As
palavras ditas por alguém na hora da morte podem expressar o cuidado com
outros, o sofrimento do moribundo, ou ainda sua expectativa pós-morte. Nas seis
horas que permaneceu vivo na cruz, Jesus falou pouco, mas suas palavras
abrangeram esses três assuntos.
Foram sete
comunicações. Três delas tratavam das necessidades de outros: um clamor ao Pai
pedindo perdão para seus ofensores, uma promessa de salvação ao criminoso
arrependido e a provisão de cuidado para sua mãe. Outras três expressavam sua
dor e missão: seu sofrimento físico, sua sensação de solidão e abandono, e sua
declaração de que a obra já estava completa. Já escrevemos sobre estas seis em postagens anteriores (Pai Perdoa-lhes; Vidas semelhantes, destinos diferentes; Na cruz a valorização da Família; Tenho Sede; Na maior solidão; Está Consumado)
A
sétima tratou de sua esperança pós-morte. Antes dela, ocorreram alguns sinais
extraordinários, como sempre acontecia quando Deus realizava um evento marcante
de Seu plano redentor (Lc 23.44-46).
Houve três
horas de trevas, que iniciaram em pleno meio-dia e terminaram às 3 horas da
tarde. O brilho do sol não apareceu. Não nos é explicado o significado deste
sinal, embora Jesus, ao ser preso, tenha mencionado que a hora do poder das
trevas havia chegado (Lc 22.53). Os profetas do Antigo Testamento também anunciaram
que haveria trevas quando o juízo de Deus se manifestasse(Jl 2.10,30,31; 3.15; Am 8.9; Sf 1.15). Na morte de Jesus
ocorreu o juízo sobre o pecado do Seu povo. Também houve tremor de terra e despedaçar de rochas (Mt 27.51). Estes
sinais demonstram a suprema importância da morte de Cristo no plano redentor de
Deus.
O segundo
sinal foi o véu do santuário ser rasgado ao meio, de alto a baixo. Este véu era
formado pelas cortinas que faziam a separação entre o Santo Lugar e o Santo dos
Santos no templo, em Jerusalém. No Santo dos Santos ficavam o propiciatório e a
arca, símbolos do trono e da presença de Deus (Ex 26.31-37; Lv 16; Hebreus
9.3-8). Apenas o sumo-sacerdote entrava ali, uma vez por ano, depois de
confessar os seus pecados e os do povo, sobre a cabeça do bode expiatório. Este
bode era sacrificado e o seu sangue aparado e levado até o propiciatório onde
era aspergido. Neste dia era efetuada a expiação, isto é, a penalidade que
perdoava os pecados do povo.
O significado
do rasgar do véu é mostrado em Hebreus 9. 11,12; 10.19-21, onde é afirmado que
a morte de Jesus nos abriu um acesso livre ao Pai. Agora, para se aproximar de
Deus, não é mais necessária intermediação humana. Outro sangue, muito mais
precioso e eficaz, foi derramado e apresentando, e este sacrifício garantiu
nosso acesso a Deus, pela fé em Jesus, em qualquer dia e hora.
Depois
de garantir nosso perdão e nosso acesso a Deus e de ter passado por todo o desgaste e sofrimento da noite sem
dormir por causa do julgamento, e de ter suportado os castigos físicos antes e
durante a crucificação, Jesus reuniu suas últimas forças e clamou em alta voz: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito.
A palavra
“entregar” foi usada em situações nas quais se oferecia uma refeição a outra
pessoa, mostrando que aquele alimento ficava à disposição da vontade do outro (Lc
9.16; 10.8; 11.6; At 16.34). Este clamor expressou que Jesus se colocava
voluntariamente à disposição de Seu Pai, para cumprir plenamente a Sua vontade
e realizar a nossa salvação. Como é dito em Isaías 53.12, Ele derramou sua alma
na morte, levando os nossos pecados para interceder por nós. Jesus já havia
dito que ninguém tiraria sua vida, mas que Ele espontaneamente a daria (Jo
10.18). Sua morte cumpria a vontade do Pai. Tudo o que deveria ser feito havia
sido feito. Nada mais faltava. Ele sabia
que realizava o sacrifício, recebendo a justa punição que nossos pecados
merecem. Por isso, deixou seu espírito ir para o Pai (Mt 27.50; Jo 19.30).
“Entregar”
também expressava a confiança em deixar algo sob os cuidados de outra pessoa
(Lc 12.48; At 14.23; 20.32). Jesus repetia as palavras do Salmo 31.5, no qual
há uma súplica por salvação. Os judeus costumavam fazer esta oração ao
anoitecer. Como o salmista clamou a Deus e confiou n’Ele no momento da
perseguição, acreditando que Deus o libertaria, Jesus confiou que o Pai o
traria de volta da morte, através da ressurreição. Demonstrou toda a Sua
confiança no Pai, deixando sua vida nas mãos d’Ele. Não havia mãos melhores a
quem confiar seu espírito. Em seu momento mais angustiante e sofrido, Jesus
manifestou confiança inabalável no cuidado providencial do Pai. Na hora da grande
tortura, Jesus ainda estava em comunhão com o Pai, confiando nele, como esteve
durante toda a sua vida.
E
o Pai honrou esta confiança, pois Jesus ressuscitou.
2 comentários:
Palavra abençoada!
Que Deus me ajude a entregar a Ele a minha vida assim também.
Palavra abençoada!
Que Deus me ajude a entregar a Ele a minha vida assim também.
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