Grandes obras podem ter pequenos começos. Nem
sempre um começo sem prestígio e influência pode indicar uma obra sem
importância. Um exemplo é a carta aos Romanos. É provável que, quando a carta
chegou a Roma, poucos a leram, e que a maioria nem tomou conhecimento dela. Se
fosse hoje, não figuraria na lista dos livros mais vendidos. Não receberia uma
menção e nem uma crítica das revistas de informação. Não estaria exposto nas
vitrines das grandes livrarias.
Acredita-se que o apóstolo Paulo escreveu a carta
aos romanos quando estava na cidade de Corinto, no começo da primavera do ano
57 depois de Cristo.
Nesta época, a cidade de Roma tinha mais de um
milhão de habitantes, sendo que mais da metade da população era de fora. Certo
escritor disse que “Numa cena típica de
rua podiam-se ver escravos mouros conduzindo elefantes, germanos louros da
Guarda Imperial, egípcios de cabeça raspada, um professor de grego com os seus
manuscritos trazidos pelo escravo núbio que o seguia, príncipes orientais, selvagens
da Britânia”.
Havia opulência e riqueza acumulada, mas, na sua
maioria, os habitantes eram pobres e dependentes do governo, que lhes fornecia
gratuitamente cereais, banhos públicos e divertimentos. Por causa da
disparidade social, lado a lado havia: casas superlotadas, luxuosas mansões nas
vilas elegantes e as imponentes construções públicas de mármore (templos,
teatros, fóruns, etc.). Muitos dos problemas das grandes cidades modernas
também eram comuns em Roma.
O imperador da época era Nero, que herdara o trono
no ano 54, quando tinha apenas dezessete anos. Por ser jovem, o controle do
Império, pelo menos até o ano 59, ficou nas mãos de outras pessoas, entre elas
seu tutor, Sêneca, escritor e filósofo.
A religião era politeísta. Adorava-se um panteão de
deuses de diferentes origens e características, incluindo os da mitologia
greco-romana, os imperadores deificados, os deuses domésticos, os espíritos do
campo, e os protetores das cidades.
Acreditava-se que os deuses controlavam quase todas as atividades da
vida, então era conveniente render-lhes homenagens, para garantir o sucesso, ou
pelo menos, evitar as desgraças. A preocupação não era com o pecado, mas com o
sucesso e o êxito, isto é, com o dar-se bem na vida. Cícero escreveu “Júpiter é chamado o Melhor e o Maior porque não só nos faz sóbrios e
ajuizados como saudáveis, ricos e prósperos”.
Provavelmente a
carta aos Romanos foi lida apenas pelos cristãos, que eram menos de 0,5% da
população. Os influentes da cidade e do Império não a leram nem tomaram
conhecimento dela. Havia muitas outras obras consideradas mais interessantes
para ler: decretos do imperador, poesias, livros sobre filosofia e história,
etc. Além disso, havia muitas outras coisas com as quais ocupar o tempo:
teatro, circo, adoração aos mais diversos deuses, etc.
A carta também
tratava de um tema que estava baseado num acontecimento, ocorrido há quase
trinta anos, na distante Palestina, e que não havia chamado à atenção dos
poderes de Roma: o ministério, morte e ressurreição de Jesus Cristo, fatos que
são o centro do Evangelho. Para as autoridades romanas o cristianismo era
apenas mais uma facção do judaísmo. Suetônio, historiador do Imperador Cláudio
(que havia governado antes de Nero), escreveu que a expulsão dos judeus em
torno do ano 49, ocorrera por causa da instigação de Chrestus, e ele está se
referindo a Cristo. Isto indica que nem o nome e título correto de Jesus ele
estava interessado em saber.
Paulo, o escritor
da carta, era um cidadão romano, até então sem muita influência, perseguido
pelos judeus e criticado até por alguns cristãos. Nunca havia estado em Roma, e
seus contatos lá não eram muitos. Anos mais tarde, quando lá chegou, os judeus
nem tinham conhecimento dele (Atos 28.21).
Mas, no decorrer
da história, Deus se encarregou de colocar as coisas no seu devido lugar. E nenhuma
literatura daquela época escrita para a capital do Império causou mais impacto
do que esta carta. O evangelho exposto nela transformou o mundo, salvou vidas e
mudou o curso da história em vários momentos. Seu autor, seu assunto e a
própria carta são mais conhecidos e estudados do que os decretos imperiais da
época, mais admirados do que as poesias, peças teatrais e músicas de então, mais
informativos do que qualquer livro de história escrito naquele tempo, mais
influentes do que qualquer obra filosófica produzida naquele período e mais
resistentes e úteis do que as grandes e imponentes construções do Império
Romano.
Esta verdade deve nos animar quando acharmos que o nosso trabalho em prol do Reino não faz diferença. Devemos fazer a obra que nos cabe, e confiar que Deus a usará como lhe apraz. E no Seu Reino receberemos a devida recompensa. A verdade do Evangelho pode ser perseguida, ridicularizada e desprezada, mas ela triunfará sobre as modas vazias, populares e enganadoras de cada tempo. Quanto tudo passar, só esta Palavra e os que nela confiaram permanecerão vitoriosos.
Esta verdade deve nos animar quando acharmos que o nosso trabalho em prol do Reino não faz diferença. Devemos fazer a obra que nos cabe, e confiar que Deus a usará como lhe apraz. E no Seu Reino receberemos a devida recompensa. A verdade do Evangelho pode ser perseguida, ridicularizada e desprezada, mas ela triunfará sobre as modas vazias, populares e enganadoras de cada tempo. Quanto tudo passar, só esta Palavra e os que nela confiaram permanecerão vitoriosos.
Um comentário:
Algo que eu observei e senti na pele, é que há uma grande pressão para que os crentes desenvolvam uma grande obra. As pessoas se sentem acuadas e muitas vezes se envolvem em trabalhos para os quais não estão preparadas só para agradar á Igreja. O crente deve se colocar à disposição da orientação divina nesse sentido. O tempo é o de Deus e é Ele quem determina a nossa verdadeira vocação e nos prepara para realizá-la. Hoje eu me coloco à disposiçao do Senhor sem a necessidade de mostrar para o mundo o que Ele pode realizar através do que eu faço em prol do Seu Reino. É só entre eu e Ele, a obra é Dele, Ele me ensina e me orienta, o louvor é todo prá Ele. Agora está tudo certo. Lucia Nogueira.
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