Gosto de poesias. Admiro a capacidade de expressar realidades complexas com poucas palavras. Comparo os poetas à artistas que conseguem pintar cenas da vida, usando palavras como tintas, caneta como pincel e a nossa mente como tela. Às vezes com a pincelada de uma frase eles nos fazem ver um aspecto da vida para o qual estávamos desatentos. Criar imagens que refletem as variadas faces da nossa existência com palavras é uma arte difícil. Mas muitos conseguem e causam impacto.
Mas, milagroso mesmo é fazer poesias com vidas destruídas, usando material morto e feio criar poemas vivos, belos, expressivos e impactantes. É isso que Deus faz com nossas vidas. Os cristãos são poemas de Deus. Paulo declara esta verdade em Efésio 2.10: “Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.”
A palavra “feitura”, na língua original do Novo Testamento, é “poiema”, e significava “ato”, “trabalho”, “obra de arte”, foi usada para designar especialmente uma obra poética. Dela vem a nossa palavra “poema”. Os cristãos são poemas de Deus, obras de arte criadas por Deus. Feitos por Deus, para fazer para Deus.
Deus fez estes poemas com palavras e letras destruídas pelo pecado. O início do capítulo fala do estado anterior destes versos. Estavam mortos nos seus pecados. Andavam conforme os valores e princípios do Diabo, do mundo e da velha natureza. Eram desobedientes e por isso estavam debaixo da ira de Deus (Efésios 2.1-3).
Estes poemas pertencem a uma nova criação. Paulo não está se referindo à criação terrena, chamada de velha criação. De fato, todos os seres humanos foram criados por Deus, mas criados em Adão (1 Cor 15.45-49). Mas não é essa criação que é tratada aqui, e sim a nova criação, o nascer de novo (João 3.3-6). Estes poemas são as pessoas salvas. "Feitura de Deus" é equivalente a ser salvo. É o ser criado em Jesus Cristo. Adão foi feito nosso primeiro representante e nós estávamos nele. De modo que o seu pecado tornou-se o nosso pecado e a sua morte a nossa morte (1 Cor 15.22). Nós assumimos nossa herança adâmica quando pecamos e assim reafirmamos o que Adão fez como nosso representante (Romanos 5.12-19).
Tornar-se uma poesia nas mãos de Deus só foi possível por causa da obra de Jesus Cristo. Ele também foi feito o representante de todos aqueles que pela fé O recebem, das pessoas que aceitam o fato de que Ele é seu representante diante de Deus para tratar a questão do pecado e da condenação. Para estas pessoas a morte de Jesus se torna a morte delas. De modo que a morte de Cristo é o pagamento eficaz dos pecados delas, elas estão perdoadas, pois a penalidade foi paga por Jesus. São salvas, recebem a nova vida. Foram vivificadas em Cristo (Ef 2.5), ressuscitadas com Cristo, passaram a reinar com Cristo, pois foram assentadas nos lugares celestiais com Cristo (Ef 2.6). Fazem parte da nova criação (2 Co 5.17).
Deus fez estes poemas movido por Sua grande misericórdia e amor. Esta é a criação para a nova vida, que experimenta a ressurreição e entra no Reino de Deus. Ela é uma obra de Deus. Realizada apenas por Ele, através do Espírito que soberanamente sopra onde quer (João 3.8). Não depende do mérito humano, mas da graça e amor de Deus. É um presente de Deus que se recebe pela fé. Não é resultado de nenhuma obra humana. Ninguém pode se orgulhar de pertencer à nova criação e de ter nascido de novo. Deve sim, ser grato a Deus pela Sua misericórdia e amor (Ef 2.8,9).
Deus criou estes poemas com uma finalidade: que eles declarassem em prosa e verso a Sua generosidade. Isto ocorrerá de forma perfeita nos tempos vindouros, lá na eternidade. Quando compreenderemos, de forma sem igual, a graça de Deus por nós. Teremos uma visão sem nenhum embaço da obra que Ele realizou em nós. Iremos admirar com olhos exultantes a sua misericórdia (Efésios 2.7). Expressaremos na mais perfeita métrica, com a melhor das rimas e com as mais coloridas figuras de linguagem, o amor de Deus.
Mas já agora, estes poemas devem demonstrar a graça de Deus em suas vidas e com suas vidas. As obras não causam a salvação mas manifestam a salvação. Somos salvos pela fé, mas a fé sem obras é morta. Logo esta fé produz obras (Tg 2.26). Nosso comportamento deve mostrar a graça de Deus, deve manifestar a nossa salvação. Estas obras já foram preparadas por Deus de antemão, isto é, antes mesmo Dele nos criar Ele já as deixou prontas. A estrada já está construída para andarmos por ela.
Por isso, o salvo não faz conforme os desejos da sua carne e dos seus pensamentos (Ef 2.3), mas faz as boas obras que Deus preparou. Ele não anda conforme os costumes deste mundo nem de Satanás (Ef 2.2), mas anda conforme as boas obras que Deus preparou.
Paulo está repetindo com outras palavras aquilo que Jesus já havia dito “Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as nossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus” (Mateus 5.16).
Somos poemas de Deus. Temos que admitir que nem sempre estes poemas se mostram belos, e manifestam o amor de Deus. Mas este é nosso papel, realizar as obras para as quais fomos feitos. Brilhar em nosso comportamento.
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