sábado, 12 de maio de 2018

JÓ, O HOMEM QUE NÃO DESISTIU DE ORAR

             O livro de Jó é fascinante. Uma obra de excelência artística literária, que inclui narrativa e poesia, diálogos e discursos. Tem um enredo atraente, abordando questões complexas, mas muito pertinentes, entre elas: por que os justos sofrem? Que é uma das mais perturbadoras para a nossa mente.  
            Em minhas leituras bíblicas, este livro sempre renova minha admiração, pois aprendo e descubro aspectos que haviam passados desapercebidos em leituras anteriores.  Neste ano, como a leitura do livro coincidiu com os preparos para a campanha de oração, fiquei mais atento aos seus ensinos sobre oração, compartilho agora algo que aprendi. 
            Primeiro fato que se destaca é que Jó era homem de oração. Ele passou por três grandes fases em sua vida: prosperidade, aflição e novamente prosperidade, esta última em dobro. E a oração o acompanhou nestas três épocas. A oração foi sempre sua primeira reação diante das surpresas da vida, fossem essas agradáveis ou não.
            Logo no início, quando seu caráter nos é apresentado, lemos que ele se levantava de madrugada para oferecer holocausto em favor de seus dez filhos (1.5). Era uma atividade de intercessão, na qual apresentava seus filhos diante de Deus, através de ofertas sacrificiais, e assim os conduzia à santidade. Não havia nenhuma indicação de que estes jovens não temiam a Deus, pelo contrário, Jó sabia que na aparência eles não haviam pecado, mas queria ensinar que a devoção interior, aquela que é fruto de um coração que ama a Deus, era muito importante. Esta não era uma atividade esporádica na vida de Jó, mas contínua.  No período de provação, ele relembra que, em sua prosperidade, clamava e Deus lhe respondia (12.4). Assim era Jó na época em que tudo ia bem na sua vida, sempre orando a Deus, sem jamais colocar sua esperança em ídolos, pois isso seria negar Deus (31.24-28). 
Outro ensino claramente perceptível é que nem sempre uma vida de oração nos livra dos sofrimentos. Mesmo sendo homem de oração, Jó passou pela aflição. Mas, quando ela chegou sua primeira reação foi orar. Ao saber que havia perdido tudo, incluindo seus dez filhos, ele se lançou de rosto em chão e adorou a Deus, louvou a Deus pelas perdas. E a partir daí até o capítulo 31, o livro nos conta seus diálogos com seus amigos e também suas conversas com Deus através da oração.  
            Nestas orações Jó desabafava e lamentava, derramando suas queixas diante de Deus (10.1,2). Afirmava sua certeza de que seu sofrimento viera das mãos do Deus soberano que ele adorava. Ele não conseguia entender o motivo, mas tinha certeza da origem (16.7,12). Isso incentivava sua oração, pois se Deus era causa, também seria a solução. 
            Quando a aflição é intensa e demorada pode-se ter a impressão de que Deus não está ouvindo, ou se escuta, não demonstra interesse em atender. Jó também teve esse sentimento, e não o escondeu de Deus, mas o declarou em oração. Disse que se sentia como alguém que desesperadamente clama numa hora de necessidade, de pé diante de Deus, mas Deus apenas olha e nada faz (9.16; 19.7;30.20). Numa situação assim, as palavras de Eliú servem de ajuda ainda que dizes que não o vês, a tua causa está diante dele, por isso, espera nele (35.14).
Foi exatamente isso que Jó fez, o silêncio de Deus não o desanimou, continuou clamando, buscando as explicações verdadeiras e justas, afirmando a pureza de suas orações (13.3; 16.17). Mesmo quando buscou e não encontrou, ele não desistiu de continuar clamando (23.1ss), apresentando sua defesa (31.35). Este constante apelo à Deus evidencia a intensidade de sua confiança e relacionamento com Ele. 
Também levou a Deus suas reflexões sobre a vida, contando como ele estava vendo a realidade naquele momento, não tentou esconder de Deus o que pensava (14.1ss). Derramou suas lágrimas diante de Deus, apresentando seu choro, ensinando que a oração é o melhor colo ou ombro para chorar quando a dor é grande e os amigos não entendem (16.20).  O que ele mais ansiava era voltar a desfrutar da amizade de Deus (29.4). Mesmo em sua aflição, rejeitou como perversa a atitude que nega o proveito da oração e acredita que a prosperidade depende apenas do esforço humano (21.14-16),  manteve a crença de que orar a Deus é uma forma de deleitar-se n’Ele (27.10).
Na última fase, a reação de Jó diante da resposta de Deus foi a oração, desta vez confessando e admitindo que não conhecia tudo, e que Deus é soberano e poderoso (40.4,5; 42.2-6). E por fim intercedeu por seus amigos, aqueles mesmos que o haviam acusado falsamente (42.7-10).
Jó compartilhava com seus amigos a crença de que Deus não atende a oração do injusto (27.9; 35.9-13). Mas, aprendeu que isso não significa que Deus está obrigado a atender a oração do justo da forma e no tempo que o justo pede, como seus amigos apregoavam (22.27;33.26). Deus tem sua própria agenda e seu próprio tempo. Ele atende até aos filhotes de corvos quando clamam (38.41), mas faz isso de acordo com Seus próprios propósitos.   
Mas o fato de Deus não nos atender conforme a nossa vontade e no nosso tempo não significa que a oração não tenha proveito. Pois Deus respondeu, no tempo e da forma que Ele sabiamente planejou, e isso não apenas foi de proveito para Jó e seus amigos, mas também para todos os leitores do livro, inclusive para nós hoje. Portanto, mesmo quando pensarmos que Ele não está se interessando, vamos perseverar, pois Ele está atento e no tempo certo responderá. 

                        


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