sábado, 19 de outubro de 2019

E QUANDO A OBEDIÊNCIA A DEUS NOS COLOCA NO OLHO DO FURACÃO?

Já passava das três da manhã e eles estavam exaustos, molhados e com frio. Afinal, há mais de doze horas que remavam no meio daquela tempestade, com muito pouco progresso. Experimentavam sensações bem diferentes das da tarde do dia anterior, quando Jesus estava com eles e solucionou um enorme problema:  alimentar uma grande multidão com apenas cinco pãezinhos e dois peixes. 

Fora um momento empolgante. Eles serviram como garçons, organizando as pessoas em grupos de cem e cinquenta e depois distribuindo os pães e peixes multiplicados por Jesus! Só homens foram cerca de cinco mil! Se contassem as mulheres e as crianças passaria de quinze mil pessoas. Todos comeram, repetiram até se fartarem e ainda sobraram doze cestos cheios de pedaços!
Só que, depois disso, Jesus interrompeu toda a empolgação empurrando-os para entrarem em um dos barcos e atravessarem sozinhos de volta para Cafarnaum, enquanto o próprio Jesus permanecia despedindo a multidão. Eles tinham obedecido Jesus, e agora se encontravam no meio de uma tormenta!  
Se algum de nós estivesse observando os discípulos naquela situação, talvez se perguntasse: O que será que eles fizeram de errado? 
Quando os problemas afligem alguém de modo que a pessoa, apesar de todos os seus esforços, não consegue avançar, logo julgamos que ela tenha feito algo errado. Perguntamos:  Qual deve ter sido o seu pecado? Em que ela desobedeceu a Deus? Esquecemos de que, algumas vezes, a obediência a Deus pode colocar alguém em grandes dificuldades. Como foi o caso dos discípulos (Mateus 14.22-34; Marcos 6.45-52; João 6.15-21). 
            Após a multiplicação dos pães, Jesus compeliu seus discípulos para entrarem num barco e atravessarem o mar da Galiléia, enquanto Ele despedia a multidão. Depois subiu ao monte para orar. A chegada da noite encontrou os discípulos navegando no meio de um mar enfurecido tocado por fortes ventos e altas ondas.       
Os discípulos estavam no meio de uma tribulação exatamente porque haviam obedecido a Jesus. A ideia comunicada pelo verbo “compelir” é de obrigar mediante constrangimento ou uso de força. De alguma maneira Jesus havia ordenado que os discípulos tomassem o barco e fizessem aquela travessia. Ao fazer a vontade de Jesus eles foram colocados no olho da tempestade. Nem sempre os problemas enfrentados pelas pessoas são causados por desobediência. Algumas vezes a obediência a Deus nos coloca em situações extremamente complicadas.
            Por que Jesus agiu daquela maneira?
O contexto conta que ao presenciar o milagre da multiplicação e comer até ficar farta, a multidão entusiasmou-se, e creu que Jesus era o profeta que havia sido prometido por Deus em Deuteronômio 18.15,18. Afinal, profetas do passado, como Elias e Eliseu, também já haviam multiplicado alimentos e saciado pessoas! Além disso, alguém com aquele poder e capacidade para resolver problemas só poderia ser o Rei prometido, que libertaria o povo de Deus. E logo a multidão desejou tomar Jesus à força e coroá-lo rei. 
            Embora o conceito de que Jesus era o Profeta e Rei prometidos estivesse correto, a aplicação estava errada. Agiam por conta própria e não seguiam a direção de Deus. Não haviam compreendido que naquela primeira vinda, o Rei viera como servo, não para saciar a fome de pão material, mas a fome da justiça de Deus. Ainda não tomaria o trono, mas uma cruz. Sua coroa seria a de espinhos e não a de ouro, morreria pagando pelos pecados do povo e não receberia as honras de rei. 
            Se aquela pretensão do povo se concretizasse, uma revolução contra o Império Romano estaria começando e os resultados poderiam ser trágicos. O conceito que os discípulos tinham era semelhante ao da multidão. Havia o risco de também se empolgarem com a ideia e acompanhar aquele projeto, abandonando o plano de Deus. Os discípulos nem haviam percebido, mas Jesus os livrara de um grande perigo. Ao empurrá-los para o barco os impedira de sofrer um mal maior: o afastamento da vontade de Deus. 
Quando algo não dá certo, não sai de acordo com o que você planejou, não satisfaz suas expectativas, e essa situação não foi causada por erro seu, pois você fez o que devia, não se culpe, nem reclame de Deus. Ele continua cuidando de você e pode estar livrando você de algo pior.  Sossegue o coração, entre no barco e enfrente a tempestade sem jamais esquecer de que “até os ventos e o mar lhe obedecem”
Aprendamos com Jesus que, muitas vezes, depois de grandes momentos de alegria, o recolhimento talvez seja a melhor saída.  A glória do mundo pode nos seduzir, atrair, enfeitiçar e distrair-nos do propósito que Deus.   A multidão nos apoia para o seu próprio bem e não porque está querendo a vontade de Deus. Algumas vezes é necessário ficar sozinho com Deus.  
Pessoas que querem pressionar-nos a ir numa direção contrária à de Deus não nos entendem. Maiores pressões podem vir dos mais próximos de nós, nem sempre porque querem o nosso mal, ou porque nos odeiam, mas porque pensam erradamente quanto ao que é bom para nós.  Vamos deixá-los de lado com suas expectativas erradas por um momento, passemos um tempo a sós com o Pai para ouvir apenas a voz d’Ele e sentir Sua pressão. Isso conservará a paz no coração em meio às tormentas da vida!

Um comentário:

Encantada com a graça disse...

Que bênção pastor! Texto confrontador e confortante ao mesmo tempo. Obrigada! Lindo texto, me edificou e abençoou. Deus te abençoe muito e continue te capacitando a cada dia.

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