Encontrar as causas de uma morte nem sempre é fácil e se torna mais difícil se a morte ocorreu há muito tempo, como é o caso da morte de Jesus, ocorrida há quase dois mil anos. Qual seria a causa final da Sua morte? Será que foram os atos de entrega que Ele sofreu? Vamos examinar estes atos e o seus autores.
A primeira entrega foi a que Judas fez aos sacerdotes (Lc 22.3-6). Ele é o suspeito mais imediato. É chamado de Judas Iscariotes por ser da cidade de Queriote. Era um dos doze apóstolos (Mt 10.4), desempenhava a função de tesoureiro neste grupo (Jo 13.29) e tinha um olho clínico para finanças, mas também era avaro e ganancioso. Interessado no lucro, tornou-se ladrão (Jo 12.3-6).
O Diabo aproveitou-se de sua avareza e o induziu a trair Jesus. Depois de negociar o preço, trinta moedas de prata (o preço de um escravo comum), passou a procurar a melhor ocasião para entregar Jesus sem provocar tumulto entre o povo (Mt 26.14-16). A oportunidade surgiu na Páscoa (Jo 13.1,2,21,26-30). Judas conseguiu enganar a todos, pois ninguém desconfiou dele, apenas Jesus sabia do seu intento. Participou da ceia, recebeu o bocado que Jesus lhe deu, demonstrando que era amigo de Jesus e ficou sabendo onde o grupo iria se reunir depois. Então saiu para contar aos sacerdotes e os guiou até Jesus entregando-o com um beijo (Mc 14.43-46).
Judas foi movido pelo dinheiro. Jesus havia dito que era impossível servir a Deus e ao dinheiro, Judas escolheu o dinheiro. Percebendo que não iria ganhar nada seguindo a Jesus, decidiu ganhar alguma coisa traindo-o. O que o amor ao dinheiro pode fazer! Podemos perguntar: como Judas foi capaz de fazer isto? Da mesma forma que nós fazemos hoje. Quantas vezes também traímos Jesus por dinheiro. Traímos seus ensinos quando agimos com desonestidade, não honramos nossos contratos e com esperteza enganamos as pessoas. Quantos não estão seguindo a Jesus pelo desejo de ganhar mais! Não se dedicam a Jesus por conta de preocupações financeiras! Não contribuem com a missão de Jesus por avareza. Não nos apressemos em condenar Judas, cada um de nós é um pouco de Judas, quando negamos ou desonramos a Jesus movidos por amor ao dinheiro.
Alguns pensam que Judas não poderia ser considerado culpado. Já que Jesus tinha que morrer , alguém deveria desempenhar o papel de traidor e Judas foi o escolhido. O próprio Jesus disse que isto aconteceria para que se cumprisse a Escritura (Jo 17.12; At 1.15-17,25). Mas isto não elimina culpa de Judas, pois ele foi um agente livre que a Providência resolveu usar (Mc 14.21). O próprio Judas reconheceu sua culpa (Mt 27.3-5).
Apesar de ter entregue Jesus para ser preso, Judas não matou Jesus. Inclusive ele sentiu remorso depois, talvez não esperasse que Jesus fosse condenado e morto. Isto nos leva a próxima entrega: a que o povo judeu e seus sacerdotes fizeram. Desde cedo o mundo culpou os judeus pela morte de Jesus. Deus escolhera este povo para anunciar Sua salvação ao mundo. Eles esperavam um Messias Salvador, que viria para libertá-los e restaurá-los na terra como o Reino de Deus. Jesus era um judeu e era o Messias esperado, mas o povo o rejeitou (Jo 1.1).
Os sacerdotes eram os líderes que Deus havia constituído para guiarem este povo na obediência a Ele. Com o passar do tempo eles se corromperam. Eles prenderam a Jesus quando Judas lhes entregou (Mt 25.47). Com falsas testemunhas O julgaram e condenaram (Mt 26.59,66). Já que não podiam executar a pena de morte o entregaram a Pilatos (Mt 27.1; Jo 18.31). Diante de Pilatos acusaram-no falsamente, persuadiram o povo a condená-lo, e clamaram pedindo a Sua morte (Lc 23.1,2; Mt 27.20; Lc 23.23)
Por que fizeram isto? Jesus os havia perturbado deste o início: não era um rabi formado, confraternizava-se com gente de má fama, condenava seus ensinos e tradições, chamando-os de hipócritas e para completar dizia ser igual a Deus (Mc 11.18;Lc 15.1,2;Mt 15.1-9; 23.27; Jo 8.58; 10.33). Mas o motivo real foi a inveja (Mc 15.10). Os sacerdotes tinham orgulho de sua posição e a vida de Jesus os ameaçava. Inveja é o lado inverso da moeda chamada vaidade. Ninguém que não tenha orgulho de si mesmo terá inveja dos outros (John Stott).
Não nos apressemos em condenar os judeus e seus sacerdotes, pois cada um de nós também tem traído Jesus por conta de nossa vaidade e inveja. Jesus é uma ameaça a nosso estilo de vida egoísta e orgulhoso, por isso ficamos ressentidos com a intervenção de Seus ensinos e tentamos eliminá-Lo de nossas vidas, pois queremos que Ele nos deixe viver do nosso jeito.
Jesus disse que eles foram culpados (Jo 19.11), foram considerados assassinos do Autor da vida (At 3.12-15). Mas eles não mataram Jesus, entregaram a Pilatos, e este O entregou aos soldados. Esta foi a outra entrega.
Pôncio Pilatos era um militar romano, nomeado pelo imperador Tibério como governador da Judéia. Tinha plenos poderes. Era conhecido como hábil administrador, mas também era muito cruel (Lc 13.1-3). Os soldados eram enviados do imperador para garantir seu domínio nas províncias. Eles foram os responsáveis imediatos pela morte de Jesus. Pilatos aprovou a pena de morte e os soldados O açoitaram, zombaram dele, obrigaram-No a carregar a cruz e O crucificaram (uma morte lenta e agonizante).
Por que O crucificaram? Pilatos sabia que Jesus era inocente (Lc 23.4,13-15,22). Sua mulher o avisou (Mt 27.19), mas ele não queria desagradar aos judeus que lhe haviam entregue Jesus. Tentando sair desta situação complicada ele empreendeu várias tentativas: transferiu a responsabilidade para Herodes; meias-medidas, mandou açoitar e depois soltar Jesus; tentou fazer a escolha certa com motivos errados (soltar Jesus pela escolha da multidão); e por fim protestou inocência (Lc 23.4-21; Mt 27.4). Mas no fim o clamor, o pedido, e a vontade do povo prevaleceu (Lc 23.23-25). Ele quis agradar a multidão, e entre Cristo e César, escolheu César (Mc 15.15; Jo 19.12). Ele foi movido por medo e ambição. Não queria colocar seu cargo em risco.
Quantas vezes agimos como Pilatos! Sabemos que Jesus está certo, mas também queremos agradar aos outros. Ficamos entre dois amores: o de Deus e o do mundo. Tentamos manter os dois: deixando a decisão para outros (maridos, esposa, pais, etc.); optamos por um compromisso meio termo (seguir, mas não completamente); honrá-lo com motivos errados; recusamos nos identificar com Ele, preferimos preservar nosso conceito na sociedade, nossas amizades, nosso sossego doméstico, e assim lavamos as mãos. Dentro de cada um de nós há um pouco de Pilatos, quando por covardia, medo ou ambição, não nos identificamos com Cristo.
Tanto Jesus como a Igreja o consideraram culpado (Jo 19.11; At 4.27)
De cada um destes suspeitos e dito que “entregou Jesus” . Eles foram culpados, mas nós também somos culpados. Crucificamos Jesus sempre que nos desviamos Dele (Hb 6.6), o nosso pecado foi a causa de sua morte (1 Co 15.1-3). É isso que a pintura que ilustra este artigo representa. É o quadro chamado de "A Elevação da cruz", pintado em cerca de 1633 pelo holandês Rembrandt, ele retratou a si mesmo entre aqueles que ajudaram a erguer a cruz, mostrando que suas culpas causaram a morte de Cristo. Mas nossos pecados não foram a causa final desta morte, pois se afirmarmos isso estaremos dizendo que Deus estava obrigado a nos perdoar. E Deus decidiu nos perdoar por amor, voluntariamente, porque assim Ele quis. Mas, para nos perdoar e ao mesmo a justiça ser feita, alguém tinha que pagar a culpa. E Ele decidiu entregar Seu próprio Filho para sofrer a penas que nós merecíamos.
Tudo isto aconteceu porque Deus assim planejou (At 2.23), o próprio Pai O entregou (Rm 8.32). Mas isto não é tudo: Jesus não apenas foi entregue, Ele também se entregou, deu a sua vida por nós, por amor (Jo 10.11,17,18; Gl 2.20).Quem entregou Jesus para morrer?
Não foi Judas por dinheiro,
Nem foi Pilatos por temor,
Nem foi Pilatos por temor,
Não foram os judeus por inveja,
Mas, foi o Pai, por amor. (John Murray)
Mas, foi o Pai, por amor. (John Murray)
Um comentário:
Nossa mente tão finita, muitas vezes não consegue entender a imensidão desse AMOR.Jesus sinalizou com este sacrifício, todas as maneiras de aprisionamento de nosso corpo, e de condenação para nossa ALMA!
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