Há algum tempo li a
frase acima num subtítulo de um romance e fiquei pensando no significado. Pela
história narrada no livro, acredito que o autor queria comunicar a ideia de que
alguns de nossos desejos podem se realizar, e que isso não será nada agradável,
por isso devemos tomar cuidado com o que desejamos.
Mas há outras razões para tomarmos
cuidado com os nossos desejos. Uma delas é que nossos desejos podem ser instrumentos
de forças além de nós e trazer consequências desastrosas para nós e para
aqueles que nos rodeiam. Esta verdade pode ser ilustrada no capítulo 21 de 1º
Crônicas.
O livro de Crônicos foi escrito para animar o povo de Deus que
voltara do exílio, e viu que seus motivos de glória haviam enfraquecidos. Sua terra
estava pouco habitada, a dinastia davídica estava dominada por outros impérios,
o templo reconstruído não tinha o esplendor do antigo e estavam rodeados de
inimigos. Mas o autor também queria exortar este povo, mostrando a razão para
aquilo estar acontecendo: a desobediência às ordens de Deus; e incentivar um
comportamento de obediência, que poderia mudar aquela situação.
Este capítulo introduz a parte do livro que trata dos preparativos
feitos pelo rei Davi para a construção do templo. Nele é dito como Davi
adquiriu o terreno onde o templo deveria ser construído.
No período narrado, Davi e o reino viviam momentos de glória,
crescimento e vitórias. Então apareceu Satanás, que é o inimigo de Deus e de Seu
povo. Seu nome significa “adversário”. Ele procura frustrar os planos de Deus
tentando pessoas, mesmo aquelas escolhidas por Deus para cumprir uma missão. Ele
seduziu e fascinou o rei Davi, e assim o incitou e o instigou a realizar um
senso. A ideia da palavra é que Satanás usou de esperteza para enganar Davi e
levou-o a fazer o censo.
Satanás fez isso através do desejo de autoglorificação do rei
Davi, ou ainda sua inclinação de confiar na quantidade para avaliar sua
grandeza e segurança. Davi foi advertido por Joabe, que mostrou que aquele ato
traria culpa sobre o povo e era uma atitude abominável (21.3,6). Mas,
parece-nos que Davi estava dominado por seu desejo e cego para os perigos que
sua realização traria.
Devemos tomar cuidado com os desejos do nosso coração, através
deles Satanás pode nos enganar e nos levar a fazer aquilo que desagrada a Deus
e prejudica o Seu povo. Nossos desejos podem ser instrumentos de poderes
invisíveis que estão além de nosso controle.
Satanás tentou e induziu, mas isso não isentou Davi. Ele foi
considerado culpado, e teve que arcar com as consequências de sua escolha. O
próprio Davi admitiu sua culpa, e não se aproveitou da tentação como desculpa (21.8). É
comum as pessoas fugirem da admissão e da culpa de seus erros, usando a tentação de Satanás e a provocação das pessoas como pretexto, e uma forma de se desculparem. Somos tentados, mas a queda nesta tentação é responsabilidade
nossa, a culpa é nossa se cairmos, e as consequências serão nossas e daqueles
que estão sob nossa responsabilidade.
Quando ouvimos Satanás e seguimos os desejos errados do nosso
coração, nós desagradamos a Deus (21.7).
Ele se entristece e fica desgostoso e pesaroso, especialmente porque sabe
que terá que agir para corrigir e disciplinar Seu povo. Nosso pecado afeta mais pessoas do que imaginamos: nós mesmos, aqueles que estão sob nossa
responsabilidade e desgosta Deus.
A realização de desejos que são contrários à vontade de Deus é uma
loucura. Davi reconheceu isso (21.8). Saul já havia cometido esta loucura: “Então, disse Samuel a Saul: Procedeste
nesciamente em não guardar o mandamento que o SENHOR, teu Deus, te ordenou”
(1 Sam 13.13). Depois de Davi, o rei Asa também
procedeu assim: “Porque, quanto ao
SENHOR, seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com
aqueles cujo coração é totalmente dele; nisto procedeste loucamente” (2 Cr 16.9). Aliar-se a Satanás e se colocar contra os
planos de Deus é uma total falta de senso. Pois é ficar ao lado do derrotado, e
abandonar Aquele que pode nos fortalecer e dar a vitória.
As consequências de nossa desobediência são desastrosas. Os três
modos de disciplina oferecidos a Davi eram pesados: três anos de fome, três
meses de perseguição ou três dias de peste. Davi reconhece que todos eram
angustiosos (21.11-13).
Quando desobedecemos a Deus, a solução é o arrependimento que confessa
admitindo o erro e confia na misericórdia de Deus. Reconhecendo que merecemos apenas o castigo
de Deus (21.8,13,16,17).
O perdão oferecido por Deus deve ser apropriado do modo estabelecido
por Ele. O SENHOR ordenou que Davi levantasse um altar no lugar escolhido por
Deus (o mesmo local onde o SENHOR ordenara que Abrãao oferecesse Isaque e providenciou
um substituto, 2 Cr 3.1). Davi recusa receber o terreno de modo gratuito, pois
sabe que há um preço a ser pago, e o compra pelo equivalente a sete quilos e
duzentos gramas de ouro. Deus aceita o sacrifício oferecido conforme as ordens
Dele, e manifesta isso com fogo, da mesma maneira que havia enviado fogo na
inauguração do tabernáculo (Lev 9.24) e que faria quando o templo fosse
inaugurado naquele local (2 Cr 7.1). Com
esta expiação houve perdão e o castigo cessou.
Hoje o modo da expiação pelos nossos pecados é o sacrifício já
realizado por Jesus Cristo. Esta foi a maneira proposta pelo próprio Deus para
propiciação dos nossos pecados (Rom 3.24,25). Da mesma maneira que não haveria
perdão e cessação do castigo se Davi não tivesse buscado o perdão da maneira
ordenada por Deus, hoje não há perdão e salvação se não for pela fé no
sacrifício realizado por Jesus Cristo (Atos 4.12).
A resposta de Deus com fogo mostrou a Davi que aquele era o local
escolhido para ser o templo de Deus, o lugar da adoração. Séculos depois Deus
enviou seu Filho, que foi o templo de Deus entre nós (João 1.14; 2.21). Hoje
este templo é o povo de Deus, verdade manifestada quando do envio do Espírito
Santo (1 Cor 3.16).
É preciso dizer que nossos desejos podem ser usados por poderes
que estão além de nós e não são controlados por nós, mas que não estão além nem
fora do controle de Deus.
Satanás é um inimigo, mas não um rival de Deus. Ele
está debaixo do controle de Deus, o capítulo demonstra que Deus usou a suposta esperteza
de Satanás e a fraqueza de Davi para que o local do futuro templo fosse descoberto
e adquirido. Na tentativa de frustrar os planos de Deus, Satanás ajuda a Deus a
realizar este plano. Este resultado positivo não o isenta, pois sua intenção
era a de prejudicar e não a de ajudar. A ajuda não veio porque ele assim
desejou, mas por causa da soberania de Deus sobre todas as pessoas e situações,
até sobre aqueles e aquelas que tentam prejudicar Seus propósitos.
Estando Deus está no controle de tudo, vamos submeter nossos
desejos à vontade Dele. Assim, evitaremos que estes desejos sejam usados por
forças além de nós, desagradem a Deus e tragam resultados desastrosos para nós
e para aqueles que nos rodeiam.
Um comentário:
Amém!
Que assim seja, a leitura foi muito proveitosa!
Que O Senhor continue lhe abençoando e fazendo boca de sua boca p nos abençoar Pr Almir!
Postar um comentário