se à presença do Espírito Santo, e então, escolha a alegria. 

    As incertezas podem tirar nosso foco, dispersar nossa atenção. Quando não estamos tão certos quanto ao futuro, podemos ficar perdidos em meio aos problemas do presente, dominados por uma ansiedade que drena nossas energias e turba nosso olhar para o futuro. Isso nos faz perder de vista nosso propósito de vida. Mas isso não ocorreu com o apóstolo Paulo. Apesar das incertezas que o rodeavam, ele se mantinha focado, pois guiava-se não pelas incertezas, mas pelas certezas que tinha (Filipenses 1.19-26).  

A próxima que ele menciona é acompanhada de uma ansiosa expectativa, conforme ele afirma no verso 20. Porém esta não era uma ansiedade desanimadora ou perturbadora, pois estava baseada numa firme esperança. 

A expressão traduzida como “ardente expectativa” expressa uma antecipação intensa, uma espera desejada e com alta confiança de que seu cumprimento era certo. É aquela expectativa da criança a quem o pai prometeu um passeio. Depois disso, a cada dia que acorda, ela pergunta com olhos brilhantes: é hoje pai, que a gente vai passear?

Pode também ser ilustrada com alguém que está no salão de desembarque de um aeroporto ou rodoviária, esticando o pescoço, estendendo a cabeça, com olhar totalmente focado e concentrado, aguardando a pessoa amada, com a certeza de que chegou naquela viagem. Era assim que Paulo olhava para seu futuro, sem arredar o pé, sem desanimar. 

Em nosso idioma, a palavra “esperança” parece incluir a ideia de uma expetativa de algo desejado, ou não, mas de realização incerta. Expressa mais um desejo do que uma certeza. Nas Escrituras, porém, não é essa a ideia. A esperança bíblica não é apenas um desejo, uma torcida, mas uma certeza firme, capaz de sustentar o ânimo daquele que a tem. O esperançoso não apenas possui a esperança, mas também é possuído por ela. 

Uma esperança que não se realiza traz decepção e vergonha para aquele que a abraça. A expectativa e esperança de Paulo eram a de que ele não ficaria decepcionado ou envergonhado, como alguém que esperava receber uma recompensa, havia falado disso para seus amigos mas, no final, a recompensa lhe foi negada e ele ficou decepcionado e envergonhado diante de todas as pessoas para quem havia divulgado. Isto pode ser tão frustrante que algumas pessoas preferem nem ter esperanças e expectativas. Outros, quando as têm, decidem não expressá-las. 

Paulo afirma que, em hipótese alguma, isso ocorreria com ele. Por isso, ousadamente, reafirmava e divulgava sua esperança. Ele não tinha medo de confessar de modo claro o que esperava. E sua expectativa e esperança eram a de que Cristo seria engrandecido, isto é, magnificado, glorificado através do seu corpo. 

Paulo não tinha certeza quanto ao que ocorreria com seu corpo. Poderia ser morto, se o Imperador Romano assim decidisse. Queimado vivo para iluminar os jardins do palácio, lançado às feras para ser trucidado, crucificado como Jesus, ou sofrer qualquer outra forma de morte praticada pelos romanos. Ou poderia ser julgado inocente e continuar vivo. Ele não sabia qual seria o destino de seu corpo mas tinha a firme certeza de que, em qualquer destas situações, Cristo seria glorificado. 

Aquele que segue a Cristo deve avaliar sua vida não pela quantidade de conforto ou sofrimento que seu corpo recebe, mas se Cristo está sendo glorificado através dele. Algumas vezes nós nos preocupamos com a forma como vamos morrer, ou como será nossa vida, depois de certos acontecimentos. Mas, por sermos de Cristo, devemos entender que nosso corpo é uma área para Cristo brilhar. Quem tem esta esperança, nunca se decepcionará. 

A terceira certeza que quero destacar é a de que Cristo sempre seria o alvo maior de sua vida. Se iria morrer ou viver, ele não sabia. Tinha, porém, a certeza de que, numa ou noutra situação, ele estaria com Cristo. 

Para Paulo o viver era Cristo. Sua verdadeira vida era definida em termos de servir a Cristo. Continuar neste mundo era uma oportunidade para permanecer frutificando na obra de Deus, promovendo a fé em Cristo. Trabalhando para o progresso na vida cristã e a alegria dos irmãos. Suas escolhas não eram determinadas por aquilo que considerava mais seguro ou confortável para si. Antes, eram motivadas por aquilo que era mais vantajoso para o evangelho e que poderia servir para auxiliar nas necessidades espirituais das pessoas. Paulo não centrava sua vida em si mesmo, mas em Cristo, Seu serviço, Sua obra e na necessidade daqueles que pertencem a Cristo. Quando disse "Para mim o viver é Cristo", ele estava dizendo, para mim a vida é servir a Cristo ajudando pessoas a progredirem na fé e terem mais alegria em Cristo. 

E se morresse, estaria com Cristo. Ele considerava isso lucro. A morte para ele não era a perda da vida, mas um ganho. Seria uma partida, isto é, uma viagem para morar com Cristo. Isso seria muito melhor.  Se a língua portuguesa nos permitisse, poderíamos traduzir assim: “e isto é muito mais melhor”

Por isso Paulo ficava indeciso, entre partir e ficar. Para ele, não haveria muita diferença pois, em ambas as estradas que seguisse, estaria com Cristo. Desse modo, ele se sentia puxado nas duas direções. Continuar vivo e servindo a Cristo ou morrer e estar com Cristo. Se colocasse na balança, a vida e a morte lhe pesariam iguais. Como naquelas bifurcações em que as duas estradas nos levarão ao mesmo lugar. Assim é para o que segue a Cristo. Tanto faz. Viver é servir a Cristo, morrer é estar com Cristo. 

Com o que vamos nos alegrar? Com as ações e reações das pessoas ao nosso redor? Com as circunstâncias? Ou com o resultado que Deus está preparando para nós? Em que vamos focar? Nas incertezas que este ano nos reserva, ou nas certezas garantidas por Deus? Salvação, engrandecimento de Cristo e uma vida centrada em Cristo são essas certezas. 

SEJA O QUE FOR QUE 2021 NOS RESERVA, PARA O QUE SEGUE A CRISTO, O FINAL SERÁ SEMPRE FELIZSENDO ASSIM, ESCOLHAMOS A ALEGRIA.

 

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

ELA FEZ O QUE PÔDE


 

Um quadro lindo com uma moldura pouco atraente!  Penso que esta frase expressa o texto de Marcos 14.3-9 e os que lhe antecedem e lhe sucedem. 

Entre as narrativas que nos contam sobre a intenção da liderança religiosa de prender Jesus traiçoeiramente e o matar sem causar alvoroço entre a população (Mc 14.1,2), e a decisão de Judas Iscariotes de, por dinheiro, cooperar com aquela liderança, entregando-lhe Jesus, temos a narrativa de Jesus sendo extravagantemente honrado por uma mulher.

 Era a semana de uma grande festa: a páscoa. Nela os judeus comemoravam sua data máxima, lembrando sua libertação da escravidão e o nascer de sua nação. Faziam isso há quase 1500 anos. Uma semana de férias. Jerusalém estava lotada. Muitos judeus dispersos em várias partes do mundo aproveitavam este período para voltar, visitar a cidade e familiares, e comemorar a páscoa em sua cidade sagrada e no templo, que era a casa de Deus.  

Normalmente, naquela semana, Jesus e seus discípulos passavam o dia em Jerusalém e à tardinha retiravam-se para passar a noite em Betânia, que ficava a três quilômetros dali. É provável que se hospedasse na casa de Marta, Lázaro e Maria, seus amigos 

Naquela noite, Jesus estava na casa de um homem chamado Simão. Este homem fora leproso. Embora já estivesse curado desta enfermidade, ficara com a alcunha de “Simão, o leproso”. Era um jantar. Jesus estava reclinado à mesa, comendo e conversando com seus amigos, desfrutando de um refrigério, depois de um dia de debates e ensinos, enquanto aguardava o sofrimento que lhe sobreviria. 

De repente, algo inusitado aconteceu. Uma mulher entra trazendo um vaso de alabastro. Alabastro designava o material do qual era feito o vaso. Se fosse em nossos dias, provavelmente seria um vaso de vidro, mas um vidro elaborado, decorado. O alabastro era algo mais pesado e mais bonito que o vidro. Uma pedra semelhante ao mármore, embora não do mesmo valor. Um vaso de alabastro era uma obra de arte.  

            Dentro daquele vaso havia um perfume de nardo. O nardo era uma planta cultivada no Himalaia. Da compressão de suas raízes e folhas extraia-se um perfume preciosíssimo. Aquele que estava contido no vaso era puro, sem adição de mais nada, sem nenhuma mistura. Portanto, teria custado um alto preço. Algo de primeira qualidade!

            Depois de quebrar o vaso de alabastro, ela derramou todo o perfume na cabeça de Jesus! 

            Não teria sido necessário quebrar o vaso! Bastava tirar o lacre e derramar o perfume! Mas, depois daquela homenagem, o vaso se tornaria desnecessário para aquela mulher. Aquele vaso tinha uma finalidade única, reter por algum tempo o precioso perfume que seria derramado em Jesus. Depois de conter o perfume que ungiria Jesus, nada mais seria digno de ser posto nele! 

Também não era necessário derramar todo o perfume. Algumas gotas daquele perfume absolutamente puro, caro e bom teriam sido suficientes. Mas ela considerou que algumas gotas eram muito pouco para expressar o tamanho de sua devoção por Jesus. Seu amor por Jesus era tanto que tinha que ser expressado por todo o conteúdo e mais a quebra do vaso. Tudo derramado sobre Jesus! 

Foram gestos que expressaram um sacrifício total, como um holocausto, no qual o animal era totalmente queimado. Sinalizavam um amor incondicional, não calculado. Uma ação dramática motivada por uma forte emoção de amor, afeição, admiração e gratidão! Para aquela mulher, nada era caro demais para honrar o Senhor Jesus!

O aroma do perfume derramado encheu a sala! Mas foi muito além dela! Gestos de amor e devoção intensos deixam resultados que ultrapassam o ambiente e o momento nos quais são realizados! 

O aroma daquele perfume permaneceu no corpo e na roupa de Jesus por alguns dias. Era sentido durante seu sofrimento no Getsêmani, quando suou gotas de sangue, também no seu julgamento, quando foi açoitado e as chicotadas banharam seu corpo de sangue e até mesmo no momento da sua crucificação, quando derramou sangue. Aquele perfume aliviou o odor de suor e sangue coagulado que esteve sobre o corpo de Jesus, até Ele ser sepultado! As roupas que os soldados romanos dividiram e sortearam ainda tinham o aroma do perfume!

Creio que aquela mulher não imaginava o alcance de sua ação. Dentro de seus limites ela fez o que pôde! Mas a graça multiplicadora de Deus fez com que seu ato fosse muito além do que ela pretendeu! 

Mas a atitude da mulher também provocou uma reação de ira, raiva e revolta. Não foi um mero desprazer ou uma simples discordância acompanhada de uma pequena crítica, mas uma grande hostilidade expressa em forte reação emocional. Seus críticos ficaram profundamente ofendidos. O termo usado para “murmurar” expressa a ideia de uma ira que fez dilatar as narinas, em outras palavras, as pessoas bufaram contra ela. 

Seu gesto foi considerado um desperdício. Uma extravagância! Aquele perfume estava avaliado em trezentos denários! Trezentos denários derramados na cabeça de um só homem! Que absurdo! 

Um denário era o que um trabalhador recebia por um dia de trabalho. Pensando em um trabalhador judeu, que respeitaria os sábados e semanas de festas religiosas, seria necessário guardar todo o dinheiro de um ano de seu trabalho, apenas ganhando, sem nada gastar nada, para ajuntar aquela soma. Um presente que custara um ano de trabalho! Para se ter uma ideia, poderíamos dizer que, nos dias de hoje, aquele perfuma custaria mais ou menos 12 salários mínimos.

Os críticos da mulher declaravam que, se ela não queria o perfume, poderia ter feito melhor uso dele, vendendo-o e distribuindo o dinheiro entre os pobres. Foi considerada uma irresponsável, sem senso, uma desperdiçadora. Uma exibicionista. Irrealista, esbanjadora. 

As pessoas não entendem gestos de generosidade extravagante. Elas sempre criticam. E quando a crítica é compartilhada, a consciência dos críticos fica acalmada. É costume se ouvir: Ainda bem que não sou só eu que penso assim! Sinto-me mais tranquilizado, não sou o diferente. Ela é que é.

Como não se consegue ter a mesma devoção, racionalizam-se os motivos para lhes dar uma aparência de razoabilidade, de bom senso, de interesses maiores e mais nobres. Deixando a consciência mais tranquila.      

A crítica não fazia nenhum sentido: o dinheiro não era deles, o vaso não era deles. Tudo pertencia à mulher. O sacrifício era dela, a perda, se fosse considerado assim, seria dela. Mas a mesquinhez não se contenta em mesquinhar apenas no que é seu. Almeja amesquinhar o que não lhe pertence também. 

Não entendiam o amor que estava no coração daquela mulher. Só é possível julgar adequadamente uma demonstração generosa de amor, quando se consegue aquilatar o amor de alguém. Se não se é capaz de amar com a mesma intensidade que outros, não se deve julgá-los. 

Não entendiam o valor que Jesus representava para aquela mulher. Para eles, Jesus era de valor, mas não tanto assim. Jesus merecia algumas gotas daquele perfume, talvez, mas não o perfume todo. Se não é possível amar Jesus, porque não o valoriza como outros o valorizam, não se deve julgar os outros. Se a estima por Jesus não é a mesma de outras pessoas, se é superada pelo sacrifício de outros, porque criticá-las?

Cuidado com o julgar baseado nas aparências! Na maioria das vezes as reais motivações são desconhecidas. 

Mas a história não terminou aí. Houve outro julgamento da ação daquela mulher! Este sim, um verídico muito mais importante, demonstrado nas palavras de Jesus! 

Jesus reagiu e disse: deixem a mulher em pazLibertem-na das críticas e ira de vocês. Por que estão causando este sofrimento para ela? Por que cansar, fatigar, atribular esta mulher com as críticas raivosas de vocês? Deixem de ser duros com ela!

Amor não compreendido é amor que acarreta sofrimento. Amar de modo intenso pode causar um desgaste intenso. Nem sempre esse tipo de amor é compreendido, e muitas vezes é criticado. Mas o que conta é o que Deus diz do nosso amor. 

Jesus disse que a ação dela foi boa, foi bela. Foi bonito o que ela fez. Ela fez o certo. 

Quando as pessoas lhe criticarem pelos gestos de amor e apreço, para evitar a fadiga, ouça o que Jesus diz a respeito. Deixe de lado o que as pessoas dizem, se a opinião de Jesus for diferente. 

Essa mulher soube qual era a prioridade para seu perfume. Soube avaliar o que era de maior valor naquele momento. Afinal, os pobres estariam sempre com ela, mas Jesus não.  A generosidade deve ser acompanhada de uma capacidade de avaliar o que é mais necessário e adequado em cada ocasião. Generosidade sem discernimento de prioridades é desperdício de tempo, de esforço, de recursos. 

Jesus também afirmou que Ela fez o que pôde! Ela fez o que era possível.  Ela fez o que foi capaz! Era o que estava ao seu alcance naquele momento, em termos de manifestar sua devoção a Jesus. 

Jesus conhece nossas possibilidades. Isso gera conforto e confronto. Conforto porque Ele sabe e entende os nossos limites. Um pouco antes, conforme a narrativa de Marcos 12.41-44, Jesus elogiou outra mulher que fez o que pôde, não tão cheia de posses como a mulher do perfume. Aquela era viúva, doou de oferta duas pequenas moedas, o correspondente hoje a duas moedas de cinco centavos cada. Jesus também a elogiou!  Não é a quantidade, mas o amor devoto que faz o que pode. E para Deus isso é tudo. 

Vivemos rodeados de limites, alguns tremendamente frustrantes! Não conseguimos cumprir nossas tarefas tão bem quanto gostaríamos e deveríamos! Pais e mães não conseguem realizar tudo que consideram necessário para seus filhos! Cônjuges não conseguem agradar de modo suficiente uns aos outros! Professores não alcançam seus alvos para com seus alunos! Amigos não conseguem ajudar de modo adequado! Vidas que não conseguimos livrar de doenças e perigos! E nem conseguimos vencer os defeitos que nos acossam diariamente! 

Mas, movidos por amor e devoção a Deus, vamos fazer o que podemos, confiando que a graça de Deus multiplicará os resultados de nossos limitados atos. 

Mães, pais, filhos, maridos, esposas... quantas vezes achamos que deveríamos ter feito mais! Mas, sosseguemos nossos corações, se fizemos o que podíamos fazer. 

Confronto, porque se fizermos menos do que podemos, Ele também sabe. As pessoas não conhecem todo o nosso potencial. Deus conhece. 

A mulher soube demonstrar sua estima enquanto era oportuno! Jesus disse: Ela me honrou antes da sepulturaEla não esperou que eu morresse, para enviar as flores. Ele doou as flores enquanto vivo. Quantas vezes só estimamos o valor de uma pessoa, quando a perdemos! 

Ela fez o que pôde! O que lhe era possível. Mas a graça de Deus transformou o seu possível em algo que parecia impossível! O seu perfume ainda hoje aromatiza vidas! Ainda sentimos o precioso cheiro de seu gesto e somos impulsionados por ele.  

É isso que Deus faz com nossas ações de devoção.  Ele as multiplica. Faz com que alcancem uma abrangência além do que imaginamos. Os resultados de uma vida de amor e devoção extravagantes para com Deus ultrapassam eras. 

O cheiro agradável de seu perfume ultrapassará séculos. Onde o evangelho for pregado, o odor deste perfume será sentido!  

O ato daquela mulher exemplificou o evangelho, no qual uma vida foi dada para salvar pobres pecadores. Por isso, seguir este evangelho requer devoção desmedida!

Que nesse ano que se aproxima cultivemos um amor e uma devoção extravagantes por Jesus, de tal modo que isso nos leve a fazer o que estiver ao nosso alcance, confiando que Sua graça levará o aroma desse amor e devoção para muito além de nós!  

 

RENOVANDO O ÂNIMO PARA ENFRENTAR MAIS UM ANO QUE SE INICIA – 2ª PARTE

  Há pessoas que “ desistem da vida muito antes que seu coração pare de bater — estão acabadas, esgotadas, despedaçadas, mas ainda assim aco...