Sobrevivendo
com Lobos é o título de um livro, e filme de mesmo nome, que conta a
história, em sua maior parte fictícia, de uma garota judia belga, cujos pais
foram presos, na Segunda Guerra, quando ela tinha sete anos. Ela inicia uma
viagem de mais de dois mil quilômetros, da Bélgica até à Ucrânia, guiada apenas
por uma pequena bússola e movida pela determinação de encontrar os pais.
Embora a história da viagem não seja
real, reflete a realidade emocional de crianças que sobreviveram sozinhas,
passando por fome, sede, solidão abandono, infância perdida, estupros, prisão e
assassinato de pais e irmãos, enfim todas as tragédias que caracterizam uma
guerra. A autora, Misha DeFonseca, cria uma cena na qual a protagonista é
acolhida, protegida e alimentada por lobos. Daí o título do livro, que pode ser
uma alusão a outros tipos de lobos, que destroem seus semelhantes.
Literalmente um livro fabuloso que
li de uma sentada. À noite, após a leitura, minha mente foi assaltada por uma
questão recorrente: por que Deus permite sofrimento tão intenso?
Acordei ainda turbado e sem resposta. A meditação no
momento devocional clareou meus pensamentos. Percebi que há duas perspectivas
para encararmos o sofrimento.
Uma delas espera que a vida seja
sempre feliz, no mínimo com poucas e leves tribulações. Entende que, como Deus
é Criador, Soberano e Bom, Ele tem a obrigação de proteger as pessoas de todo
sofrimento intenso. Acredita também que nós merecemos sempre o que a vida tem
de bom e de melhor. Então, quando o sofrimento se apresenta, perguntamos
espantados e em pânico: por quê?
Já a outra perspectiva admite que somos pecadores e, por
isso, não merecedores de nenhuma bondade. Sabe que nossa arrogância e egoísmo
levou-nos a nos revoltarmos contra Deus e vivermos do nosso modo, indiferentes
a Ele. Por essa razão, Ele não tem nenhuma obrigação de providenciar o bem para
nós. O sofrimento é exatamente o que merecemos. Nesse caso a surpresa não seria
quando o sofrimento chega, e sim quando ele não chega. O porquê aqui é outro:
“por que, eu sendo tão pecador, Deus ainda me agracia com algumas coisas boas?”,
ou: “por que eu não sofro mais do que já estou sofrendo?”
Qual das duas perspectivas é bíblica? Isto é, qual das duas
é defendida pela Bíblia?
À luz do ensino de Jesus em Lucas 13.1-5, creio que a
segunda. No texto algumas pessoas se chegam a Jesus e falam de galileus que
foram assassinadas por Pilatos enquanto ofertavam seus sacrifícios a Deus.
Diante de um episódio assim, pode-se pensar que aqueles galileus eram tão
pecadores que mereciam isso. Ou que Deus permitiu um sofrimento injusto.
Jesus não concorda com nenhuma das duas explicações. Nem os
galileus eram mais pecadores do que os outros, nem Deus permitira um sofrimento
injusto. Jesus indica que o que havia acontecido com os galileus é algo
merecido por todos, pois todos são pecadores.
Para confirmar, Ele adiciona mais uma catástrofe, a queda
de uma torre que matou dezoito pessoas. Seus ouvintes não deveriam nem pensar
que aqueles dezoito haviam desagradado a Deus de modo maior do que os que
escaparam, nem tão pouco imaginar que o acidente causara um sofrimento injusto.
A verdade é que todos mereciam aquele sofrimento. Se uns não o receberam foi
por pura graça de Deus, que lhes concedia mais um tempo para o arrependimento.
Diante dessas reflexões, cheguei à conclusão que Deus não
tem a obrigação de nos livrar de sofrimento nenhum. Como pecadores, merecemos
mais do que o sofrimento que já experimentamos. Se mais não vem é por causa da
misericórdia de Deus. E quando recebemos o bem é a Sua graça que nos alcança,
sem nenhum mérito de nossa parte.
A pergunta correta, então, não é “por que Deus permitiu
tanto sofrimento na vida de crianças sobreviventes da guerra?”, mas, “por que
Deus cuidou dessas crianças em meio a tantos perigos, permitindo que
escapassem, enquanto tantas morreram?”.
Diante da calamidade que acontece com outros devemos nos
perguntar: por que não comigo? E entender que o bom Deus está nos oferecendo
mais uma oportunidade de arrependimento.
5 comentários:
Parabéns Pastor. Muito boa pecepção do que acontece ou deixa de acontecer em nossa vida. Não é fácil passar por sofrimento, mas se fizermos a pergunta certa a Deus, ele(o sofrimento) cumprirá o seu propósito. Para a glória e pela graça de Deus.
Deus te abençoe ricamente pastor.
Deus te abençoe ricamente pastor.
Muito bom enxergarmos os problemas dessa maneira. Deus é bondoso de mais, e mesmo em meio a tantos problemas, lutas e depressão, ele nos ensina que é gracioso, porque eu mereço coisa pior. Mas Ele me salvou, me deu algo que é incomparavelmente melhor.
Excelente.
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