
Geralmente ser diferente causa medo. Medo que assombra tanto quem é diferente, como aqueles dos quais o diferente difere.
Diferente é aquilo que é raro, incomum, não frequente, e na maioria das vezes desconhecido, e tudo isso amedronta. A diferença normalmente é interpretada como divergência, desavença e falta de harmonia. E esta dissonância agride os ouvidos.
A diferença obriga as pessoas a reverem seus valores, a refletirem sobre suas escolhas tão semelhantes e comuns, e a avaliarem suas razões (que na maioria das vezes é baseada no que todo mundo faz e no que todo mundo pensa e diz). Este processo é desconfortável. Pode produzir mudanças, e estas assustam. Por isso, o diferente causa medo.
Mas o diferente também sente medo. Ser diferente é nadar contra a correnteza, o que exige um maior esforço. Ser diferente é andar na contramão, e isso é perigoso. Pode ser atropelado pela perseguição, o escárnio, e a pressão para se tornar igual a todo mundo e deixar de ser diferente.
Não gostamos de ser diferentes. Quando nos portamos diferentes, ou é porque queremos protestar, chamar a atenção,impressionar, ou orgulhosamente nos mostrar superiores, ou porque temos consciência da necessidade de agir assim. Nestes casos, ser diferente é algo dolorido e desconfortável, e exige coragem.
Temos medo de ser diferentes. O medo sempre é causado por algo que ameaça aquilo que valorizamos. Há dois valores que prezamos muito: nossa integridade física e nossa imagem (nosso nome ou nossa estima). Ser diferente pode ameaçar estes dois bens preciosos.
Onde domina o totalitarismo, ter uma posição diferente da maioria pode causar perda da liberdade, sofrimento físico e até morte. Em culturas onde não há este totalitarismo, a imagem é o bem mais ameaçado. Ser diferente pode causar ostracismo, desprezo, perda de negócios, isolamento social, calúnias e rejeição. Isto tudo causa sofrimento e dor, gerando medo.
Este medo irá se manifestar em fuga, timidez, vergonha, desânimo, desespero, abandono de posição, mudança de convicções, e desistência de tarefas e missões.
Penso que foi por isso que o apóstolo Paulo escreveu para Timóteo reavivar o dom que Deus lhe havia dado (2ª Timóteo 1.6-8).
“Por esta razão, pois, te admoesto que reavives o dom de Deus que há em ti pela imposição das minhas mãos. Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação.Não te envergonhes, portanto, do testemunho de nosso Senhor, nem do seu encarcerado, que sou eu; pelo contrário, participa comigo dos sofrimentos, a favor do evangelho, segundo o poder de Deus”
Eram tempos difíceis e de perseguição. Paulo encontrava-se preso, sem perspectiva de livramento e acreditava que o final de sua carreira terrestre havia chegado (2ª Tm 4.6).
Ele lembra Timóteo que o dom que Deus lhe havia dado não deveria se apagar. As perseguições e pressões daqueles tempos poderiam jogar água fria tanto na fé sem fingimento, como na herança espiritual de valor, como no dom que Deus havia dado a Timóteo.
As brasas para manter este fogo aceso já haviam sido fornecidas. Deus não dera espírito de covardia. O termo traduzido como covardia (em outras versões aparece timidez) descreve a atitude de alguém que se amedronta e se apavora, e por isso deixa-se levar pelo desespero ou desânimo. Como os discípulos diante da tempestade (Mt 8.26 e Mc 4.40).
Sabendo que a natureza pecaminosa é propensa à covardia, Deus não poupou incentivo para que seu povo deixasse de lado esta atitude. Várias vezes Ele exortou o povo de Israel a não se intimidar diante da missão de conquistar a terra prometida (Dt 1.21; 31.6,8; Js 1.9; 8.1; 10.25). Como a timidez é algo contagiante, Ele ensinou que os medrosos não deveriam ir à guerra, pois poderiam desanimar os outros (Dt 20.8; Jz 7.3).
Jesus prometeu sua paz aos discípulos, e os exortou a não se intimidarem ou se acovardarem diante das situações que viriam (João 14.27). Também é dito que os tímidos ou covardes não habitarão no novo céu e na nova terra, mas que a parte deles será o lago de fogo (Apocalipse 21.8).
Ao invés de covardia, Deus havia dado um espírito de poder, amor e moderação. O poder do Espírito Santo, que nos capacita a cumprir a tarefa que Ele nos dar; o amor, que nos faz temer a Ele e não aos homens; e a moderação, que é a disciplina que mantém a mente alerta, numa atitude equilibrada, com a disposição para cumprir a missão recebida diante de qualquer ameaça. Isto é suficiente para que se tenha energia para manter acesa a luz do testemunho cristão, que faz a diferença.
O medo pode levar a pessoa a sentir-se envergonhada por ser diferente. Por isso, Paulo diz para Timóteo não se envergonhar nem do testemunho de Jesus nem do aprisionamento de Paulo. Mas se tornar um participante no sofrimento.
O próprio Paulo não se envergonhava de seu sofrimento, e elogia Onesíforo, que não se envergonhava das prisões do apóstolo (2 Tm 1.12,16). Jesus não se envergonhou de agir em prol de nossa salvação (Hb 2.11; 12.2), como Deus não se envergonha daqueles que deixaram o mundo, tornando-se diferentes, para herdar a pátria celestial (Hb 11.16). Para fazer a diferença é preciso ter a coragem de ser diferente.
A vergonha, que é o medo de ser ridicularizado pelos homens, trará consequências eternas, Jesus irá se envergonhar diante do Pai, daqueles que se envergonharem Dele aqui (Mc 8.38; Lc 9.26).
A coragem para ser diferente hoje, dará a você um destino diferente na eternidade (1 Jo 2.28).