“Virou fumaça!” o uso desta expressão pode significar: não serviu de nada, acabou-se e não tem nenhuma utilidade! Uma das ofertas que o povo de Israel fazia para Deus no Antigo Testamento virava fumaça. Para um não devoto, pegar um animal e entregá-lo para ser totalmente queimado, sem aproveitar para si nenhuma parte, significava algo totalmente sem utilidade. Mas esta oferta expressava a devoção do crente a Deus.
O altar de holocausto era primeiro móvel visto pelo adorador quando entrava no pátio do tabernáculo. Também conhecido como altar de bronze, por ser feito de madeira e coberto de bronze. Era quadrado, tinha dois metros e vinte e cinco centímetros de largura e um metro e trinta e cinco centímetros de altura (Ex 27.1-8; 3.1-7). Era neste altar que os sacrifícios, também chamados de ofertas, eram realizados.
Uma destas ofertas tinha o mesmo nome do altar “holocausto”. Esta palavra em nossa língua vem de um termo grego que significa “todo-queimado”. O que é um nome bem adequado, pois este oferecimento era totalmente queimado no altar de bronze. O termo hebraico que designa esta oferta tem sua origem no verbo “subir”, pois o sacrifício, sendo queimado, virava fumaça que subia, transmitindo a idéia de que o Senhor a recebia como símbolo do louvor do adorador.
No livro de Levítico lemos as regras para se oferecer um holocausto (1; 6.8-12; 8.18-21; 16.24). O animal oferecido tinha que ser sem defeito. Poderia ser um novilho, carneiro, ou uma ave. O ofertante identificava-se com a oferta pela imposição das mãos. O animal era morto, seu sangue derramado nos lados do altar, cortado em pedaços, algumas das partes eram lavadas, então tudo era arrumado em cima do altar e totalmente consumido pelas chamas do altar (menos a pele, e as partes que não ficavam limpas com a lavagem).
O holocausto era um ato voluntário de adoração que simbolizava dedicação e devoção. Nele o adorador expressava sua homenagem e tributo ao Senhor, indicando sua entrega total a Deus. Era um ato de louvor, pois a soberania de Deus sobre a vida e a total dependência do crente eram reconhecidas e declaradas. As motivações para se ofertar um holocausto poderiam ser: (1) expiação, quando o adorador reconhecia seu pecado e a necessidade de uma morte para que fosse perdoado (Jó 1.5; 42.8; 2 Sm 24.25); gratidão, pois o ofertante reconhecia que sua vida e as bênçãos que a acompanhava eram dádivas de Deus (Gn 8.20ss; 1 Sm 6.14); (3) petição, quando o holocausto acompanhava a oração, especialmente em momentos de aflição, expressando a idéia de que, da mesma forma como aquela fumaça subia, que a oração do pedinte também subisse até Deus (Jz 21.4; 1 Sm 7.9,10; Lc 18.9-14); (4) devoção, onde o crente admitia que Deus era merecedor da totalidade de sua vida, de seu amor, e de tudo que tivesse, o maior exemplo neste caso é o de Abrãao oferecendo Isaque (Gn 22).
O holocausto não poderia ser encarado como um ritual que substituía a obediência, mas era resultado da obediência. Quando não acompanhados de uma atitude de submissão à vontade de Deus ele não tinha valor nenhum (1 Sm 15.22; Jr 6.20). Quando misturados com a desobediência a fumaça do holocausto não era um aroma agradável a Deus, porque Ele não tolerava que a desobediência aos seus mandamentos fosse mascarada com ofertas ritualistas (presença nos cultos, ofertas financeiras, etc.) como se o adorador estivesse tentando suborná-Lo.
Mas, pensar que só a obediência no coração sem nenhuma manifestação externa de devoção fosse suficiente é engano. Algumas pessoas se desculpam da falta de um oferecimento externo a Deus (presença nos cultos, contribuições financeiras, tempo para trabalhar para Deus) dizendo que o coração é o que importa para Deus. De fato, Deus está interessado no coração, mas quando nosso coração está interessado em Deus, haverá manifestações externas desse amor (Sl 51.17,19; Is 56.7; Mq 6.6-8).
Hoje, uma das ofertas que devemos fazer a Deus é o nosso corpo (Rm 12.1). A idéia é que, diante de tudo que Deus fez para nos salvar, devemos manifestar nossa gratidão apresentando nossa vida em obediência a Ele. Permitir que nosso corpo seja usado como instrumento tocado por Deus para produzir os sons da justiça neste mundo (Rm 6.13,19), que através deste corpo Deus seja glorificado (Fp 1.20,21), é um sacrifício é vivo (em contraste com os animais do AT que eram mortos), santo (dedicado a Deus) e agradável (Deus se alegra com este oferecimento). É também a maneira de cultuarmos a Deus de modo autêntico, verdadeiro. Fazer da nossa vida um presente a Deus é a essência do culto. Tomar cada um de nossos dias, de nossos afazeres diários, e ofertar a Deus é viver como adorador.
Deixar-se consumir no altar de Deus, ofertando nossos bens, energia e tempo, é expressar que nosso coração é devoto a Ele. Pode até parecer que nossa está se desfazendo em fumaça, mas é uma fumaça que sobe para Deus e trará resultados eternos.
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