Uma idéia muito comum é que o meio determina sua vida e o seu destino. Mas a Bíblia nos conta várias histórias mostrando que isto não é verdade. Uma delas ocorre no momento da crucificação de Cristo, e serviu de oportunidade para Jesus proferir sua segunda frase na cruz (Lucas 23.39-43). Este acontecimento nos mostra que vidas semelhantes podem ter destinos diferentes.
É a história de dois assaltantes. Dois homens que usavam de violência para se apropriar dos bens de outros (Mc 15.27,32; Mt 27.38,44). Por causa disso haviam sido condenados. Foram crucificados no mesmo dia que Jesus. Parte do sofrimento foi igual para os três: ser surrado pelo flagelo; carregar a trave da cruz até o lugar da execução; serem despidos: mãos e tornozelos pregados; corpo dependurado; esforço doloroso para respirar; dor de cabeça enorme; etc. Jesus ficou entre a dos dois assaltantes, cumprindo uma profecia (Is 53.12).
Mesmo compartilhando sofrimento semelhante ao de Jesus, eles zombavam de Jesus com insultos e blasfêmias (Mc 15.32; Mt 27.44), manifestando a rebeldia e perversidade dos seus corações. Um deles fez um clamor impossível de ser atendido: que Jesus salvasse a si mesmo e a eles também (Lc 23.39). Jesus só podia atender a um destes pedidos: ou Ele salvava a si mesmo, ou salvava os pecadores. E Sua escolha já fora feita: salvar os pecadores. Aqueles homens viam a cruz como sinal de fraqueza, e não de poder, de derrota e não de vitória, de fracasso e não de sucesso. Esta é a visão humana e mundana da cruz. Para eles Jesus ou era um mentiroso ou um iludido, pois proclamara ser o rei dos judeus, o Messias prometido, mas termina sua vida como um criminoso, condenado à morte, igual a eles.
Mas, uma mudança ocorre em um dos ladrões! Da blasfêmia ele passa à crença. Os atos e palavras de Jesus causam um impacto diferente em sua mente, não de descrença e zombaria, mas de arrependimento e fé. Ele sabia a razão pela qual Jesus estava sendo condenado: reivindicar ser o Messias, o Rei dos Judeus. Observara que, mesmo diante de tanto sofrimento e escárnio, Jesus reagia com amor. Ouvira a oração de Jesus: Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem (Lc 23.34). Notou que nesta oração Jesus chamou Deus de Pai. Isto quebrantou seu coração.
Seu arrependimento foi demonstrado numa mudança de atitude para com Jesus. Passa a desaprovar e a censurar os impropérios que o primeiro lançava sobre Jesus. Reconhece que é preciso temer a Deus. Ele pergunta: Será que mesmo diante da morte você não é capaz de temer a Deus? Isto demonstra que ele entendia que a ação de blasfemar contra Jesus era falta de temor a Deus. É uma percepção maior do que a dos religiosos, que viam Jesus como um impostor. O arrependimento envolve uma mudança da rebeldia para o temor que se curva e aceita a autoridade de Deus sobre nossas vidas. Do zombar para o respeito a Deus.
O arrependimento também incluiu um reconhecimento do pecado. Repreendendo o outro ele diz: Com certeza nós merecemos esta condenação. Estamos recebendo o que é justo, o que nossas obras de fato valem, o que é digno de nossos feitos. Este é o pagamento que merecemos por nossas vidas. Não há desculpas, nem acusações a outros. Ele não culpa a criação que seus pais lhe deram, a falta de oportunidades na vida, nem o fato do governo romano ser dominador e cruel, nem a influencia de amigos. Ele reconhece o seu pecado. Verdadeiro arrependimento é voltar-se para Deus, reconhecendo que tem pecado contra Deus. Que não merece nada Dele. Que a condenação eterna é o que merecemos. É confessar nossa condição pecaminosa diante de Sua santidade. Sem tentar esconder-se entre as árvores do jardim da vida, nem atrás de folhas de figueiras. É assumir que somos pecadores, e que isto não é culpa de ninguém, mas apenas nossa.
Além de arrependimento este homem demonstrou uma grande fé, aceitando como verdadeiras as palavras de Jesus. Jesus estava sendo condenado por ter reivindicado ser Deus, ser o Messias, ser o Rei prometido do reino de Deus. Ao dizer que Jesus não tinha feito nenhum mal, em nenhum lugar, e que Ele estava sendo condenado injustamente, o ladrão estava acreditando que todas estas reivindicações eram verdadeiras. Fé em Jesus é aceitar o que Ele disse sobre si mesmo: que é Deus, Salvador e Senhor.
Fé em Jesus é aceitar a cruz de Jesus como parte de Seu reinado messiânico. Ele acredita que Jesus é o Messias, que traria o reino de Deus. De uma maneira surpreendente, este homem demonstra uma fé maior do que a dos seguidores de Jesus. Estes haviam acreditado no Reino de Jesus até aquele momento, até a cruz, mas haviam perdido as esperanças, como demonstra a conversa dos dois discípulos no caminho de Emaús (Lc 24.21). Pense nisto: ele está ao lado de um homem que está sendo crucificado como um criminoso, mas acredita que este homem trará o reino de Deus. Fé que vê o invisível. Fé que vê além das aparências. Fé que é firme fundamento de sua esperança (Hb 11.1). Fé corajosa que vence toda oposição: contra a opinião da maioria, dos religiosos da época, e até de seu comparsa, ele crê que Jesus é o Rei. Fé que supera os obstáculos: as duas mãos pregadas na cruz não o impediram de agarrar a última e maior oportunidade de sua vida.
Fé em Jesus é clamar pelo reino, por salvação. Lembra de mim, Jesus quando vieres no teu reino. Uma oração simples, nenhuma palavra difícil. Um pedido que reconhecia que sua maior necessidade não era descer daquela cruz, não era ser livre do sofrimento daquele momento. Uma petição que confessa que sua maior necessidade ia além das coisas deste mundo, por mais urgentes que fossem. Uma oração que busca o Reino de Deus em primeiro lugar. Fé que confia na graça. Não havia nada que ele pudesse fazer para compensar seus erros e pecados. Não tinha como corrigir sua vida. Não tinha como realizar nenhum rito religioso. Apenas a fé em Jesus foi o instrumento visível da graça que veio sobre ele.
Esta fé recebe uma promessa certa, garantida, maravilhosa. Jesus diz ao ladrão: O que eu vou dizer é firme e de confiança, é garantido. Você pode crer, pode confiar. Pode ter certeza que neste mesmo dia você estará comigo no Paraíso. Estar com Jesus já seria maravilhoso, quanto mais no Paraíso. Sua salvação foi por pura graça. Não houve censura por só clamar na última hora. Não houve recriminação. O arrependimento e a fé foram aceitos. De graça tudo foi perdoado!
Algumas pessoas não mudam seu comportamento, independente da situação em que estejam. A mesma situação pode levar a diferentes atitudes. Um blasfema, outro se arrepende. Ambos tiveram oportunidade, mas só um fez bom proveito. Um começou blasfemando, mas foi capaz de analisar as circunstâncias, ver além das aparências. Interpretar a situação como sendo sua última chance. O outro fez pouco caso. Um foi da cruz ao paraíso; já o outro...
No céu, poder-se-á perguntar ao ladrão salvo: qual o dia mais feliz da sua vida? Com certeza ele dirá: o dia que eu fui crucificado. E se no inferno perguntarem ao ladrão não arrependido qual o pior dia da sua vida, ele poderá dizer: o dia no qual deixei escapar minha última chance. Qual das duas respostas você poderá ouvir?
Um comentário:
Pastor Almir,
mais um texto de profundidade e clareza!
Creio que o arrependimento envolve muito mais do que "mudança de mente", conforme a palavra grega metanoia.
O arrependimento genuíno traz uma nova perspectiva de vida para o homem como um todo. E assim, a Bíblia nos apresenta exemplos belos de arrependimento, como o ladrão da cruz. Aquele brado de fé ecoa ainda hoje: "lembra-te de mim, quando vieres no teu reino!"
Louvado seja o Senhor porque o arrependimento também é operado por seu Espírito, que convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo.
Um abraço.
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