terça-feira, 10 de outubro de 2017

INVEJA – O PECADO DO OLHO GRANDE

Ela já foi chamada de o câncer da alma. Sua definição de felicidade bem que poderia ser: aquela agradável sensação de prazer ao ver a desgraça do outro. Isso é a inveja.
Uma expressão usada originalmente nas Escrituras para representar a inveja era “olho mau”. Equivaleria à nossa expressão “olho-grande”, sugerindo um olhar de cobiça, hostilidade e ressentimento para com o bem-estar do outro (Sl 68.16; Mc 7.22). Parafraseando um pensador grego da antiguidade: O sucesso dos outros é motivo suficiente para o invejoso ficar zangado (Xenofonte). Tomás de Aquino definiu a inveja como o desgosto pelo bem alheio.
            Outro termo usado pelos escritores originais da Bíblia para indicar a inveja descreve um estado de espírito enérgico e intenso que instiga a ação. É um desejo ou emoção forte que anseia por algo. Aquele sentimento que se preocupa com algo ou alguém. Quando motivado e executado de forma apropriada ele é descrito como zelo, pois se esforça pelo bem-estar do outro. Mas, como o mal sempre é uma perversão do bem, a inveja e o ciúme são a perversão deste zelo, tornando-se um esforço que prejudica e destrói.
Qual seria a diferença entre a inveja e o ciúme? Enquanto o ciúme zela por manter o que é seu, a inveja zela por conseguir destruir o que é dos outros. O ciúme pode ser correto se cuida daquilo que é seu por direito e do modo adequado (Pv 6.34; 2 Co 11.2). Mas pode degenerar-se em vício, imaginando ameaças e reagindo de forma inadequada. Por isso é dito que o amor não arde em ciúmes (1 Co 13.4).
            Precisamos também diferenciar a inveja da imitação positiva, que é a emulação, a atitude que admira e deseja possuir algo de outro ou mesmo ser-lhe igual em algum sentido, sem lhe trazer nenhum prejuízo (2 Co 9.2; Gl 4.18). Nesse caso a pessoa pode até querer comparar-se com o outro, mas tem prazer com o bem daquele a quem imita. Ela deseja a mesma alegria para si. E como ela admira aquele modelo, isso a motiva a esforçar-se por conseguir a posse ou qualidade desejada. Podemos ilustrar esse fato com um músico que, ao deparar-se com outro que toca melhor do que ele, fica admirado e impressionado e se propõe aprender e treinar mais, para um dia tocar tão bem quanto o outro.
A inveja porta-se diferente. Faz a comparação e ao perceber que não é ou não tem aquilo que é do outro, sente-se inferiorizada e até injustiçada. Fica triste e ressentida e começa a desprezar ou rebaixar o outro, ou mesmo destruir aquele bem. Comparando: enquanto a emulação empurra a pessoa para a escada rolante que faz todos subirem, a inveja procura puxar o tapete de quem está acima.
A inveja apresenta-se como ressentimento, amargura ou rancor e, se o invejoso não consegue ter o que deseja, fica satisfeito em pelo menos privar o outro daquilo. Essa atitude pode ser expressa com a frase “Nem eu, nem ele”. Isto é, “já que eu não consigo ter, fico satisfeito que ele também não tenha”. 
O escritor Os Guiness, em seu livro “Os 7 pecados capitais”, apresenta algumas características da inveja. Ela é o vício da proximidade, isto é, inveja-se aquilo que se tem em comum com pessoas próximas: um orador não invejará o talento de um músico, mas o de outro orador; um administrador não invejará a posição de um médico, mas a de outro na mesma função; e assim por diante.
A inveja também é subjetiva, ela está nos olhos de quem vê, e nem tanto nas qualidades do que é invejado. Pode até ser que o invejado nem seja tão bom assim, mas a inveja faz com que o invejoso enxergue aquilo como o melhor bem possível, e conclui que sua infelicidade se deve ao fato de o outro possuir aquilo.
A tentação da inveja não diminui com a idade. Ela pode até intensificar-se. À medida que o tempo e as oportunidades passam, os outros acumulam conquistas, e o invejoso fica para trás, ela tende a invejar mais.
Outra característica da inveja é que seus praticantes nunca a apreciam e raramente a confessam. O prazer que ela traz é desesperador e nunca admirado, pois se compraz na destruição e privação. Outros pecados podem até trazer um prazer temporário e alguma admiração aos seus perpetradores, embora nenhum prazer ou admiração compense as consequências. Um enganador pode até lucrar alguma coisa com seu engano e ser admirado por sua esperteza. Um assaltante pode até levar algum bem com seu assalto e ter sua perícia e coragem admiradas. Mas a inveja? O que ela deixa de saldo? Quem conta como vantagem o fato de ser invejoso?
A inveja é insaciável, desgastante e torna o invejoso um destruidor de si mesmo. Ele nunca estará satisfeito. Após arruinar o prazer de um, ele se defrontará com o prazer de outro e sofrerá com ele.  Em Provérbios 14.30, lemos que um interior sadio produz um corpo com vida, mas a inveja faz apodrecer os ossos. O autor nos alerta que um coração que cultiva bons sentimentos desfrutará de uma vida saudável, mas aquele que permite a inveja dentro de si, será como uma pessoa apodrecida, desgastada, sem alegria e ânimo para viver. A inveja faz a pessoa adoecer.
A inveja também é destruidora. Em Provérbios 27.4, após afirmar que o furor é cruel e comparar a ira a uma inundação destruidora, o autor pergunta: mas quem pode enfrentar a inveja? Demonstrando que ela é mais cruel que o furor e mais destruidora que a ira. O mundo está cheio de desastres causados pela inveja.
Em Gênesis 26.12-16 temos um exemplo de como a inveja é destruidora. Deus havia abençoado muitíssimo a Isaque, de modo que ele ficou riquíssimo. Os filisteus, seus vizinhos, não aguentaram isso, e ficaram com inveja. E o que fizeram? Entupiram os poços de água. Ao fazer isso, não apenas prejudicavam a Isaque, mas também a si mesmos. Não satisfeitos pediram para Isaque se afastar deles. Nesse caso ficaram com os poços entupidos para eles. A inveja age irracionalmente.  
Outro problema com a inveja é que ela pode ser mascarada por desculpas aparentemente construtivas. Ao falar mal de uma pessoa que está sendo elogiada, o invejoso, muitas vezes, tenta mascarar sua inveja dizendo: só estou alertando vocês para a verdade sobre fulano. Em realidade, ele apenas não suporta o sucesso do outro. Outras vezes, pode tecer intrigas com calunias para destruir um relacionamento e alegar que está preocupada com o futuro de alguém das pessoas envolvidas. Pode criticar uma boa obra, afirmando que está fazendo isso para instruir a outros. E assim por diante.
Devemos tomar muito cuidado com nossas motivações quando criticamos ou falamos mal de alguém. Será que não é a inveja corroendo nossos corações?
Conta-se que um rei chamou dois de seus súditos, um ganancioso e um invejoso, e lhes disse que um deles poderia fazer-lhe um pedido e seria atendido. O outro não pediria nada, mas receberia o dobro do que o primeiro pedisse. Isto criou um impasse entre os dois servos, pois nenhum deles queria ser o primeiro a pedir. O ganancioso, porque desejava tudo. Sabia que, se pedisse primeiro, ficaria com a menor parte. O invejoso, porque não aguentaria ver o outro recebendo o dobro do que pedisse. Ele não encontraria nenhuma alegria no bem recebido por maior que fosse, pois sua concentração seria ver o outro recebendo o dobro, e isso o deixaria triste.  Depois de certo tempo no impasse, o ganancioso conseguiu convencer o invejoso a pedir primeiro, argumentando que se custassem mais, os dois poderiam perder. O invejoso decidiu pedir primeiro. Depois de muito pensar foi ao rei e disse: o meu pedido é que o senhor me deixe cego de um olho.
Ele perderia um olho, mas isso não o deixaria triste, já que o ganancioso, ficaria cego dos dois. Esse é o espírito da inveja. Que Deus nos livre dele!
Para enfrentar a inveja precisamos aprender a estimar e admirar o que os outros têm de bom, e manifestar gratidão a Deus, por estas bênçãos doadas a outros. Também devemos aprender o contentamento com o que Deus, soberanamente, nos tem dado. Se Ele decidiu dar mais a outros do que a nós, vamos louvar o Seu nome por isso, e pedir que Ele conceda sabedoria àquela pessoa para usufruir corretamente dos bens que Deus lhe tem dado. Isso nos livrará da inveja.




Um comentário:

BLOG DO PASTOR ALMIR CRUZ disse...

Belo texto pastor Almir! Aprecio muito o seu trabalho. Deus o abençoe ainda mais no decorrer do tempo para treinar obreiros e escrever coisas que nos tragam edificação. Parabéns!

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