Com certeza você não prestou atenção a todos, pois ficaria
soterrado pela avalanche de informações e advertências. É preciso ser seletivo.
Há que se escolher a quais avisos prestar atenção, quais julgamos mais
importantes. Esse julgamento depende de certos interesses e do valor que se dá
a quem está lhe avisando. Como cristãos, os avisos de Cristo devem ter nossa
prioridade.
Ele nos deu vários avisos. Hoje quero destacar um que se
encontra em Apocalipse 3.20, um alerta sobre nossa condição espiritual.
O livro de Apocalipse é uma revelação
dada por Deus ao apóstolo João, a respeito da pessoa e obra do Senhor Jesus.
Escrito primeramente a sete igrejas da Ásia, tinha o objetivo de animar e
alertar os cristãos daquela época, que vivenciavam um momento complicado, pois
tinham que lidar tanto com a perseguição quanto com a sedução do mundo. Como é
comum na revelação bíblica, Deus usa uma situação particular para ensinar
verdades para todo o Seu povo.
Para a Igreja que ficava na cidade
de Laodicéia, Jesus avisa: Eis que estou
à porta e bato. O que significa isso?
Quando observamos o uso de linguagem
semelhante em outros contextos bíblicos, notamos que era um alerta a respeito
da proximidade de uma visita do Senhor Jesus àquela igreja. Esta visita com
certeza ocorreria em Sua segunda vinda, mas também poderia acontecer
antecipadamente, na forma de uma ação de Jesus para disciplinar e repreender.
Em Mateus 24.33, quando Jesus responde à pergunta dos
discípulos sobre sua vinda e o fim do mundo, Ele dá uma série de sinais e
depois avisa que quando eles virem tudo isso, devem saber que está próximo, às portas.
Também em Tiago 5.9, somos alertados a não nos queixarmos uns dos outros, para não
sermos julgados, pois o juiz está às portas. Entendemos que o sentido aqui
é quanto à vida de Jesus, mencionada no verso 8. E em Lucas 12.36, Jesus conta uma parábola
para ensinar sobre a vinda do Filho do Homem. Nela, Ele exorta à vigilância,
comparando-se a um dono de casa que saiu para as festas de casamento e deixou
seus servos esperando. Estes devem estar prontos para quando o senhor bater à porta, eles logo possam abrir.
Comparando os textos acima com o de
Apocalipse, podemos perceber um paralelo. Jesus adverte a igreja de Laodicéia
como o Senhor da casa, que está prestes a voltar. E, tendo voltado, Ele bate à
porta, esperando que os servos da casa estejam prontos e vigilantes para logo
abrirem.
Este sentido parece concordar com
advertências em cartas para outras cinco igrejas. À igreja em Éfeso, ele alerta
sobre uma vinda para mover o candeeiro (Apocalipse 2.5). À Igreja de Pérgamo, a
advertência é que Ele pode vir sem demora e pelejar contra os que estão errados
(Apocalipse 2.16). Os fiéis de Tiatira devem conservar o que têm até que Ele
venha (Apocalipse 2.25). Os de Sardes devem vigiar, pois Ele virá como ladrão,
numa hora inesperada (Apocalipse 3.3). E à igreja em Filadélfia, Ele avisa que
vem sem demora (Apocalipse 3.11).
Devemos lembrar que esta advertência
foi feita para pessoas que pertenciam a uma igreja, não para descrentes que
precisavam ser evangelizados. Na leitura do versículo anterior percebemos que
era para uma igreja amada por Jesus, e por isso estava sendo repreendida. Creio
que o sentido é que o dono da casa, no caso o Senhor da Igreja, está chegando e
batendo na porta, e Ele avisa que é preciso zelo e arrependimento da parte de
seus servos. A resposta é individualizada “Se alguém ouvir...”.
Jesus está à porta e batendo,
estamos ouvindo? Estamos dispostos a abrir através da mudança em nossas vidas?
Porque Jesus mandou este alerta para aquela igreja?
A a razão pode ser resumida em dois problemas que havia na Igreja em Laodicéia: um conceito enganoso de si mesma que produzia um falso senso de segurança e uma negligência e apatia em cumprir sua missão como igreja de Cristo.
A igreja se sentia muito segura de
sua condição espiritual, mas era uma falsa segurança.
Ela se considerava rica e abastada, sem
necessidade nenhuma (Apocalipse 3.17,18).
Provavelmente aquela igreja era financeiramente abastada, pois a cidade
de Laodicéia era rica, com muitos estabelecimentos bancários. Um dos riscos da riqueza é produzir uma
sensação de autossuficiência e segurança. Como ocorreu com o povo de Israel na
época do profeta Oséias (Oséias 12.8). Isso é arrogância, pois, por mais bens
que venhamos a possuir, sempre seremos dependentes de Deus.
A Igreja de Laodicéia
estava enganada a respeito de si mesma. Ela achava que tudo estava bem, mas sua
situação era lastimável. Da perspectiva divina ela era infeliz, miserável,
pobre, cega e nua. A sua abastança era constituída de sua miséria, como alguém
que carregava um pesado fardo.
Era uma igreja carente. Jesus aconselhou aquela igreja a
adquirir ouro, vestes e colírio. A ironia da situação é que a cidade de Laodicéia
se orgulhava de sua riqueza, de sua grande indústria têxtil e de um famoso
remédio para os olhos produzido ali. Mas ela precisava da verdadeira riqueza:
uma fé provada, que vale mais do que ouro (1Pedro 1.7); da roupa que nos guarda
de estarmos nus diante de Deus: os atos de justiça (Apocalipse 19.8); e do
colírio que abre os nossos olhos para as verdades essenciais da vida: evangelho
(Lucas 4.18).
A igreja também era apática, letárgica e indiferente em
cumprir a sua missão. Isso é entendido a
partir do diagnóstico que Jesus declara nos versículos 15 e 16. Ela é chamada
de morna, nem fria e nem quente. Uma das
fraquezas da cidade de Laodicéia era sua carência de água potável. Enquanto as
cidades vizinhas tinham águas uteis: Hierápolis com suas fontes de águas
térmicas e medicinais que serviam para cura e Colossos com suas águas
refrescantes que saciavam a sede, as águas de Laodicéia não serviam nem para
uma coisa nem para outra, pois continham certos minérios que as deixavam mornas
e rejeitadas com nojo pelos sedentos.
Eram águas inúteis. Assim também era a vida da
igreja. Embora a interpretação popularesca deste versículo entenda que quente
se refere a alguém que tem uma fé firme,
frio àquele que não crê e morno
seria quem fica no meio termo. Não é isso que Jesus quer dizer. Pois com
certeza, Ele não prefere descrentes aos de uma fé vacilante.
O que Jesus
está transmitindo é que aquela igreja havia se tornando indiferente ao seu
estado e missão espiritual. O tempo e as condições de abastança material tinham
deixado a igreja acomodada, apática e sem utilidade no Reino de Deus. Ela nem fornecia cura para os
espiritualmente enfermos, nem refrigério para os espiritualmente cansados. Uma
igreja morna é aquela que perdeu sua influencia no mundo.
Deus estava
profundamente desgostoso com esta igreja, com nojo dela, a ponto de vomitá-la.
Por isso o aviso para o zelo e arrependimento. Era necessário prestar atenção
ao amor disciplinador de Jesus.
Quando alguém
bate em nossa porta duas situações podem nos impedir de abrir: não ouvir a
pessoa batendo, por estarmos entretidos demais com outras coisas; e a outra é,
ouvirmos mas não abrimos porque não
queremos ser incomodados. Se agirmos assim com o aviso de Jesus perderemos as
bênçãos eternas.
É preciso ouvir
a voz de Jesus, deixar de lado nosso senso de autossuficiência e reconhecer seu
chamado e sua repreensão. E ouvindo este chamado, é necessário sair do
comodismo e apatia, levantar-se para abrir a porta. Só assim desfrutaremos a
comunhão que começa agora, depois se intensifica e se perpetua por toda
eternidade (João 14.23; Lucas 22.30). Porque Ele está às portas.
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