É possível deitar
e pegar no sono, mesmo sendo perseguido por pessoas que tentam tomar-nos tudo
que é de valor, inclusive a vida? O rei Davi nos responde que sim. Ele passou
por essa experiência, mas ainda assim deitou e dormiu a noite toda, acordando
com as forças restauradas.
Mas como se
consegue dormir despreocupadamente quando a situação em volta é um tumulto, uma
revolta, com pessoas buscando tirar a nossa vida? O próprio Davi nos mostra no
Salmo 3 como isso é possível. Ele escreveu este salmo ao despertar numa manhã, depois
de uma noite ameaçadora, quando fugia do próprio filho que pretendia matá-lo e
ficar com o trono.
Essa
história é contada em 2 Samuel capítulos 15 a 17. Absalão era o filho herdeiro
do trono, pois já havia assassinado Amnon, seu irmão mais velho. Parece que ele
estivesse com dúvidas se seu pai lhe daria o reino, depois do que havia feito. Ou
mesmo o motivo fosse por estar impaciente, achando que a morte de seu pai
estava demorando muito. Então resolveu adiantar a situação e garantir que o
reino seria seu.
Quatro anos
antes ele começou a roubar a lealdade dos súditos, espalhando notícias falsas a
respeito de seu pai e fazendo promessas vazias para quando se tornasse rei.
Quando achou que tinha gente suficiente para executar seu plano, enganou seu
pai, afirmando que precisava ir à cidade de Hebrom cumprir um voto que havia
feito a Deus. Enquanto isso, mandou conspiradores por todo o reino, conclamando
o povo à revolta. Também convidou vários homens que eram leais a Davi, sem
dizer a estes o que pretendia. Ainda chamou o melhor conselheiro da época,
Aitofel. Então a conspiração começou a tomar vulto, e muitas pessoas se aliaram
a Absalão contra Davi (2 Sm 15.1-12).
A notícia
que chegou a Davi foi que o coração de todos os homens de Israel estava seguindo
Absalão. Pego de surpresa, Davi percebeu que só lhe restava fugir rapidamente
de Jerusalém, para salvar a si mesmo, seus seguidores e a cidade. Desta fuga participaram
homens, mulheres e crianças. Davi foi o último de seu exército a deixar
Jerusalém. Seguiu em direção ao deserto, para atravessar o Rio Jordão,
chorando, com a cabeça coberta e descalço, mostrando sua vergonha diante da
situação. Enquanto caminhava e chorava, ele também orava e tomava algumas
providências.
Além de
Absalão, Davi teve que lidar com intrigas entre seus aliados e falsas acusações
e maldições de outros inimigos. Sua reação foi a oração.
Chegaram do
outro lado do Jordão exaustos e ali pararam para repousar, tomar alento e
renovar os ânimos (2 Sm 16.14). Mas como se reanimar numa situação dessas? Davi
nos mostra que a melhor maneira de sermos animados em situações atribuladas é
através da oração. Pois a oração nos renova a confiança para enfrentar a vida.
Nesta oração
ele contou suas aflições a Deus (Sl
3.1,2). Por três vezes mencionou que eram muitos os seus inimigos, que os seus
atormentadores tinham se multiplicado. E estes afirmavam que não havia mais
esperança para Davi, que Deus não estava mais com ele, que era o seu fim.
Davi
encontrava-se perseguido, cansado, triste, desprezado e desacreditado. Mas
clamou a Deus contando sua situação. É isso que todos nós devemos fazer nas
tribulações. Tal como os pássaros buscam o calor e a luz do sol quando começa o
frio e escuro inverno, os cristãos se voltam para Deus nas crises.
Além disso,
Davi confessou sua confiança em
Deus. Disse que Deus era seu escudo, isto é, aquele que o defendia e protegia.
Que Ele iria restaurar sua glória, fazendo-o andar de novo com a cabeça
erguida. A expressão “levantar a cabeça” indicava a restauração a uma posição
de honra (Gn 40.13). Também confessou que Deus escutava quando clamava. A
superioridade esmagadora de seus inimigos e problemas não sufocou sua confiança
em Deus. Nos momentos críticos devemos lembrar quem é Deus e afirmar isso.
Por confiar
em Deus, Davi se deitou e dormiu. Naquele deserto, seu colchão e travesseiro
foram sua confiança em Deus. Isso o fez dormir tranquilo. No outro dia,
levantou-se renovado e disposto a continuar confiando. Pelas palavras do verso
5, sabemos que o salmo foi composto pela manhã. O despertar foi o momento para
cantar sua confiança em Deus. Ele expulsou a cacofonia da desordem e da tribulação
interior com a harmonia da fé.
Ao amanhecer,
Davi reconheceu que pode deitar, dormir e levantar porque Deus era seu apoio. Isso
o fazia não temer a multidão que se colocava contra ele. Ao invés disso, ele renovou
sua oração. Clamou por justiça, que aqueles que como feras tentavam devorá-lo
tivessem seus queixos feridos e os dentes quebrados. E mais uma vez celebrou
que sua salvação dependia apenas de Deus.
Davi nos
ensina que a paz não depende das circunstâncias, mas da confiança em Deus. O melhor sonífero para nos dar uma noite
tranquila, mesmo em meio ao tumulto dos problemas, é a oração.
2 comentários:
Obrigado, PR. Almir, pelo legado que humildemente está construindo. Obrigado pelo ensino. Deus continue lhe enriquecendo espiritualmente. Com amor em Cristo.
Forte.
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